"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, dezembro 28, 2015

Portugal, Marrocos da Europa ou como hoje enfrentei um ladrão que actua no autocarro 714

Hoje aconteceu-me mais uma situação daquelas, que me fazem sentir que estou "protegido", ou que pelo menos tenho reflexos rápidos...

Ia no autocarro 714, por volta das 14h, na Rua das Janelas Verdes, quando tive a impressão que alguém me estava a mexer no bolso direito, onde guardava o telemóvel. Apalpo e confirmo que o telemóvel "voara". Filei um velho baixo, todo vestido de preto, com manchas na face, originárias de uma despigmentação ou queimadura, saindo tranquilamente e agi rapidamente, pedindo alguns metros depois ao condutor, que me deixasse sair, pois fora roubado...

Dei uma corrida entre a Cruz Vermelha e a paragem, onde o camafeu fingia telefonar "para mim" segundo justificou, ao aperceber-se que estava encurralado, pois a ideia seria desaparecer no próximo autocarro, não tendo eu mais possibilidade de recuperar esta forma de contactar com os amigos e com o mundo, além da Internet. O telemóvel tocara nesse preciso momento e uma amiga gravou uma mensagem desafiando-me para uma ida a sua casa no fim de ano...

A Carris, ao reduzir o número de autocarros, que circulam entre a Outourela e a Praça da Figueira (e vice-versa), que continuam pejados de turistas, põe Lisboa ao nível do terceiro mundo, pois proporciona desconforto e marginalidade nas suas carreiras.

Não deve ser por acaso, que Barry Hatton, que vive no nosso país desde 1986, e é correspondente, desde 1997, da Associated Press, em "Os Portugueses", pág. 304, escreve que "jovens viajantes sofisticados, (...)  denominaram  Portugal "Marrocos da Europa"...

