"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, setembro 28, 2008

Cais das Colunas - Um Poema




O Cais das Colunas, tema de tantos poemas e recordações, parece renascer, no sítio onde anteriormente muitos lisboetas viveram momentos inesquecíveis.
Num livro meu há a reprodução de um desenho do cais, cujo autor foi o pintor Rodrigo Dias, que mergulhou a folha onde desenhara, nas águas do Tejo. O desenho tem a marca desse momento em que o rio entrou na página...
O Cais das Colunas renasce. Que novos versos e estórias acontecerão?
Para já, fica este texto acabado de escrever:

"Estive muitas vezes neste Cais
contemplando o Tejo
nuns olhos ou o futuro
no silêncio da página.

Espero por essas colunas mágicas
para escrever mais versos
onde um sorriso volte a inspirar
novas marés de afecto."

Luís Filipe Maçarico

segunda-feira, setembro 22, 2008

Festa dos Chocalhos 2008














Alpedrinha vibrou novamente com mais uma edição da Festa dos Chocalhos. Quando o povo se apropria de uma ideia, qualquer festa que essa ideia gerou, assume as sonoridades e os aromas apreciados pela nossa gente, sem ser necessário empestar o ambiente com chunguices e pimbalhadas.

Aprecio as lojas transformadas em tascas, as ruas repletas de gente, os sabores, os petiscos, os doces, o pão, artesanatos, tudo o que faz daqueles instantes o espelho de uma festa reinventada, que as pessoas transformaram na sua festa.

Sonhada por indivíduos que idealizaram o evento, talvez para revitalizar o sítio, em perda com a auto-estrada que rasgou a Gardunha e afastou da vila muito trânsito, a festa apareceu como uma possibilidade de laboratório de experiências culturais, além de ser uma tentativa para imprimir desenvolvimento para o futuro.

Do lançamento de livros às Conversas Transumantes, vai acontecendo, a par dos bombos, dos pífaros, das gaitas de foles, das concertinas e dos ranchos folclóricos, uma actividade paralela que os alpetrinienses também acompanham, habituados que estão a iniciativas de cunho cultural.

Não peçam é que eles se sentem a teorizar, em torno do parâmetro ideal e do perigo da festa resvalar para arraial. Recordo que o arraial está sempre ligado a um santo, ao sagrado e inclui uma parte profana, que chega a conflituar com a ritualização religiosa. A Festa dos Chocalhos, se tem procissão, é a das cabras e ovelhas e se tem excesso é o da alegria e do convívio. Em época de crise económica e espiritual, não é um grande valor o encontro das pessoas?

Nas diversas edições já realizadas não houve notícia de desacatos, de violência...Mas há a evidência de milhares de sorrisos, de abraços, de euforia, da mescla humana de todas as idades, oriunda de tantos lugares.

Espero que os organizadores, programadores e animadores consigam melhorar sempre a realização deste grande acontecimento cultural, trazendo até Alpedrinha artistas criativos e interventivos. Falta a esta iniciativa tornar habitual a componente exposição, inserindo a arte na leitura transumante. Fotografia, pintura, escultura, performance, não têm acontecido. O teatro de rua, cinema, tudo isso, por motivos económicos ou quaisquer outros, não têm sido proporcionados. E este ano, se a Paula Cristina Lucas da Silva e a Rosa Dias não tivessem trazido à festa o seu olhar poético, a festa teria sido certamente mais pobre.

O receio da festa ser reduzida à febra assada e ao tintol, e às pifaradas, é um risco que não pode ser assacado a quem deseja divertir-se (após uma semana de trabalho), com o que lhe é oferecido.

Se o IGESPAR autorizou que o palácio do Picadeiro tenha um telhado de alumínio e puxadores de porta iguais aos que a minha amiga Ana viu nos contentores, onde vendia andares no Feijó mas impede a população de fazer alterações em prédios da zona histórica, como querem os senhores mais cultos que o cidadão comum aceite a cultura recomendada por eruditos, que consideram ser mais adequado para o Zé Povinho, quem sabe, talvez Leoncavallo ou Mahler?

LFM - texto e fotos (com MEG)

sábado, setembro 13, 2008

Festa dos Chocalhos em Alpedrinha começa sexta-feira dia 19






De hoje a oito dias a Festa dos Chocalhos já voltou às ruas de Alpedrinha. Esperemos que a chuva não impeça os visitantes de desfrutarem, como é costume, de tasquinhas, espaços repletos de cultura popular como é o caso da Liga dos Amigos, com o seu Museu Etnográfico e uma envolvência dos alpetrinienses que transforma completamente o quotidiano tranquilo daquela vila da Beira Baixa.
Para os interessados, divulga-se o programa oficial do evento e chama-se a atenção para o facto de no sábado dia 20, às 18 e 30h e às 22h ocorrerem, duas sessões a não perder, com Paula Lucas (lançamento do seu primeiro livro de poesia) e Rosa Dias (apresentação do seu primeiro CD de poemas ditos pela autora).

