"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Estrela da Tarde



Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram
Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram
Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!


Poema de José Carlos Ary dos Santos

Fotografia de Luís Filipe Maçarico

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Polícia dos Costumes


Será pornográfico este ferro forjado, executado por perigosos subversivos da época pombalina?


Em Braga, foi apreendido pela polícia dos costumes, perdão, pela autoridade de segurança pública, um livro cuja capa tem as coxas de uma mulher, intitulada A Origem do Mundo, pintada há século e meio, por Gustave Coubet, socialista, que usou a sua arte para afrontar a hipocrisia e o poder dos bem instalados, de moral duvidosa. Quão tristes, cinzentos e permissivos com o vómito são os de hoje, a começar pelo alegrete dos tachos, que não desgruda nem se define.
Neste país dos choques magalhânicos (ah o Carnaval de Torres também foi atacado, parece coincidência, não é?) de pacotilha e dos ataques mais cerrados aos direitos de quem trabalha, com uma sangria desmedida de desempregados, em cada dia que passa, nesta espécie de país, dizia, é fácil (basta vê-los emproados na TV a bicar nos professores) piedosos pais queixarem-se, no ano da graça de 2009, de atentado ao pudor por causa da capa de um livro.
Como Salazar venceu as únicas eleições, depois de morto, há alguns meses, na RTP, pode ser que face à falta de tomates de muita gente, que deixou, entre outras coisas, a Função Pública descambar perigosamente para o abismo, além de reviver as delícias dos livros da 3ª classe e um naipe de fantasmagorias, possamos estar a caminho de uma nova série mais real que televisiva, que se pode chamar "Não Contes Como Foi, Leva nos Cornos e Chama-lhe um Figo!"
Tenho pena de pertencer a um Povo amorfo, que deixa fazer tudo e de estar a pagar pela idiotice colectiva. Mas deve ser um castigo por qualquer coisa que fiz e não me lembro..

segunda-feira, fevereiro 23, 2009

Nunca Dirás


Nunca dirás a palavra.
Na poeira dos dias ficarás
a mastigar o tempo
riscando frases
hesitando o voo
ferindo este sentimento.

Gostava de ter dito
ao teu ouvido
o quanto te amava
naqueles dias de chuva
que pareciam não ter fim.

O quanto te queria
naquelas noites frias
em que aparecias
para encantar a madrugada
e depois prometias
Ternura e espanto.

Não poderei passear contigo
pelos jardins de Abril para dizer-te
como as palavras podem guardar
aromas de jasmim e alfazema.

Adeus, amor. É pequeno, o mundo
Não te verei mais neste lugar
Lá fora vai chegar a Primavera.
Acaba aqui quem fui.
A vida não fica mais
à minha espera...

Luís Filipe Maçarico 23-2-2009; 02:35

domingo, fevereiro 22, 2009

Veneza ao longe


Vai-se diluindo a tua imagem...

Entre gôndolas nupciais
que se perdem em sombrios canais
Vejo nos gestos tão cedo apagados
tulipas de ouro ardendo em rios gelados.

Nem todos os amores fazem ninho
estrelas de febre não contam história
procuro um motivo na memória
perdi-te sem conhecer o caminho.

Apenas sei desta poalha difusa
de Veneza ao longe... visão
onde as sílabas são maré suja
afogando em fogo o coração!

22-2-2009, 14:00

Luís Filipe Maçarico (poema e fotografia)

Adágio, de José Carlos Ary dos Santos


ADÁGIO

Quanto caminho andado
desde o primeiro poema
ai quanto amor amassado
com mãos de alegria e pena
ai quanto caminho andado
serena.

Quanto verso ensanguentado
quanta distância de mim
quanto amor desesperado
quanto secreto jardim
ai quanto caminho errado
sem fim.

Morro por ti mas tu não vens
dentro de mim te chamo
mas tu não estás
mas tu não vês
o que arranquei de mim
meu amor tu não és
quem amo.

Ai quanto caminho andado
sozinha dentro de mim
ai quanto caminho errado
sem fim.

Canto por ti mas tu não és
dentro de mim te choro
mas tu não estás
mas tu não vês
já te arranquei de mim
é só por te não ter
que eu morro.