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

domingo, dezembro 27, 2015

Retalhos da Vida de um Poeta

NOTA BIOGRÁFICA E ACADÉMICA: Luís Filipe Maçarico nasceu em Évora, em 29-10-1952. Licenciado pela Universidade Nova de Lisboa - Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, em Antropologia, em 26/09/1994, com “Barbeiros de Alcântara - A Identidade Masculina e Bairrista entre Estratégias de Sobrevivência e Ameaças de Extinção”.  Mestrado em Antropologia (Patrimónios e Identidades) no Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa, com “Os processos de construção de um herói do imaginário popular - o caso de Santa Camarão”. Em 2008 matriculou-se no Mestrado “Portugal Islâmico e o Mediterrâneo”, leccionado pela Universidade do Algarve, no Campo Arqueológico de Mértola, que concluiu em 2012, com 17 valores.
PERCURSO ASSOCIATIVO (VOLUNTÁRIO): Alguns dados: Dirigente da direcção do Sindicato dos Trabalhadores da Câmara Municipal de Lisboa, entre 1982/1985. Secretário e vice-presidente da mesa da Assembleia-Geral do Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes”, entre 1997/2001. Presidente do Conselho Fiscal desta colectividade em 2006. Vogal, director cultural da direcção do centenário, presidente da Mesa da Assembleia-Geral e presidente da direcção da Sociedade Musical Ordem e Progresso, entre 19997/2001. Segundo e Primeiro secretário da direcção da Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio, entre 1997/2001. Vogal efectivo da mesa da Assembleia-Geral da Casa do Alentejo entre 1999/2001. Fundador do Círculo Artístico e Cultural Artur Bual (2000). Fundador e Membro da Comissão Promotora de “A Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular” (Novembro/2004). Presidente do Conselho Fiscal da Liga dos Amigos de Alpedrinha (2005/2006). Presidente da direcção da “Aldraba” (2005/2006) e da Mesa da Assembleia-Geral (2007/2011) Vice-Presidente da Mesa da AG da Liga dos Amigos de Alpedrinha (2007/2009) Fundador e membro do Grupo dos Amigos da Tapada das Necessidades (2007/2013) Membro do Conselho Nacional da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto (2008/2010 e 2010/2013) Relator do Conselho Fiscal do Grupo Dramático e Escolar “Os Combatentes” (2011/2013). Presidente da Mesa da Assembleia Geral da Liga dos Amigos de Alpedrinha (2010/2015). Vice-Presidente da Direcção da Aldraba (2011/2015)
PUBLICAÇÕES/ POESIA: "É de Noite Que Me Invento", edição do autor, Lisboa, 2015. "Ilha de Jasmim", edição do autor, Lisboa, 2013. "Geografia dos Afectos", Apenas Livros, Lisboa, 2012. "Transumância das Pequenas Coisas", Câmara Municipal de Castro Verde, 2012. “Cadernos de Areia”, edição do autor, Lisboa, 2008. “Ar Serrano”, edição Câmara Municipal do Fundão, 2006.“Caligrafia do Silêncio”, edição do autor, Lisboa, 2004;  “A Secreta Colina”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 2001; “Lisboa, Pegadas de Luz”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 2000; “A Celebração da Terra”, edição das C. M. de Évora e Montemor-o-Novo, Junta de Freguesia de Nossa Senhora da Vila e Delegação Regional de Cultura do Alentejo, 1999; “Os Peregrinos do Luar” edição do autor, Lisboa 1998; “Lisboa, Cais das Palavras”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 1998;  “O Sabor da Cal”, edição da Câmara Municipal de Beja, 1997; “Vagabundo da Luz”, edição Liga dos Amigos e Junta Freguesia de Alpedrinha, 1997; “Íntim(a)Idade”, Edição do autor, Lisboa, 1996; “Os Pastores do Sol”, Ed. Autor, versão trilingue, português, francês e árabe, Lisboa, 1995; 2ª ed. Escola Profissional Fundão, tradução francesa de Raja Litiwinoff e árabe do prof. Ezzeddine Mansour, 1996; 3ª ed. prefácio de Salem Omrani, Lisboa, 2001; “Lisboa, Asas de Água”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 1994; “A Essência”, Edição Autor, Lisboa, 1993; “Mais Perto da Terra”, Edição do Autor, Lisboa, 1992; “Da Água e do vento”, Átrio, Lisboa, 1991;
LITERATURA INFANTIL: Alguns títulos; “Flor de Sementinha”, Caixa de Crédito Agrícola de Montemor-o-Novo, 2000; “Azedal, Sarzedar e a Manhã de Abril”, Junta de Freguesia de Prazeres, 1996; 2ª edição, Comissão Instaladora do Município de Odivelas, 2001 “A Princesa Joaninha e o Lagarto Saltitão”, Junta de Freguesia de Prazeres, 1994. 

ENSAIO: Selecção de artigos e livros publicados: "Elementos para uma Imagem Contemporânea do Alentejo", "Callípole", nº 19, Câmara Municipal de Vila Viçosa,2011. "Jóias Imperceptíveis em Portas de Lisboa Aldrabas, Batentes e Puxadores nas Casas de Catorze Personalidades da Cultura Portuguesa"; Apenas Livros, 2009.  “Aldrabas e Batentes de Porta. Uma Reflexão sobre o Património Imperceptível”, Aldraba, Associação do Espaço e Património Popular, 2009. “Portas de Évora”, Revista “A Cidade”, Câmara Municipal de Évora, 2009. “Imaginário e Patrimonialização em Murfacém”, “Anais de Almada”, Câmara Municipal de Almada, 2008; “Os Comeres dos Reis no Imaginário Popular”, “Calípole”, Câmara Municipal de Vila Viçosa, 2008; “Os Heterónimos de um Mistério: Azóias, Cubas e Morábitos no Imaginário Popular. O caso de Montemor-o-Novo”, Almansor, nº6, 2ª série, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, 2007; “Memórias do Contrabando em Santana de Cambas - Um contributo para o seu estudo”, edição Junta de Freguesia de Santana de Cambas, 2005; “Os Morábitos na Arquitectura Religiosa do Sul”, “Calípolle”, 2006, Câmara Municipal Vila Viçosa; “Aldrabas e Batentes de Montemor-o-Novo: Um Olhar Antropológico”, Almansor, nº4, 2ª série, 2005, Câmara Municipal de Montemor-o-Novo; “A Função Antropológica da Aldraba: Da Origem Simbólica à Morte Funcional”, “Arqueologia Medieval”, nº8, Campo Arqueológico de Mértola, Afrontamento, Maio 2003; “Atmosferas do Corpo” - ensaio sobre a pintura de Mena Brito, Prefácio, 2002; ”Associativismo em Lisboa: Perspectivas para o Futuro”, “Actas do III Colóquio Temático Lisboa - Utopias na Viragem do Milénio”, Câmara Municipal de Lisboa/ Cultura, 2001, pp. 317-324; “O Alentejo, O Cante e os seus Poetas”, “Arquivo de Beja”, vol. XIII, série III, Abril 2000, pp. 13-36. “A Personalidade Poética do Alentejano”, “Arquivo de Beja”, volume X, série III, Abril 1999, pp. 111-124; “Um Antropólogo no Associativismo”, edição Territorial, Associação de Estudos Territoriais e Análise Regional, 1998.

