"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, agosto 07, 2020

TRADIÇÃO DA ARTE XÁVEGA RESISTE NA COSTA DA CAPARICA


A Arte Xávega, outrora pujante na costa portuguesa, persiste ainda em praias como Costa da Caparica e Fonte da Telha, Nazaré, Vieira de Leiria, Vagueira, Torreira, Espinho, entre outras. Trata-se de uma pesca artesanal, realizada com rede de cerco. O longo cabo culmina num saco de rede em forma cúbica designado xalavar. Longe do litoral, uma embarcação coloca a rede no mar, sendo esta depois puxada por tractores e força braçal.

O termo xávega tem origem árabe (xábaka), tendo esta arte sido desenvolvida no sul de Portugal.

Na década de 80, com o amigo Luís Castanheira, - que me deu a conhecer dunas repletas de camarinhas, umas bagas maravilhosas que as peixeiras vendiam nas praias de Aveiro, - e  Cristina Pombinho com quem falei há poucos dias acerca das memórias fotográficas que guardámos, observei as redes a serem puxadas por juntas de bois e tracção manual, na praia da Torreira (Murtosa). Os barcos utilizados na zona vareira tinham a forma de crescente da lua, diferenciando-se dos utilizados no sul, que tinham menos capacidade de carga, embora por todo o lado se praticasse a pesca conhecida por xávega.

Em tempos numa ida a Faro, jantei no restaurante Xalavar, inspirado nas redes da arte xávega, com o presidente da direcção da Aldraba, José Alberto Franco e a associada (do barrocal algarvio) Sónia Tomé, que nos deu a conhecer aquele mítico lugar, onde se evocavam cantores de Abril, ligados ao património popular.

Recentemente nas praias do concelho de Almada, é recorrente ao fim da tarde, o barco ser levado ao mar por um tractor que depois o traz para o areal, usando os pescadores dois tractores para puxarem a rede. No início de 2017 a arte xávega passou a fazer parte do Inventário Nacional do Património Cultural Imaterial, por iniciativa do executivo Municipal, liderado por Joaquim Judas. Esta técnica de pesca, terá sido trazida para a região por comunidades piscatórias de Ílhavo e Olhão que povoaram o território da Caparica.

Segundo um artigo do "Público" de 25-3-2016, assinado por Sara Dias Oliveira, terão existido em Ovar, nos finais do século XIX 7000 pescadores nas companhas da arte xávega. O município terá apresentado candidatura idêntica à referida anteriormente.

Nos anos 60, Paulo Rocha, um dos realizadores do novo cinema português filmou este tipo de pesca no filme "Mudar de Vida".

Luís Filipe Maçarico (recolha, texto e fotografias - na Costa da Caparica)

4 comentários:

Unknown disse...

Excelente, Luís. E obrigado pela memória do nosso jantar em Faro, na noite da apresentação do Caderno Temático n°1 na Biblioteca Municipal

Unknown disse...

Excelente, Luís. E obrigado pela memória do nosso jantar em Faro, na noite da apresentação do Caderno Temático n°1 na Biblioteca Municipal

Unknown disse...

Curioso!
De repente lembrei-me da ilha de Faro, onde passava 3 meses na época de Verão ajudar a puxar a rede, com 8 anos e receber eu e a minha irmã, 3 anos mais velha, peixe fresco que levávamos para o almoço que nos dada os pescadores.
A Praia de Faro está a ser "engolida" pelo mar se a mão humana não parar
Obrigado

Laura Garcez disse...

Interessante artigo. Em miúda presenciei de perto esta faina, pois ia todos os anos de férias para a Praia de Mira onde, na época (década de 1960), eram utilizadas juntas de bois em vez do tractor. Contudo, e pelo que pude investigar, desde as praias do distrito de Leiria até Aveiro, as embarcações possuem um proa característica — alta e pontiaguda. Pela Praia de Mira (distrito de Coimbra) também andaram os mouros e certamente pelos outros lugares, já que, como é sabido, todo o território de Portugal foi ocupado pelos muçulmanos.
Lamentávelmente não possuo nenhuma foto dessa época.