Poema de José Carlos Ary dos Santos; Fotografia de Luís Filipe Maçarico

sábado, fevereiro 21, 2009

Singela Despedida


Sendo um homem de palavras, perante a derradeira viagem do amigo -poeta Fernando Pinto Ribeiro, tenho dificuldade em escrever.
Agora mesmo, esperando o funeral, sentado num banco do cemitério do Alto de São João, alinho estas palavras, com uma tristeza que precisa de recolhimento.

Fernando Pinto Ribeiro, sempre presente no lançamento de livros meus, voz activa em inúmeras sessões pelas colectividades de Lisboa, dizendo a sua poesia, com Ulisses Duarte, Julião Bernardes, J. Leitão Baptista, Rosa Dias, Jorge Rua de Carvalho, faz falta a todos os que sentiam na sua presença, uma fraternidade luminosa, a exigência e o rigor, o sorriso amigo de um príncipe, com fortes convicções na vitoriosa luta dos oprimidos, que trazia sílabas de húmus na fala terrosa e elegante, com ritmos de eloquência e beleza, entranhados nos versos e nos gestos.

Tenho pena que as palavras que me disse não estejam escritas, pois dele guardo, além dos seus poemas e da personalidade incontornável do homem brando mas convicto, a efémera flor de várias conversas que permanecem na memória. Sei que o meu poeta será eterno, circulando nas veias da poesia cantada que fala da noite, do destino e de Lisboa, que tanto amou.

Fernando Pinto Ribeiro deixou uma semeadura vibrante de versos.
Todos os que se revêem na impetuosa e emocional lira do autor de "Pensando em Ti", encontram na sua poesia, incessantemente trabalhada, um território imenso para o voo do amor e do visionarismo, que hoje foi celebrada com a presença de muitos dos seus amigos-poetas, em silêncio, com saudade.
Bem Haja Fernando, pelo esplendor do seu percurso, quer como homem, quer como poeta, tão intenso e transversal por diversas gerações, quanto o sol desta tarde em que a Mãe-Terra o recebeu.


Luís Filipe Maçarico (texto - escrito hoje à tarde às 14:15 - fotografia e recolha de poema)

PENSANDO EM TI

Fado com letra de Fernando Pinto Ribeiro, música de Jorge Fontes, cantado originalmente por António Mourão

Acordei mas não te vi,
nem sequer o teu retrato
À cabeceira, sorri
na solidão do meu quarto.

Acordei como quem chama
por alguém que se deitou
No calor da minha cama
e de noite me deixou.

Pensando em ti... adormeci...mas acordei
Reconheci... que te perdi... e então chorei
Mesmo a dormir... julgo sentir... o teu calor
E o teu carinho... p'lo nosso ninho... oh meu amor

Acordei como quem ouve
o amor que bate à porta
Fui abrir, lá fora chove,
não há ninguém, noite morta

Acordei como quem chora
por alguém que já morreu
Neste quarto aonde mora
um fantasma, que sou eu
.

Pensando em ti...

sexta-feira, fevereiro 20, 2009

Fernando Pinto Ribeiro - Quando nasce uma nova estrela no céu...



Depois de ter sabido da notícia da morte do amigo-poeta Fernando Pinto Ribeiro, a minha amiga S, teclando comigo, partilhou estas palavras:

"quando uma pessoa morre nasce uma nova estrela no céu
assim, quando olhamos o firmamento podemos sempre ver os que partiram
velando por nós
guiando a nossa vida
quando era miúda, nas noites de lua cheia falava com ela pois para mim representava a minha querida bisavó
agora que sou mais crescida olho o céu em busca de respostas, para partilhar alegrias
não rezo a Deus
falo com o meu avô para que interceda junto de Deus por mim
soa a paganismo
mas alivia-me a alma..."