BIOGRAFIA: “Com o Mundo nos Punhos - Elementos para uma biografia de José Santa “Camarão”, Câmara Municipal de Lisboa/Desporto, Outubro 2003;

POETAS POPULARES /HISTÓRIAS DE VIDA: "Por Feitiço, Por Magia", Câmara Municipal de Viana do Castelo (organização, pesquisa bibliográfica, análise literária e antropológica e anotação, a propósito da poesia de José Figueiras, com Laurinda Figueiras), 2012; "Marés da MInha Vida", ed. autor (introdução, recolha e selecção de poemas de Abílio Duarte, com Ana Isabel Carvalho), 2010; "Fui Camponês, Fui Caixeiro", ed. Junta de Santana de Cambas (introdução, recolha e selecção, com José Rodrigues Simão, de poemas de João Carrasco), 2007.

CONTO: “Degraus”, Universitária Editora, 1999;

ANTOLOGIAS: Publicado em inúmeras antologias. Destacam-se: "Morada da Poesia Poetas celebram Manuel da Fonseca", Câmara Municipal de Castro Verde, 2011. "Na Liberdade", coordenação de Jorge Velhote, Nicolau Saião e Nuno Rebocho, Garça Editores, Régua, 2004. “Cerejas Poemas de Amor de Autores Portugueses Contemporâneos” selecção de Gonçalo Salvado, editorial Tágide e Câmara Municipal do Fundão, 2004; “Vento - Sombra de Vozes/Viento - Sombra de Voces” coordenação Pedro Salvado e Juan Gonper, edição Câmara Municipal do Fundão/Celya, 2004. “Cadernos Despertar I”, edição dos autores, com Eduardo Olímpio, José Carlos Ary dos Santos, José Jorge Letria, Amadora, 1982; “O Poeta faz-se aos 10 anos”, organizada por Maria Alberta Menères, 1ª edição, Assírio & Alvim, Lisboa, 1973; 2ª. edição Plátano, 1984.

PEQUENA NOTA CURRICULARARTÍSTICA": Aprendeu com Artur Bual, a pintar com café e vinho.
Escreveu para catálogos de exposições de pintura e livros de Arte, de Artur Bual, Mena Brito, Margarida Barroso (Guika).

Ilustrou artigos e poemas no “Diário do Alentejo”, “Diário do Sul” e vários outros periódicos.

Livros de poesia, como “O Sabor da Cal”. “Transumância das Pequenas Coisas” e “Ilha de Jasmim”, têm desenhos de sua autoria, pintados com café.

Participou em várias exposições de Arte Postal e numa exposição da Galeria Artur Bual (Amadora), intitulada “Zero Figura”.

Tem os seus desenhos de café espalhados por Portugal.

sábado, dezembro 26, 2015

Poema Caminhada numa Tela de Rodrigo Dias

Este é a minha singela partilha a todos os Amigos e Conhecidos de Boa Vontade.
O Poema "Caminhada" viajou em Julho até Morille e foi notícia pois foi o único de vários poetas, que desapareceu das paredes e árvores onde estavam colocados.
Rodrigo Dias pediu-me para o reescrever numa tela.
Daqui a pouco mais de um mês, na Galeria Artur Bual da Amadora, o Pintor apresenta o seu trajecto artístico, numa exposição que espero seja um grande momento na vida do criador flaviense.

