"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, agosto 16, 2020

16 Anos de Águas do Sul

 



No início deste mês o blogue "Águas do Sul" fez dezasseis anos. Discretamente.  

Este ano, a Poesia e a divulgação do que é bom desfrutar (livros, lugares do esplendor do património) preencheu os artigos que foram sendo publicados.

O compromisso de continuar a insistir nos valores que têm escala humana, mantém-se. 

Continuo a alimentar este espaço de comunicação, que a existência de uma página no Facebook amplia. Contudo, a atenção que essa página me merece dificulta-me para escrever no "Águas do Sul". O equilíbrio entre as duas actividades é tentado, mas como aconteceu este ano, a celebração desta década e meia de reportagens e tentames literários ainda que sempre a tempo, está atrasada.

Se a vida me proporcionar saúde, energia e criatividade, vamos voltar a encontrar-nos de novo, com a sensibilidade e a pertinência que já me habituei a partilhar. Espero não vos desiludir. Bem hajam pela vossa companhia!

Luís Filipe Maçarico

terça-feira, agosto 11, 2020

A SINFONIA DO MELRO, LIVRO DE HAIKUS DE EDUARDO RAMOS COM ILUSTRAÇÔES DE JANICA

 
Depois de ler as 36 páginas de "A Sinfonia do Melro", de Eduardo Ramos (haikus) e Janica (ilustrações), maravilha e gratidão são duas palavras que ficam aquém da fantástica magia que este livro partilha. Um livro que enche a alma de luz e cor.

O sol, o mar, o azul, a Natureza, os melros, as borboletas, as gaivotas, as rosas, o jasmim e outras flores inundam de aromas e sonho a profunda palpitação de paz que este tesouro suscita.

Plenitude dos haikus e excelência das ilustrações.  Lê-se de uma assentada, arrebatadamente. Sentimos a serenidade e cintilação dos versos escritos num tempo estranho.

Eduardo Ramos, músico prodigioso que nos seus concertos privilegia o universo de ancestrais tradições, recolhidas no imaginário cristão, árabe e sefardita, surpreende-nos agora com estes inspirados haikus.

Os interessados na obra escrita e cantada (vários discos) deverão solicitar directamente ao autor através do TLM 965034764.

Parabéns, Amigos Eduardo e Janica. 

Para os meus leitores, uma selecção dos haikus deste livro:

"Não deixes o ano/ Ser o teu amo/Cavalga no tempo" p.7

"Na infinita quietude/ O som terno/ Do alaúde" p. 14

"O azul do céu é lindo/ O azul do mar é belo./ AS gaivotas sabem-no" p. 26

"Uma borboleta poisou/ No lago tranquilo/ Mas as águas agitaram-se" p. 33

"Que a humildade e a paciência/ Sejam sempre/ A minha urgência". p. 36

Luís Filipe Maçarico

domingo, agosto 09, 2020

REGRESSO À NAZARÉ

Tal como em Alcobaça, viajei com os Amigos Fernando e Rita até à Nazaré, outro concelho onde nunca mais tinha ido, desde os meus 12 anos, numa excursão da Escola.
A lenda de D. Fuas Roupinho, que terá recebido uma aparição protectora que impediu o caçador e o seu cavalo de se despenharem num abismo, é a grande marca histórica desta terra.
Com uma ermida erigida no local onde terá sucedido o milagre, a estância balnear tem um santuário que apresentou, conjuntamente com o culto à Virgem da Nazaré do Estado do Pará, uma candidatura a Património Imaterial da Humanidade.
A juntar-se à tradição piscatória e ao aluguer de casas para as férias dos veraneantes, ainda hoje anunciadas por mulheres que ostentam tabuletas alusivas, a onda gigantesca que trouxe outros peregrinos integra - através da visita ao forte de São Miguel Arcanjo, onde se exibem duas exposições -  uma de pranchas e outra com fotos do canhão (onda) da Nazaré, a nova atracção turística.
Havia centenas de visitantes que acorreram ao forte onde se situa um farol e na praia, o formigueiro de gente impressionava.
Não é por acaso que a região do Centro tem tido taxas de ocupação elevadas. Portugueses e espanhóis vieram dar vida aos lugares mágicos e históricos da cidade e valorizar o que de bom existe e se faz em Portugal.
LFM (texto e fotografias)


sábado, agosto 08, 2020

REGRESSO A ALCOBAÇA

 


Desde os tempos da Escola Preparatória Francisco Arruda que não visitava Alcobaça. Decorridas seis décadas voltei ao lugar, que encerra tanta simbologia, memória, Arte e História.