SEXTA 19 SETEMBRO

19h00 Ruas de Alpedrinha: Abertura com os Zabumbas de Alpedrinha.

DESFILE com Pifaradas de Álvaro, Bombos do Alcaide, Tok’Avacalhar, Acordeonistas, Tuna, Velha Gaiteira (gaita de foles), ISHBARIAN - BAGPITE (gaita de foles), Rancho Folclórico da Soalheira
Cantares ao desafio
22h00 - Largo da Fontainha - Concerto - NO MAZURCA BAND

SÁBADO 20

10h30 Ruas de Alpedrinha - Arruada pelos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho,Arruada pelo grupo de Concertinas da Barrenta
DESFILE com Zabumbas de Alpedrinha, Bombos do Alcaide, Concertinas da Barrenta, Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho,Tok’Avacalhar,Tuna Rancho Folclórico do Fundão,Grupo de Música Popular de Alpedrinha,Cantares ao desafio,Velha Gaiteira (gaita de foles),ISHBARIAN - BAGPITE (gaita de foles).

18h30: LANÇAMENTO DO LIVRO de Poesia “Gardunha: Silêncios de Granito”, de
Paula Silva(Capela do Leão)
22h00: LANÇAMENTO DE CD "Olhar Poético", poesia alentejana de Rosa Dias (Capela do Leão)

Largo da Fontainha - Concerto - MILHO VERDE
24h00 - Largo da Fontainha - Concerto - OLIVERTREE

DOMINGO 21

08h00 Fundão - CAMINHADA COM REBANHO NA SERRA DA GARDUNHA, ENTRE FUNDÃO E ALPEDRINHA

11h00 Fundão - Alpedrinha: DESFILE DE CÃES DE GADO
Arruada pelos Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho e Concertinas da Barrenta

16h00 Alpedrinha - Capela do Leão - Colóquio - CONVERSAS TRANSUMANTES Dirigidas por Maria João Centeno, com José Alberto Ferreira (Festival Escrita na Paisagem), Manuel Sanchez Ambrosio (Festival Pán) e Rui Sena (Quarta Parede)

17h30 - DESFILE com: Zabumbas de Alpedrinha, Bombos do Barco, Bombos do Alcaide, Tok’Avacalhar,ISHBARIAN - BAGPITE (gaita de foles),Chocalheiros de Vila Verde de Ficalho, Concertinas da Barrenta, Rancho Folclórico, Tuna.

21h30 Igreja Matriz - Concerto - TAMBORINOS MUY GENTIL

Em paralelo realizam-se as Comemorações da Vida e Obra do Cardeal D. Jorge da Costa (Cardeal de Alpedrinha) nos dias 19 e 20 de Setembro, com a presença do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José da Cruz Policarpo .

Fotos:LFM

sexta-feira, setembro 12, 2008

Lembra-te sempre deste pequeno pormenor, antes de aplaudires...


Partilho com os leitores deste blogue, a mensagem que acabei de enviar a um jovem, que me endereçou imagens onde o extermínio de indivíduos supostamente assaltantes é festejada e banalizada, exibindo-se os corpos dos bandidos destruídos...

"Recebi um mail teu, que me permito comentar, porque discordo da reacção emocional demonstrada, defendendo o abate de todo e qualquer meliante, como por vezes sucede na América Latina, o que permite os maiores desvairos e não resolve, a meu ver, o cerne da questão. Senão, vejamos:

Porque razão o Governo não actua convenientemente, colocando mais polícias na rua?

Porque razão as chefias da polícia não proporcionam a estes profissionais condições para actuarem?

Porque razão, se tiveres problemas de ruído, motivado por discotecas improvisadas na rua, com mil pessoas a fazerem barulho, a prejudicarem às 3 da manhã o trânsito, estacionando de qualquer maneira, bêbados, tudo isto em cima de áreas residenciais, porque razão os polícias querem que vás com eles à porta dos prevaricadores, se não, não actuam?

Matam-se os jovens barulhentos que durante meses impedem os moradores de dormir entre as 0 e as 5 da manhã, nos fins de semana (incluindo quinta, sexta e sábado)?

porque razão se houver um despejo de uma colectividade, como sucedeu com o Grémio Lisbonense, ou se trabalhadores com salário em atraso ou duma empresa que fecha sem avisar, os polícias actuam, batendo nesses cidadãos que se manifestam em prol de direitos constitucionais?

Matam-se os manifestantes? Matam-se os polícias?

Se houvesse policiamento eficaz, preventivo, certamente que a criminalidade e todos os excessos não achavam este país um oásis...