Um Ano de 2016 Feliz para todos, mesmo para os que desdenham da minha energia e até daquela senhora, de quem fui testemunha em tribunal 3 x e que me afastou da sua vida, - confundindo as mensagens foleiras do ex-marido, pois nunca seria capaz de lhe escrever, estando bem como estava com ela, e nem sequer o faria - pois não faz parte da minha forma de estar - se estivesse molestado, isto caso a estorinha esteja "bem contada", ou que simplesmente inventou uma forma de me deitar fora, por não poder aproveitar-me enquanto mercadoria lucrativa...
As acções ficam com quem as pratica e mais cedo que tarde saberemos a verdade.

Luís F. Maçarico (fotos de Rodrigo Dias)

sexta-feira, dezembro 25, 2015

Noite de Natal na Madragoa

Sou um homem de sorte.
Tive vários convites para passar a noite de Natal mas acabei por passar a data na companhia do Luís Castanheira, da mãe Lurdes e da Bia, uma maravilhosa companheira de muitas caminhadas. Obrigado aos três, pelo ambiente super.
Voltei à Travessa do Pasteleiro, onde durante muitos meses, em 1978, ia buscar ou entregar o carrinho de mão da varredura das ruas da Lapa e da Madragoa.
O carregador falhou, daí as fotos serem de outras andanças. Também, confesso, não estava vocacionado para ostentar iguarias,numa fase do Mundo, em que guerras, refugiados e fome são palavras massacrantes, diárias, nos telejornais...

Saudações a todos aqueles que me convidaram, aos que me desejaram uma quadra feliz e àqueles com quem durante muitos anos me reencontrei em Alpedrinha, à volta do madeiro e de tradições das quais tenho saudades.
A todos os Amigos, a mensagem de esperança num 2016 clarificador, com muita energia positiva, surpresas boas e como não pode deixar de ser, com o forte retorno dos que semeiam energias negativas para lixar os outros. Que a verdade venha ao de cima e os mentirosos sejam desmascarados.
A minha caminhada é outra: Paz e Bem Estar. Saúde e Afecto!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)


terça-feira, dezembro 22, 2015

ERVA RUIM


A vida dá muitas voltas.
O imenso mar traz e leva vagas, que rebentam na praia - e todos os dias as águas são diferentes.
Todos os dias, o quotidiano se renova. Com surpresas, que nos fazem descrer nos seres humanos, que julgávamos ao nosso lado, até ao fim dos tempos.

A inveja, de quem parecia ter Amizade, criticando, de forma dissimulada, os passeios que conseguimos realizar, as histórias mal contadas, para não assumirem que nos descartaram, por não correspondermos aos  interesses mesquinhos, e tantos outros estratagemas, para nos traírem, a falta de palavra, a mudança de narrativa, invertendo as promessas, a lista é vasta...

Nesta quadra, onde a Hipocrisia é tão visível que repugna, olho para trás e penso: 2015 foi um ano de viragem. Os amigos fingidos, como ondas desfeitas, retornaram ao oceano da Mentira, onde não creio que durmam em paz, face à eterna actuação, diante dos outros, inventando uma existência virtual, de aparência, teatral, falsa, lamacenta...
Que sejam felizes, enterrados na própria soberba e arrogância, própria dos ignorantes.