Ou seja: desta vez e graças aos Amigos Fernando Duarte e Rita Fernandes, fiquei a conhecer com mais profundidade esta jóia da arquitectura religiosa e do património de Portugal, tendo fruído momentos maravilhosos neste território monumental da Estremadura.

Fundado por D. Afonso Henriques, em 8 de Abril de 1153, é um dos maiores edifícios da Ordem de Cister, tendo começado a ser construído em 1178.

Integra a lista do Património Mundial da UNESCO desde Dezembro de 1989, tendo por base alguns critérios, entre outros, como: a grandeza das suas dimensões, pureza e luminosidade arquitectónicas, beleza do material, rigor na execução, obra-prima da arte gótica cisterciense, túmulos de D. Pedro e de D. Inês, consideradas das mais belas esculturas funerárias góticas.

Vale a pena neste Verão visitar o Mosteiro de Alcobaça e almoçar um bom frango na púcara ou sardinhada, como fizemos, com bastante agrado, pagando pouco, num dos restaurantes ali perto.

Após o tempo da visita e da refeição escutámos com enorme satisfação uma trabalhadora da restauração local a elogiar a atitude dos portugueses que ainda o podem fazer, escolhendo terras como aquela para ajudar na recuperação económica dos lugares.

Atitude bem diferente da lamúria que se escuta noutros lugares que lamentam a falta de estrangeiros, principalmente ingleses, pois afirmaram-se durante anos contra os naturais, alicerçando a sua actividade turística na subserviência, que era visível até nas ementas que relegavam a língua portuguesa para lugar secundário...

Luís Filipe Maçarico (Texto, recolha documental e fotografias)

sexta-feira, agosto 07, 2020

TRADIÇÃO DA ARTE XÁVEGA RESISTE NA COSTA DA CAPARICA


A Arte Xávega, outrora pujante na costa portuguesa, persiste ainda em praias como Costa da Caparica e Fonte da Telha, Nazaré, Vieira de Leiria, Vagueira, Torreira, Espinho, entre outras. Trata-se de uma pesca artesanal, realizada com rede de cerco. O longo cabo culmina num saco de rede em forma cúbica designado xalavar. Longe do litoral, uma embarcação coloca a rede no mar, sendo esta depois puxada por tractores e força braçal.

O termo xávega tem origem árabe (xábaka), tendo esta arte sido desenvolvida no sul de Portugal.

Na década de 80, com o amigo Luís Castanheira, - que me deu a conhecer dunas repletas de camarinhas, umas bagas maravilhosas que as peixeiras vendiam nas praias de Aveiro, - e  Cristina Pombinho com quem falei há poucos dias acerca das memórias fotográficas que guardámos, observei as redes a serem puxadas por juntas de bois e tracção manual, na praia da Torreira (Murtosa). Os barcos utilizados na zona vareira tinham a forma de crescente da lua, diferenciando-se dos utilizados no sul, que tinham menos capacidade de carga, embora por todo o lado se praticasse a pesca conhecida por xávega.

Em tempos numa ida a Faro, jantei no restaurante Xalavar, inspirado nas redes da arte xávega, com o presidente da direcção da Aldraba, José Alberto Franco e a associada (do barrocal algarvio) Sónia Tomé, que nos deu a conhecer aquele mítico lugar, onde se evocavam cantores de Abril, ligados ao património popular.

Recentemente nas praias do concelho de Almada, é recorrente ao fim da tarde, o barco ser levado ao mar por um tractor que depois o traz para o areal, usando os pescadores dois tractores para puxarem a rede. No início de 2017 a arte xávega passou a fazer parte do Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, por iniciativa do executivo Municipal, liderado por Joaquim Judas. Esta técnica de pesca, terá sido trazida para a região por comunidades piscatórias de Ílhavo e Olhão que povoaram o território da Caparica.

Segundo um artigo do "Público" de 25-3-2016, assinado por Sara Dias Oliveira, terão existido em Ovar, nos finais do século XIX 7000 pescadores nas companhas da arte xávega. O município terá apresentado candidatura idêntica à referida anteriormente.

Nos anos 60, Paulo Rocha, um dos realizadores do novo cinema português filmou este tipo de pesca no filme "Mudar de Vida".

Luís Filipe Maçarico (recolha, texto e fotografias - na Costa da Caparica)

segunda-feira, agosto 03, 2020

GRÂOZINHO DE PUREZA


hei-de partir em paz
por deixar este mundo
ensandecido onde tro pe ço
em barreiras
que ensombram
o encanto dos dias

Podíamos ser melhores?
Talvez
mas inventamos os infernos
que consomem as a s a s

Porém, por rejeitar
a tristeza
juro que hei-de
morrer com um grãozinho
de pureza.

Luís Filipe Maçarico (poema) Jorge Cabral (fotografia)