Ao fim da tarde, a notícia surgiu brutal. A Dona Gui tinha-nos deixado.
Entre o trabalho e o regresso a casa, lembrei-me de momentos felizes partilhados, primeiro ao lado de Artur, depois, naquela inesquecível visita a Madrid para ver as exposições da ARCO, quando ele já partira para outro lugar, que espero, seja melhor...
Quando as suas cinzas descerem à terra, estarei em Coimbra, representando a Associação Aldraba na celebração do centenário do nascimento de Adeodato Barreto.
Mas o coração ficou naqueles dias, em que a Amadora era uma aldeia e o atelier, as tascas, os cafés, belos locais de tertúlia. Pensar nisso dói.
São três da madrugada e o frio é mais frio, ao sentir que fiquei mais vazio com esta partida. Tenho apenas lágrimas e palavras para lhe dar o que é muito pouco para agradecer a grandeza de carácter, a elegância dos seus gestos.
Disse o filósofo que a mesma água não passa duas vezes debaixo de uma ponte.
Na minha memória, porém, a Guilhermina continuará a falar de como era o Artur e o vosso tempo de namoro. A poesia da juventude, longe dos jornalistas que anseiam intrigas para a capa de revista.
Não estarei no cemitério. Desculpe, mas os cemitérios não me restituem os sorrisos, as palavras cintilantes, os gestos ternurentos de quem já não tenho. E desta vez não há o álibi da multidão que inundou o caixão de Álvaro Cunhal para chorar anónimo.
Você vai comigo, agora. Estará comigo em Alpedrinha, no Natal. Viverá sempre nas palavras, como o Artur. Ainda no domingo passado, ao apresentar um livro recordei-o. Porque os meus mortos não morrem e você também era uma parte de mim.
À excepção de uma amiga, ninguém me falou desta sua viagem.
Falarei de si às árvores. Na solidão do entardecer.
Escrevi um dia que "Não lamento nada/Aprendi a voar!"
Todavia, seria ingrato se não dissesse "Bem Haja", por toda a gentileza com que me brindou enquanto a vida nos deixou respirar alegria.
Espero tê-la por perto, quando a minha hora chegar. Será muito bom poder voltar a ver o seu sorriso, depois de tanto cansaço e desilusão. Este desencanto que mata dia a dia, do caos em todo o lado e dentro de cada um.
Falarei de si às árvores!
Obrigado por tudo, amiga!
(fotografia de LFM-Alpedrinha)
Entre o trabalho e o regresso a casa, lembrei-me de momentos felizes partilhados, primeiro ao lado de Artur, depois, naquela inesquecível visita a Madrid para ver as exposições da ARCO, quando ele já partira para outro lugar, que espero, seja melhor...
Quando as suas cinzas descerem à terra, estarei em Coimbra, representando a Associação Aldraba na celebração do centenário do nascimento de Adeodato Barreto.
Mas o coração ficou naqueles dias, em que a Amadora era uma aldeia e o atelier, as tascas, os cafés, belos locais de tertúlia. Pensar nisso dói.
São três da madrugada e o frio é mais frio, ao sentir que fiquei mais vazio com esta partida. Tenho apenas lágrimas e palavras para lhe dar o que é muito pouco para agradecer a grandeza de carácter, a elegância dos seus gestos.
Disse o filósofo que a mesma água não passa duas vezes debaixo de uma ponte.
Na minha memória, porém, a Guilhermina continuará a falar de como era o Artur e o vosso tempo de namoro. A poesia da juventude, longe dos jornalistas que anseiam intrigas para a capa de revista.
Não estarei no cemitério. Desculpe, mas os cemitérios não me restituem os sorrisos, as palavras cintilantes, os gestos ternurentos de quem já não tenho. E desta vez não há o álibi da multidão que inundou o caixão de Álvaro Cunhal para chorar anónimo.
Você vai comigo, agora. Estará comigo em Alpedrinha, no Natal. Viverá sempre nas palavras, como o Artur. Ainda no domingo passado, ao apresentar um livro recordei-o. Porque os meus mortos não morrem e você também era uma parte de mim.
À excepção de uma amiga, ninguém me falou desta sua viagem.
Falarei de si às árvores. Na solidão do entardecer.
Escrevi um dia que "Não lamento nada/Aprendi a voar!"
Todavia, seria ingrato se não dissesse "Bem Haja", por toda a gentileza com que me brindou enquanto a vida nos deixou respirar alegria.
Espero tê-la por perto, quando a minha hora chegar. Será muito bom poder voltar a ver o seu sorriso, depois de tanto cansaço e desilusão. Este desencanto que mata dia a dia, do caos em todo o lado e dentro de cada um.
Falarei de si às árvores!
Obrigado por tudo, amiga!
(fotografia de LFM-Alpedrinha)
2 comentários:
Luis, este texto está belíssimo e penso que é o melhor que podes oferecer neste momento á D. Guilhermina.
Recordo-a também quando estivémos em Madrid a percorrer connosco os salões da Arco e depois cansadissimos sentámo-nos numa esplanada a petiscar e a beber um sumo. Recordo-a com enorme delicadeza e simpatia. Ficará desta forma na minha memória.
ANA
Um beijo Luis...sempre Tu. imenso e terno.
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