Biografia do Poeta (retirada com a devida vénia do blogue "Porosidade Etérea")
http://porosidade-eterea.blogspot.com/2009/02/fernando-pinto-ribeiro-1928-2009.html


O dia começou triste. Faleceu o poeta Fernando Pinto Ribeiro.
Natural da Guarda, Fernando Pinto Ribeiro nasceu em 1928 e escreveu aos catorze anos o seu primeiro soneto a que deu o título “Soneto dos 15 Anos”.
Colaborou nas revistas Flama, Panorama, Páginas Literárias, e em jornais como o Diário de Notícias, o Diário Ilustrado e em vários jornais regionais, tendo também sido publicados no Brasil alguns poemas seus.
Dirigiu, com Eduíno de Jesus e J. M. Pereira Miguel, a Revista de Letras e Artes “Contravento” (1968) com concepção gráfica de Artur Bual, da qual só se editaram quatro números, devido à censura.
Organizou com Alba de Castro, entre 1967 e 1983, as Pastinhas de Poesia, publicadas anualmente na Queima das Fitas da Universidade de Coimbra. Participou em múltiplas colectâneas e organizou algumas, como as da Tertúlia Rio de Prata.
Pertenceu aos corpos sociais da Sociedade da Língua Portuguesa, foi sócio da Associação Portuguesa de Escritores, cooperador da Sociedade Portuguesa de Autores e sócio da Colectividade Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”.
Fascinado pelas noites de fado lisboeta começou a escrever alguns fados que desde logo fizeram sucesso (inicialmente, com o pesudónimo Sérgio Valentino). Escreveu letras para: Ada de Castro, Alexandra Cruz, Anita Guerreiro, António Mourão, António Laborinho António Passão, António Severino, Arlindo de Carvalho, Artur Garcia, Beatriz da Conceição, Branco de Oliveira, Carlota Fortes, Chico Pessoa, Estela Alves, Fernando Forte, Francisco Martinho, Humberto de Castro, Julieta Reis, Sara Reis, Lenita Gentil, Lídia Ribeiro, Maria Jô-Jô, Pedro Lisboa, Lurdes Andrade, Natércia Maria, Pedro Moutinho, Salete Tavares, Simone de Oliveira, Toni de Almeida, Tonicha, Tristão da Silva, Xico Madureira, entre muitos outros.
Fernando Pinto Ribeiro era um homem de profundo saber, de grande afectividade e que prezava muito a amizade.
Procurava encontrar a perfeição, tentando que cada poema tivesse uma quadratura musicável, com rima e métrica. Foi assim que os seus poemas passaram a ser musicados e cantados.
«A poesia é para mim um acto natural, pelo que sou imediatamente compensado pelo simples acto de escrever poemas e de os rever continuamente. Vejo aliás na revisão permanente dos meus poemas uma espécie de volúpia, uma busca incessante pela perfeição, mas ciente de que nunca a atingirei».
Hoje despedimo-nos de um poeta a quem não foi feita justiça. Um poeta que, pela sua humildade, nunca procurou a ribalta e por isso não lhe chegou a ser reconhecido o seu grande valor. Um poeta perfeccionista que fazia poesia com amor.
O corpo do poeta irá hoje para a Basílica da Estrela e o funeral realizar-se-á amanhã pelas 14 horas.
Até sempre, Fernando!

Alguns Poemas

LISBOA VAI ! (MARCHA)
Letra de: Fernando Pinto Ribeiro

A bailar pela Avenida,

Num balançar de canoa,

vai de varina vestida

Rainha Dona Lisboa


Vai abraçar do Castelo,

Plo Tejo nos mares deitado,

O marinheiro mais belo

Das caravelas do Fado


Vai aonde a alma voa

Desde os mundos do passado

Até onde o mar entoa

Teu nome por todo o lado


Refrão

Vai, vai, Lisboa,

Santo Antoninho te guia

Da Estrela e da Madragoa

à Graça e à Mouraria.

Vai, numa boa,

Vai na vida ser vadia,

Vai, até que o andar te doa,

Rumo à Praça da Alegria!

Vai nos pregões a cantar

Camões, a Amália, Pessoa…

Vai na marcha popular

Rainha Dona Lisboa


(*)


Vai de Alfama e do Dafundo

a São Bento e a Belém

E sobe à Rua do Mundo

Do Poço do Borratém …


Vai sair na Boa-Hora,

Com foguetes e balões,

A São Vicente de Fora,

de dentro dos corações.



Mão Aberta

A imolar perguntas, degolar respostas
que a razão venera num altar de aborto,
sepultei nas vagas, despenhando encostas,
a torre nirvana, com o ídolo morto

como quem naufraga sobre as próprias costas
e o corpo cavalga contra o rumo torto,
hasteei nas trevas, já não de mãos postas,
o punho, em archote e a prumo, no porto

a escavar na terra os poros do povo
de onde irrompem chamas delirantes de água,
mato a velha sede renasço-a de novo:

lavado em suores da mais negra mágoa,
a pulso me arvoro – e esta mão que movo
reabro à semente noutras mãos afago-a.