Que bom terem-se afastado. Nem me dei ao trabalho de contestar, pois foi má demais a atitude que alguns tomaram, inventando coisas, que nunca na minha vida cometi, sem ser isento de crítica e erro.
Tive chefias que me magoaram, gentalha que usurpou o meu trabalho, e nunca da minha parte houve qualquer tipo de reacção, a não ser afastar-me de cérebros doentes.
Como poderia alguém, que jurava amizade eterna, acusar-me de mensagens anónimas graves? que apenas soube que era essa a acusação - para um silêncio inesperado e destrutivo - por um amigo....
Ainda bem que a criatura contaminada por uma loucura disfarçada, inventou esse insulto, pois mostrou que estava a milhas dos sentimentos nobres. 
Amigo que é amigo, quando tem dúvidas, questiona e tira a limpo aquilo que incomoda.
A história está mal contada. Como pode uma mensagem anónima ser-me atribuída? E o mais interessante é que nunca fui acusado, questionado, pela própria. Limitou-se a espalhar por alguns amigos comuns a acusação, não me dando hipótese de me defender. Amizades destas, quero-as bem longe. Calculo o motivo disto tudo: a benemérita ansiava que eu lhe alugasse um quarto e lhe pagasse a casa, o alimento, o bem estar. Como não mordi o isco, deitou-me fora....Mas a verdade vem sempre ao de cima e chegará o dia em que tudo será sabido.

Pois que seja feliz, muitos anos sem mim e que tenha as amizades que merece: postiças, como o Natal dos fingidos, e sobretudo traiçoeiras, como as falsas palavras que lhe saem da boca, pois quem semeia colhe.
Quero ficar vivo para ver. E desta vez não há nem desculpa nem coração que aceite tamanha maldade. Não sou cristão. Não dou a outra face, nem perdoo. Traições assim devem morrer com o próprio semeador. Erva ruim deve ser comida pelo sal da terra.

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)



segunda-feira, dezembro 07, 2015

LEANDRO VALE: O SEMEADOR REINVENTADO




Vejo-te na derradeira película, nos últimos dias de resistência e ironia, coroando um percurso de Semeador.
Imagino-te em andanças aldeãs, procurando deixar uma pegada, que faça irromper, entre pedras e gestos crús, a flor que embalas desde os sonhos trazidos desse Abril por cumprir.
Oiço as tuas palavras, sigo os actores, peregrinas neles, estamos ali em Morille, num fim de tarde de lumes.
Acompanho o rasto da tua memória, nesse território onírico, com cheiro a rosmaninho e o Carlos d’Abreu distribui vinho do Porto, na celebração de um Sol que és Tu, entre a Terra e o Céu, entre Portugal e Espanha, entre os Humanos e o Silêncio.
Ficas ali, num denso lajedo com o teu nome gravado.
Um dia, alguém esquecido da tua vida rebelde dirá: Leandro, és um Poeta, que lança sílabas no vento secreto de algumas noites.
E talvez te encontre no cerne dos vocábulos, que respiram nas pétalas selvagens de Maio, vermelhas, cintilantes. Papoilas. Hinos perturbantes…
Procurei-te, em Setembro. Perguntei por ti, na Festa. Não vi um retrato teu, nem o “Aqui Jaz a Minha Casa”. Uma frase tua, sequer. Apenas gente sequiosa, emborcando vinho, saboreando a gastronomia transmontana, farta e gostosa, parecida com aquela que alimentou os teus dias de luta. Apenas enxerguei a ignorância do encolher de ombros de um militante, que dizem que é intelectual transmontano. Gente que nunca irá a Morille. Que nunca percebeu o sentido da tua vida. Há muito afastada das aldeias que calcorreaste. Gente que está morta sem saber, enquanto tu continuas VIVO!

 Luís Filipe Maçarico
[Poeta; Antropólogo]

1 e 7 de Dezembro de 2015

terça-feira, novembro 24, 2015

No XXI Colóquio dos Olivais falando dos Jordões de Pias

Nesta segunda feira dia 23, voltei à Escola Secundária Eça de Queirós, para apresentar uma Comunicação sobre os "Jordões" de Pias, no primeiro dia do  XXI Colóquio dos Olivais, que foi seguida com interesse pela assistência de quase duas dezenas de participantes.
Grato ao Professor Andrade Lemos, pela gentileza de me ter convidado ao longo dos anos e a Carlos Inácio pela autoria das fotografias.

Neste evento, já falei, entre outros assuntos, das Aldrabas e Batentes dos Olivais Velhos (com Vanda Oliveira, Leonel Costa e Graça Silva), de Santo António, um Santo de Proximidade e da Efabulação em torno da chamada "Mão de Fátima".

