"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, junho 08, 2020

O Castelo de Sandriás




Em 21 de Outubro de 2014, viajando com os Amigos Dina Simão, transmontana e José Rodrigues, alentejano, decidimos ir a Santiago de Compostela, a partir de Santa Marta de Penaguião, terra natal da Dina.
Pouco depois de atravessar a fronteira em Tourém (Montalegre) fomos conhecendo vários concelhos galegos, chegando a um lugar que despertou atenção pela silhueta de uma torre e pelo nome (Santa Ana) pois o José é natural de Moreanes, freguesia de Santana de Cambas (Mértola).
Percorremos caminhos ancestrais e descobrimos edifícios perto da torre decadentes, rodeados de esplêndida vegetação.
No outeiro onde existira um Castro, foi construído o castelo de Sandriás (nome do concelho onde se localiza) no século XII oferecendo vistas estupendas, havendo imensas lendas em torno do monumento, que foi disputado por Afonso VII de Leão e Castela e D. Afonso Henriques, por pertencer então ao condado de Limia e os reinos ansiarem expandir territórios. Sempre cobiçado, foi assaltado em 1386 pelo duque de Lencastre, arrasado em 1467 por um movimento que contestava os senhores, destruíndo os seus castelos (revolta Irmandinha), sendo reconstruído. Nele se concentraram tropas, durante a guerra da restauração portuguesa (1640-1668).
Tal como estes meus queridos Amigos recordo esta descoberta com imensa felicidade, acrescentando dois links que nos remetem para o conhecimento deste monumento considerado bem de interesse cultural do património histórico espanhol.


Luís Filipe Maçarico (Recolha histórica e fotografias)

sexta-feira, junho 05, 2020

Ary dos Santos Canto Franciscano

Canto Franciscano
(José Carlos Ary dos Santos)

Por onde passaste tu
que não soubeste passar?
Pela sandália do tempo
pelo cílio do luar
pelo cílio do vento
pelo tímpano do mar?
Por onde passaste tu
que não soubeste passar?

Por onde passaste tu
que me ficaste cá dentro
tenaz do fogo divino
irmão pinho ou aloendro?
Por onde passaste tu
que me ficaste cá dentro?

Pois bem: nos campos da fome
ou nos caminhos do frio
se eu encontrasse o teu nome
lançava-te o desafio:
por onde passaste tu
pétala viva dos cerdos
rei das chagas e dos podres
- por onde passaste tu
não passaram as minhas dores!

Nasci da mãe que não tive
do pai que nunca terei
e aquilo que sobrevive
é o irmão que não sei:
uma espécie de fogueira
de corpo que me deslumbra.
Tudo o mais à minha beira
é uma réstia de sombra.
- Por onde passaste tu
com artelhos de penumbra?

Eis-me. Eis-me incendiado
por não saber perdoar.
Meu irmão passa de lado
- Eu sei como hei-de passar.

Fotografia de LFM (Jerba, Tunísia)