Eugénio de Andrade nasceu no dia 19 de Janeiro. Conheci-o nos livros, primeiro. Depois, através da Feira do Livro, falei com ele, ofereci-lhe versos...
Retribuiu-me enviando-me alguns inéditos, autografou alguns livros que me chegaram pelo correio.
Acompanhei-o pelas ruas de Lisboa, rua do Salitre, Tipografia Império, dos seus primeiros poemas publicados em livro (também Pessoa ali editara a "Mensagem"), Rua de São Marçal onde ia visitar uma velha tia, Dona Estefânia...a estátua de Cesário "Já viu como este país maltrata os poetas?"
Estive ao seu lado, porque me chamou no meio da multidão que o aplaudia, na sua terra natal, durante uma homenagem da Câmara Municipal do Fundão, como meses antes percorrera essa Póvoa de Atalaia, com ele a servir de cicerone e Dario Gonçalves fotografando os passos, os gestos, o olhar, o silêncio, oliveiras e as velhas de preto que lhe traziam pães daqueles que ainda sabiam a infância...
Não gosto de falar do dia em que aqueles que estimei partiram, gosto de lembrá-los quando abriram os olhos para este mundo.
Durante anos o meu poeta trocou correspondência, critiquei-o, presenteei-o, foi sempre gentil, amigo, discreto.
Hoje recordo-o com este segundo poema de "Branco no Branco", um dos livros que mais me tem acompanhado:
"É um lugar ao sul, um lugar onde
a cal
amotinada desafia o olhar.
Onde viveste. Onde às vezes no sono
vives ainda. O nome prenhe de água
escorre-te da boca.
Por caminhos de cabras descias
à praia, o mar batia
naquelas pedras, nestas sílabas.
Os olhos perdiam-se afogados
no clarão
do último ou do primeiro dia.
Era a perfeição."
Bom dia, Eugénio! Os seus poemas continuam a comover-me...
Texto e foto (Jerba) de Luís Filipe Maçarico