Cilício

amar
sem loucura nem pecado.
beijar com as asas
soerguidas
num voo orientado
através de trincheiras sucessivas.
não mais ficar parado
na curva do prazer
(hão-de explodir um dia em vão as feridas
do laço em que te abraço a Lúcifer).
tenha o desejo fugido à nostalgia
da amarra no cais ultrapassado
e viva nas marés do dia-a-dia
rendido
à viril filosofia
da onda que vai vem contra o rochedo.
guardar
a seiva do segredo
e o pólen da pele
nos lábios túmidos
hoje e sempre
fiel
ao beijo heróico
mortal e permanente
em que te aguardo
em que me encontre
frontal
total
e eternamente.

Fernando Pinto Ribeiro

ver também no blogue capeia raiana esta entrevista:
http://capeiaarraiana.wordpress.com/2008/03/27/a-fala-com%E2%80%A6-fernando-pinto-ribeiro/

Luís Filipe Maçarico (recolha de textos e fotografia do anoitecer no Pulo do Lobo) S. (texto inicial). Agradece-se ainda a divulgação por Inês Ramos da fotografia do poeta, que com a devida vénia fomos buscar ao seu blogue "Porosidade Etérea".

Filigrana


Quero dizer-te
que nas árvores
dos pomares
cresceu
uma frágil
filigrana,
efémera
como as palavras
que não dizes...

Luís Filipe Maçarico (fotografia e poema)

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

Na pegada da Neblina




Quando penso em ti
mergulho os olhos
no Tejo e imagino
que estás ao meu lado
como na primeira noite
dizendo o que não esqueço.

Quando penso em ti
lamento que não venhas
para navegares comigo
pelos rios do amor
com o mel dos beijos
na pegada da neblina.

Luís Filipe Maçarico (fotografia e poema)

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Água do Sonho


Desta água bebo,-
Purifica meu sangue
e ajuda-me a voar!

Desta água bebo:
Água de uns olhos
que cativo me fizeram
e Camões abrigou.

Desta água bebo,
Porque é do sonho
que me alimento
Por isso me reinvento.
E abro as asas
para cantar.

Luís Filipe Maçarico (poema e fotografia)

domingo, fevereiro 15, 2009

Rasto


Tudo em redor floresce
Porém, a voz acesa

e
v
a
p
o
r
o
u
-
s
e

As sílabas ternas são
árvores secas e os
gestos de lua gelaram
deixando o silêncio
em tudo.

O sol esmorece neste fim
de tarde.

Apenas o rasto ténue dessas
palavras meigas, que ficaram
perdidas na pegada
das l-o-n-g-a-s
noites de Inverno
queima as veias
para fazer o poema.

E a sede...

15-2-2009
Luís Filipe Maçarico (poema e fotografia)

sexta-feira, fevereiro 13, 2009

Voz do Coração



Durante algum tempo o coração voou.
Por vezes havia a benção da voz limpa
Abrindo as portas ao paraíso...
Os dias e as noites agora são muito longos...

LFM (fotografias e palavras)
13-2-2009 13:15

quarta-feira, fevereiro 11, 2009

Tarde Azul


As palavras chegam do Mar,
como gaivotas embriagadas de sol.
São beijos de luz aquecendo
a alma na tarde azul.
Mergulhado nos ruídos da cidade,
arrepio-me com essa música
de longe que chega com o sabor
da saudade. Gaivotas, dizia,
enluaradas. Flores de amendoeira
estremecendo na brisa de Fevereiro.

Luís Filipe Maçarico
11-2-2009, 15:45

terça-feira, fevereiro 10, 2009

Caderno de Versos para um Coração que está Longe


Recolho numa novela esta frase: "Morre-se por amar de menos e por amar demais..."
Escancarei o meu caderno de versos, para que um coração que está longe leia e reconsidere. E saiba que escrevi para a sua alma voltar. Continuo a ser meiguinho e a merecer o seu sorriso. Com esperança o faço, como quem diz: Meu amor, não fujas.
Aguardo a mensagem que pode devolver-me a vida suspensa por uma palavra sua. Tão necessária quanto o oxigénio, o pão, o sol, o mar, a noite...