Nesta primeira tarde em que me coube intervir, escutei deliciado os outros comunicadores, que falaram de temáticas tão interessantes como a arqueologia de uma Batalha - Vimeiro 1808 (Rui Ribolhos), D. João VI - Um Caso de Envenenamento (Sandra Coelho) e Tumulária de D. Nuno Álvares Pereira (Nuno Pires).

Este Colóquio é o I Luso-Brasileiro do Centro Cultural Eça de Queiroz e a Revista de Telheiras, todos os anos inclui no seu vasto articulado, os contributos que os convidados a cada edição do Colóquio entregam à  organização.

Durante a semana, vários investigadores, como Salete Salvado, apresentarão diversos pontos de vista acerca das várias ciências sociais, onde fundamentam os seus olhares sobre toponímia,  factos, monumentos, música, poesia, humor, etc.

Luís Filipe Maçarico



A Invasão dos Estrangeiros dos Vistos Gold e a Venda a Retalho das Cidades, com a benção da Galinácea Cristas

 
Os aberrantes personagens de Moebius, que se pavoneiam na nossa sombra, e gostam de nos ver mudos, porque não suportam a nossa crítica, aplaudem a invasão - não dos refugiados - mas dos vistos gold, em consonância com a Lei das Rendas, protagonizada por aquela cavalona, que Portas transformou em Ministra.
O Porto transformou-se num imenso Hotel, disse um conhecedor da realidade actual daquela cidade, em que a população genuína, que deu Alma ao burgo, foi remetida para as torres dos bairros - tipo Aleixo, depois implodidas porque os pobres metem nojo aos senhores feudais que ainda metem os calcantes no chão.
Lisboa está a ir pelo mesmo caminho. Ao lado do prédio onde moro, um inglês comprou um imóvel pintado de amarelo.
Aqui perto, no Beco dos Contrabandistas, um tugúrio transmutou-se em Residência Local, para veraneantes de passagem, cujo custo mensal é 700 euros.
Perto também, surgiu um hostel, com tantas condições, que há uns tempos atrás, os seus ocupantes andaram a perguntar onde é que podiam tomar banho...
É o desvairo. Qualquer quinhão é uma mais valia para a gula dos especuladores. E não vamos ficar por aqui....
Mete nojo que haja quem defenda este estado das coisas, como se isto contribuísse sobremaneira para o desenvolvimento.
Na freguesia onde resido, li num jornal, que prioritário é construir um elevador da 24 de Julho para o Museu Nacional de Arte Antiga.
Problemas sociais, quem quiser que os resolva.
Talvez as freiras, que dão leite aos pobrezinhos.
Ou a Misericórdia, que acompanha enfermos acamados.
Ou algum ente benfazejo.
Ou...

Luís Filipe Maçarico

quinta-feira, novembro 19, 2015

Apresentação do Livro "É de Noite Que Me Invento" em Serpa, no final de Outubro. O Texto de Ana Isabel Veiga


 
Em 31 de Outubro, dois dias depois do êxito que foi o lançamento do meu vigésimo livro de versos na Casa do Alentejo, que segundo o "Comércio de Alcântara" contou com uma assistência de 130 pessoas, foi a vez de rumar a Serpa e graças a Paulo Lima, director da Casa do Cante, estrear-me naquele local,apresentando a minha Poesia. Na assistência, Maria João Bual, marido e filha, Madalena Borralho, criadora do espaço museológico rural de Pias, Mariana Borralho, das Ceifeiras de Pias, o presidente da direcção da Aldraba, José Alberto Franco, os arqueólogos Maria João Marques e Marco Valente, entre outros companheiros e serpenses, curiosos de conhecerem a minha escrita poética. Maria Eugénia Gomes disse alguns poemas e os Amigos Paulo Lima, Santiago Macias e  Ana Isabel Veiga, falaram do autor e da sua obra. 
Pelo interesse da abordagem, transcreve-se o texto da Antropóloga e Amiga, que aceitou o repto de me apresentar:
 