Nunca na minha vida apoiei o terrorismo, o banditismo, a desordem, tudo o que põe em causa a vida de inocentes.

Tive conhecimento que um rapaz do qual não tinha notícias há anos estava a contas com a justiça, no estrangeiro, o que me entristeceu profundamente. Escrevi-lhe, respondendo ao apelo dele, que se sentia completamente abandonado à sua sorte e dei-lhe ânimo naquele período complicado da sua vida. Após ter regressado a Portugal, passou a ganhar a vida honestamente. Deveria ter sido morto?

De onde vem esta gente? Do teu meio social ou do meu, que apesar de tudo não se reportam a berços dourados? Tiveram mãe, pai, famílias a apoiar? Quantos deles não foram criados em instituições, como a Casa Pia, abandonados pela família da Curraleira, ou despojados de qualquer âncora?

Vamos eliminar todos os alunos da Casa Pia e resolvem-se os problemas?

Paulo Pedroso afinal (diz um acórdão de tribunal competente) não teve culpa.
Deveria ter sido morto, na praça pública, quando o juíz Rui Teixeira o incriminou, pelos vistos sem provas concludentes, baseando-se em indícios débeis?

Jovem, atenção! Não te precipites!
Podes ser vítima da atitude que preconizas...imagina que te confundem com um assaltante e te matam, se matar puder ser como preconizas, a grande medida purificadora do Mal? Não seria a primeira vez...

E com isto, não estou a admitir qualquer simpatia pelos brasileiros, portugueses, romenos (ou outros) que andam por aí, sem qualquer ocupação cívica, digna, fazendo merda!

Só quero lembrar que temos de ser coerentes com o que defendemos, em certos momentos da vida, nomeadamente quando participamos em listas políticas, concorrendo a cargos públicos.

Cidadania e democracia (mesmo com todos os defeitos do sistema - e não são poucos, como sabemos) ainda é preferível à selvajaria e à barbárie.

Nunca estarei do lado dos poderosos, magnatas e bancos, que em cada ano que passa sobem escandalosamente os lucros, enchendo-se mais e mais, mantendo nos governos os seus capatazes, negando-nos um ordenado que nos permita pagar as necessidades básicas. Criando-nos cada vez mais dificuldades.

Como é possível que seja exigido a um reformado com meia dúzia de euros, que deposite a sua magra reforma na Caixa Geral de Depósitos, que depois lhe cobra taxas de manutenção da conta? Isto não é repugnante?

Podes pensar que tudo o que escrevi nada tem a ver com o mail que me fizeste chegar, mas eu digo-te que tem tudo a ver. A violência gera violência.

Tens ainda uma vida à tua frente e desconheces os constrangimentos que nos esperam a todos, se isto piorar... Lembra-te sempre deste pequeno pormenor, antes de aplaudires a mortandade de bandidos pela "eficaz" e temível polícia brasileira...

Confundir as coisas e não exigir a quem de direito uma actuação preventiva, é no fundo ajudar a abrir as portas a ditaduras disfarçadas e nesse jogo eu não entro.

Quando a tolerância deixar de existir como valor, por causa dos inimigos da liberdade e daqueles que não actuam por inércia, ou incompetência política, a liberdade terá morrido. E eu amo a liberdade."

LFM (texto e foto)

segunda-feira, setembro 08, 2008

Dina e José


São únicos nesta caminhada. A Dina é uma artista na arte dos temperos. O Zé, um sonhador, fraterno que este mundo magoa pela realidade tão violenta dos dias. A Dina é uma mãe de coração grande, que tem sempre um pitéu ou uma palavra estremosa para com os amigos errantes. O Zé semeia ideias, espalha embriões de resistência, escreve com as mãos na terra, hortas de carinho que podem ajudar os mais velhos a terem outra saúde.
Caminham ambos neste planeta, de Norte para o Sul, para esse Sul onde a água por vezes é a dos olhos, lágrimas de perda, por entes queridos que lhes iluminaram o caminho:Mães que se foram, pais que partiram... do chão para as estrelas, as estrelas que os netos procuram no imenso céu da planície.
São únicos nesta revelação da vida, que são os dias que voam, em tropel.
À volta dos descendentes,teimosamente sonham, que não há-de ser sempre assim, o planeta e que os netos vão ser os obreiros do resgate dessa terra adiada, terra de paz, terra de frutos prometidos.
Gosto de os ouvir, ela falando-me dos efeitos benéficos da beringela, para que eu perca mais uns quilos supérfluos, e ele em torno de um texto, para falar da ingratidão e da injustiça, essas cobras traiçoeiras que nos espreitam a cada esquina.
Gosto de os ver, como ontem, na Festa do Avante ou na tranquila Moreanes onde habitam, afugentando sombras. Porque um dia, o sol "brilhará para todos nós"!
Luís Filipe Maçarico