Espero um veleiro
de sol para poder
navegar na pele
de Junho com o nome
dos sonhos nas veias
e o sabor das cerejas
na língua.

26-1-2009 22:17

Faz-me falta o paraíso
dos teus lábios o jardim
das tuas palavras o mel
do teu olhar para apaziguar
o fogo deste desejo.

2-2-2009 12:45

A tua ausência
dói como a cegonha
que não voltou ao ninho,
Melro emudecido,
rio seco
antes da foz...

6-2-2009

Em teu rosto
acorda a alegria
nos teus dedos
o corpo arde
quero adormecer
nesse sorriso
sensual,
lua dos sonhos.

7-2-2009 15:30

Essas dunas
onde te queria
já foram minhas
na efémera tarde
de espuma e lume.
A memória dos dias
embala as frágeis flores
de areia nesse espaço
onde te sonho.
Essas dunas...

7-2-2009 10:55

Luís Filipe Maçarico

sábado, fevereiro 07, 2009

O Furúnculo




As imagens são da Vila-Museu de Mértola, onde era suposto construir-se em taipa, respeitando volumetrias e materiais.
Conheço esta terra desde a década de oitenta do século XX , quando o cometa Halley andou pelos céus e habituei-me a encontrar nas suas ruas a beleza genuína dum território singular, que me fez voltar sempre.
Cantei-a em verso e é cenário para os melhores sonhos da vida.
No entanto, recentemente, deparei-me com um cubo nascente de cimento e tijolo, que definirei como furúnculo num corpo são. Para folclorizar o sítio, os inventores desta forma de construir, colocaram um batente marroquino.
Como perguntar não ofende e amar uma terra assim não é pecado, deixo uma questão a quem de direito: Que património se pretende promover? O tradicional ou esta inovação? Já é permitido fazer de qualquer maneira?
Luís Filipe Maçarico (recolha fotográfica e texto)

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Aula na Mesquita e no Bairro Islâmico de Mértola















A aula de sábado do professor Santiago Macias, que começou no Museu Islâmico de Mértola, prosseguiu na Mesquita, terminando no Bairro Islâmico.
Observámos as escavações que continuam a desenvolver-se na mesquita e em redor do castelo.
Soubemos no local como era habitar Mértola no tempo do Al-Andalus.
Na véspera, as aulas desenrolaram-se sob a batuta do professor Luís Filipe Oliveira, com a apresentação dos últimos trabalhos por parte de cinco colegas, todas mulheres: 3 professoras, uma arqueóloga e uma técnica superiora de turismo da Câmara Municipal de Mértola.
Noite dentro, bebi um gin no Lancelot, na companhia dos meus colegas... O pior foi acordar e estar a horas no Campo Arqueológico...
Este curso foi uma das melhores decisões da minha vida, pelo que tenho aprendido, pelo convívio com professores que são grandes pensadores e pela fraternidade com colegas que deixam saudades quando regressamos a casa.
Este fim de semana a chuva perseguiu-nos na ida e no regresso. Muita. O Baixo Alentejo parece um poema de Camões. "Verdes são os campos..."
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

domingo, fevereiro 01, 2009

Museu Islâmico de Mértola
















Este sábado, o professor Santiago Macias apresentou aos alunos do Mestrado "Portugal Islâmico e o Mediterrâneo", o Museu Islâmico de Mértola. Com alucidez e o arrebatamento que reconhecemos a Cláudio Torres, ouvimo-lo uma vez dizer que quem pretenda conhecer o que foi o Al-Andalus neste território, não precisa de ir às Bibliotecas do Cairo, mas a Mértola, a este Museu.
Desde a concepção do espaço à mostra de objectos que são magníficos tesouros do património português, descobertos nas escavações de três décadas de trabalho entusiástico, que acrescentaram conhecimento à Comunidade, foi muito bom fazer esta viagem, através de uma aula inesquecível.

Visitei várias vezes este Museu, mas nunca tinha tido a possibilidade de o desvendar pela experiência de um dos protagonistas, que o idealizaram e concretizaram.

As fotografias são apenas um ténue aliciante para, quando se embrenharem nas ruelas antigas de Mértola, não perderem a magia da História, através das memórias que cada utensílio evoca.

Texto e fotografias de Luís Filipe Maçarico