"Soubesse eu de poesia e esta seria a oportunidade para fazer um brilharete. Poderia fazer análises poéticas, construções académicas sobre composição de poemas ou mesmo tecer profundas considerações acerca da arte de versejar. O campo, esse, é dilatado e fértil.
Pois é … mas não percebo grande coisa de poesia!!
Perguntarão vocês (a assistência) com toda a legitimidade … mas porque convidará o Luís uma pessoa que não percebe nada do assunto para falar sobre a sua obra poética?
Pois … isso é, também, o que me pergunto!!
No entanto, este não é o primeiro convite. Estes desafios tiveram sempre justificações como: porque tu és minha amiga; porque temos trabalhado e viajado juntos; porque partilhamos o gosto pelos lugares e pelas pessoas, porque conheces todos os meus livros.
Fui-me esquivando sempre, até porque esta função de apresentadora do que quer que seja sempre me assustou um bocadinho.
Mas desta vez o Luís acrescentou uma razão que fez a diferença:
É em Serpa! E na Casa do Cante!
E o cante, não posso deixar de referir, embalou-me a infância na voz do meu pai, às vezes acompanhada pela da minha mãe – ambos trabalhadores do campo, filhos desta terra luminosa e branca que o latifúndio e os duros anos 50 empurraram para a capital. Ele regressou, há curtos anos, mas para pagar a sua divida à terra, como diz a moda que tantas vezes cantou.
Não tive argumentos e cá estou para vos tentar falar de forma simples e despretensiosa, porque de outra maneira não poderia ser, do autor e dos seus poemas.
Do autor posso falar com a propriedade que mais de uma década de convivência próxima me confere, já da poesia … !! Acho que vou apenas evidenciá-la recorrendo à tal ciência chamada - gosto pessoal.
 Isto de falar dos amigos tem que se lhe diga! Fica-se sempre a dever muito à isenção e à objectividade. Tendemos, com frequência, a ser parciais, a deixar-nos toldar pela admiração e pelo sentimento. Mas, ainda assim, corro o risco. Até porque quero contrariar essa tendência e parece que tive “carta branca”. “Podes falar mal de mim” – disse-me o Luís. E eu não quero perder a ocasião, com carta branca ou sem ela.
Muito já foi dito sobre a pessoa. Em quase todos os seus livros há um prefácio que o enaltece enquanto ser humano e cidadão do mundo e poeta e viajante, e em cada apresentação da sua obra há sempre um amigo que lhe contabiliza as virtudes e lhe acrescenta elogios. Mas ele continua a gostar que falem dele!! Vá-se lá saber porquê!!
Supondo que ainda ninguém lhe enumerou os aspectos menos virtuosos, posso dizer que é uma pessoa que, por vezes, radicaliza posições, é contraditória, ansiosa e intempestiva e, algumas vezes, incoerente. Como ele costuma dizer: “que monótono seria eu se fosse sempre coerente!!”
Tende a sobredimensionar acontecimentos - os bons e os maus. Muitas vezes as nossas conversas telefónicas começam por : Sabes lá o que me aconteceu hoje… uma coisa horrível!! Depois de narrado o acontecimento, verifico que afinal foi alguém menos correcto que passou à sua frente na fila dos correios, ou lhe disse palavras mais ou menos insultuosas (bem à moda de Alcântara) na tentativa de chegar mais depressa ao lugar sentado no autocarro da carris que serve o seu bairro.
Mas o contrário também se verifica – encontrar um livro que procurava há muito, fruir do sol numa manhã clara ou almoçar com os amigos, por exemplo, podem contribuir para uma felicidade imensa que lhe vinca o sorriso e lhe incendeia o olhar.
Enumerar-lhe as qualidades é sempre um risco. Já outros esgotaram, certamente, os adjectivos. Arriscando repetições posso dizer que o Luís é uma pessoa simples, desafiadora, cativante, sensível, sonhadora, divertida mas, essencialmente, fraterna e amiga.
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Não sendo tarefa fácil falar do poeta a questão complica-se ainda mais quando abordamos o seu percurso na poesia. A sua caminhada poética é já longa e são várias as dimensões da sua escrita: saliento apenas duas: a poesia mais intimista e a poesia de viagens.
A primeira revela-se no último livro “É de noite que me invento” mas também no seu primeiro trabalho editado “Da Água e do Vento”, a que se seguiu “A Essência”, e outros como “Íntim(a)idade”, “A Secreta Colina”, “Geografia dos Afectos” ou “Caligrafia do Silêncio”. 
A poesia de viagens expressa-se em “Mais perto da Terra”, dedicado à Beira Baixa, e  a beleza dos lugares de Eugénio de Andrade é desvendada,  em mais dois dos seus escritos: “O Vagabundo da Luz” e “Ar Serrano”.
Era uma rua de cravos
E versos antigos.
Por ela chegava-se ao campo
Das oliveiras que eram corpos
Abraçados escutando o silêncio.

