"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, abril 22, 2013

Admirável Cláudio Torres





Sábado 20 de Abril de 2013, em Mértola, assistimos à intervenção final de Cláudio Torres, culminando a Homenagem, que a Faculdade de Letras, o Campo Arqueológico e a Associação de Defesa do Património de Mértola organizaram. 
Num tempo em que a rua protesta, mas os académicos medem as palavras, para não terem de enfrentar consequências, que ponham em causa o status, Cláudio Torres não calou o incómodo que sente.
Nos anos 70 o Professor instalou-se numa vila apagada, do interior, para fazer arqueologia, mas também com o objectivo de colocar aquela terra no mapa, com todo um Saber descoberto, e assim proporcionar a populações abandonadas, uma melhor qualidade de vida.
Disse o investigador, decorridas décadas desse trabalho pioneiro, que deixou sementes por todo o lado: 
"O interior desertifica-se, porque a Escola diz aos jovens que os pais não têm cultura, que são analfabetos, burros e alicia-os a irem para a cidade, porque lá é que está o saber e a importância. Abandona-se a terra, a essência da vida..."
Oxalá estas palavras se espalhem e cheguem aos que decidem, não apenas aos ministros, mas aos eruditos que escolhem os textos dos manuais e até aos professores universitários, que leccionam matérias, sem aventurarem ensinar saberes, que são património e identidade, em vez de papaguearem e obrigar a vomitar os textinhos redutores.

"É pela comunicação e não pela espadeirada , a implementação do Islão, entrando com produtos e ideias. Seria estúpido que um comerciante para vender um produto matasse o cliente" defendeu Cláudio Torres, durante a sessão realizada na sexta feira 19, no Anfiteatro 1 da FLUL, prosseguindo: "No sul da Tunísia, os povoados (Ksur) estão abandonados, tudo emigrou... deixando restos dessa fantástica civilização, parecidas com o nosso sul. Barragens com 3-4 metros de altura, para segurar a terra arável, que é arrastada com enxurradas. Essa terra alimenta uma oliveira. para alimentar a comunidade com 3-4 azeitonas. É uma estrutura frágil a desaparecer. Isto é a mesma cultura, faz parte do nosso passado e do nosso futuro!" 

Cláudio Torres, como disse Santiago Macias, na Faculdade de Letras, ensinou de outra forma, contrariando o estabelecido. "Não era alguém que desse muita matéria ou permitisse tirar muitos apontamentos. Não havia testes nem exames, mas fichas de leitura, trabalhos individuais e colectivos. No fundo, o que ele queria era que encontrássemos caminhos, o que ele nos dava foi o sentido de liberdade, enquanto investigadores e cidadãos." Fez os alunos procurarem métodos, deu-lhes pistas
No tempo actual quantos professores actuam assim? 
Não deve ser por acaso que, quando recebeu o Prémio Pessoa, o tenham confundido com César Torres, corredor de automóveis, esse sim, então mediático.
A sua arqueologia "procura - segundo Santiago Macias, citando o Mestre - a cerâmica dos ocupados. São muitas perguntas e outras tantas respostas, que morosamente é preciso procurar! Quem interessa a cima dos palácios é o homem que hoje trabalha em cima do seu passado!"

Hoje, é conhecido pelo que trouxe de novo, sobre o nosso passado árabe, e por tudo o que possibilitou estudar, com os caminhos que abriu. "Construtor de casas", chamou-lhe a arqueóloga Conceição Lopes.
E de facto, Mértola deve-lhe o ter ensinado, o quanto vale a História dos povos e culturas que nos antecederam, com evidentes benefícios para o turismo, comércio, escola e habitantes, entre outros beneficiários, da vinda de excursões de turistas nacionais e estrangeiros e de estudantes e estudiosos do mundo inteiro.
Falta apenas encontrar uma visão certeira, por parte dos que governam, ousada, que não pode ser dissociada do sonho, numa ambição de desenvolvimento, à escala humana, estancando a estagnação e a desertificação. Mas isso, é tarefa de um povo e dos seus espelhos, que entendam governar, ao invés da crise, que provoca a agonia deste país, dirigido por mentecaptos e lacaios, trazendo para Mértola o que Mértola anseia e merece.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

sexta-feira, abril 05, 2013

Viver Não É Isto!


O desenrolar dos dias, a pressão quotidiana, sobre quem vive num país, onde roubar sonhos é uma prática habitual, por parte dos que mandam (a todos os níveis), espezinhando projectos legítimos, contribuem para o mal estar instalado, a ansiedade recorrente, a doença que alastra. 
Medos e existências sem rumo, não são futuro!
Bombardeados diariamente, com medidas lesivas para os seus anseios, os povos do sul da Europa desunida, reagem. Uma das formas, é execrar a Alemanha, causadora de duas guerras, que de novo emerge, impondo os seus ditames. 
Numa escala infra humana há, porém, quem não perceba o que custou a conquista de certos direitos, que têm vindo a ser amputados, postos em causa, espezinhados...
Há quem diga, que agora se vive muito bem, muito melhor, recorrendo sempre às dificuldades que passou, noutros tempos de má memória colectiva, como se voltar a essa época, pudesse ser possível, como se ser pobre e humilhado, fosse normal, como se desejar alcançar e conservar um bem estar essencial, fosse um luxo, um capricho, um excesso, uma ofensa a algum deus.
Falo de salários, de pensões de reforma que garantam a dignidade, mas também da saúde, da educação, da justiça, acessíveis a todos, e sobretudo da liberdade, da qualidade de vida....
Que importa poder falar sem amarras, se não se tem pão?
 
Os políticos da Deseuropa, de Merkel a Coelho, espelham este recuo civilizacional, que habita milhares de cérebros amorfos, retrógrados, que vagueiam ao nosso lado, mortos-vivos, desconhecendo e sendo adversos ao lazer, à cultura, à viagem, ao prazer, reduzindo a sua passagem por este planeta, aos actos de comer, trabalhar e dormir, rosnando!...
Mas viver não é isto! 
E enquanto não aumentar o número dos que acordam, reflectem e ambicionam ser gente, à escala humana, isto só pode piorar!
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)