(excerto do poema Póvoa de Atalaia – terra de Eugénio de Andrade – in “Ar Serrano”)
Os seus versos foram também à descoberta de outras geografias e trouxeram o perfume de horizontes diferentes. O poeta cativa-nos para o seu deslumbramento com a Tunísia em “Pastores do Sol”, (em português, francês e árabe), já com 2ª edição; “Cadernos de Areia” e “Ilha de Jasmim” (dedicado à ilha de Jerba)
Na manhã fresca
entre o azul adormecido
e a cal do silêncio
a flor da laranjeira
espalha aromas quentes
ao sol do poema:
guitarras de brisa,
barcos de bruma…

(Poema Sidi Bou Said, in “Pastores do Sol”)

Lisboa é o lugar do poema, diz José do Carmo Francisco e o poema, como a cidade, é, em simultâneo, misterioso e oculto, claro e luminoso e surge como desejo de encontro em “Lisboa Cais das Palavras”;
O desejo debruça-se na varanda
É uma carícia esta peregrinação
Da brisa ao fim da tarde.
Na procissão dos cabelos
Desalinhados
Surgirás de repente…
Em que beijo? Em que palavra?

(poema Campo de Ourique, in “Lisboa - Cais das Palavras”)
As odes a Lisboa, aos seus lugares e à sua luz, não se esgotam aqui - o poeta encontra-se e reencontra-se com a cidade e o rio em “Lisboa Asas de Água” e “Lisboa - Pegadas de Luz”.
Os campos, o branco, o olhar que prende o verde esperança, o vento, as oliveiras, os homens, são cantados em “O sabor da cal” e “Celebração da terra.”
Pinta telas, o poeta – dizem muitos. E se a palavra é sempre cor, é nestes poemas sobre o Alentejo que mais se acentua, talvez por encontrar raízes mais profundas. Exalta a cor da terra, da água, do sol num louvor às coisas elementares - os largos horizontes e o silêncio. Mas as tonalidades fortes das vozes do sul atravessam os poemas e a paisagem humana sobressai.
A voz humaniza o silêncio grandioso, chorando a solidão dos campos (…)
Entre balidos e chocalhos, sobre caminhos de espigas e papoilas, nas longas horas de pastoreio
A garganta é flauta (…)
São de água e sonho alguns versos cantados
Semeiam sagradas crenças de pão e liberdade
E insistem
Até o coro se derramar nos largos horizontes do sul
Onde nascem manhãs de esteva e esperança.

(Humanos cantes, sagradas crenças, in “A Celebração da Terra”)

Há apenas dois dias deu à estampa um sumarento livro com os seus poemas mais longos – “É de noite que me invento”. Quando me mostrou e me ofereceu este seu último trabalho salientou: “Este livro é como eu - simples e despojado.”
Cristina Pombinho disse, na altura da apresentação desta última obra, que quando a leu sentiu que tinha nas mãos um dos maiores poetas portugueses!
Desafio-vos a lê-lo.
Em jeito de brincadeira e conclusão - recuperando um tempo longínquo, cito uma sua grande fã que, de olhar pestanejante e luzidio, se lhe dirigiu, dizendo:
“Obrigado poeta por existires!”

Ana Isabel Veiga
30.10.2015"