"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, dezembro 31, 2010

2011: Pântano ou Viragem...


As oliveiras, sejam elas de Florença, da Tunísia, do Alentejo ou da Beira Baixa, inspiram-me sempre desejos de Paz. Não ter saúde, casa, trabalho e o correspondente salário para viver, é uma espécie de maldição que nunca ataca os poderosos, pois têm sempre dinheiro nos bancos, heranças, negócios, para suprir alguma lacuna, proveniente de acidente, revolução ou catástrofe.
Os desprotegidos da sorte, não.
Trabalham uma vida inteira e nem sequer conseguem receber na totalidade das dezenas de anos esforçadas o equivalente a um mês do ordenado dos futebolistas ou dos políticos que elegem para ficar à frente dos governos.
Por isso, em todo o Mundo há quem viva bem e passe o tempo com um sorriso no rosto, pois tem a lareira acesa e há quem viva na rua e mendigue, seja na Europa, em Nova Iorque ou numa lixeira de Nampula.
Olhando as oliveiras, a poesia pede tréguas. Mas não depende dos poetas haver Paz no Mundo.
Depende dos Povos tomarem consciência que este Mundo é injusto, não de braços cruzados... No dia em que a força do trabalho se opuser ao parasitismo dos mercados, dos agiotas, de tantos bandidos encartados, de tanto incompetente a cantar de galo nos poleiros que se multiplicam como cogumelos, para servir uma imensa pandilha, no dia em que a multidão dos que nada têm a perder lhes fizer frente, talvez haja futuro e mundo.
Se tudo continuar nas águas turvas em que caminhamos, é a Guerra que nos espera, devastadora, mortífera, para que os senhores de todas as injustiças, grandes patrões mafiosos, chefes sem qualidades humanas, toda a cáfila de malfeitores com poder, aumentarem os lucros, através da especulação e do armamento letal.
2011 pode ser tudo o que quiseres: mau ou bom, pântano ou viragem!
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

sábado, dezembro 25, 2010

Natal dos Simples















A noite passada, veio-me à memória o Natal dos Simples.
Desde os doces tradicionais, aos caminhos mágicos, que desconhecia, revelados pelos amigos, em circuito de jipe pela Gardunha, está lá tudo, na canção do Zeca Afonso.
Porém, estes tempos são de perda. Se em terras como Alpedrinha, a tradição dos madeiros sobrevive, assegurada por uma multidão de jovens, sequiosos de convívio e de manterem o imaginário dos Natais da sua infância, lugares há onde este património se esbate, com a emergência do individualismo.


NATAL DOS SIMPLES

Vamos cantar as janeiras
Vamos cantar as janeiras
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas solteiras

Vamos cantar orvalhadas
Vamos cantar orvalhadas
Por esses quintais adentro vamos
Às raparigas casadas

Vira o vento e muda a sorte
Vira o vento e muda a sorte
Por aqueles olivais perdidos
Foi-se embora o vento norte

Muita neve cai na serra
Muita neve cai na serra
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem tem saudades da terra

Quem tem a candeia acesa
Quem tem a candeia acesa
Rabanadas pão e vinho novo
Matava a fome à pobreza

Já nos cansa esta lonjura
Já nos cansa esta lonjura
Só se lembra dos caminhos velhos
Quem anda à noite à ventura.

Texto introdutório e fotografias de Luís Filipe Maçarico (Alpedrinha, Dezembro de 2010)

quarta-feira, dezembro 22, 2010

Frases que dão Força


"Não deixem de lutar por aquilo em que acreditam!"

Augusto Flor, na sua mensagem às colectividades, para 2011

"Vale a pena sonhar, vale a pena ser poeta!"

Álvaro Cunhal, Novembro de 1995.

Foto de LFM (Obrigado, Rita!)

segunda-feira, dezembro 20, 2010

Natal da Mentira


É Natal!
Tempo de alguns políticos
andarem à caça
dos votos dos incautos,
aproveitando-se dos bons
sentimentos,
incensando
a caridade.

É Natal!
Época para os angariadores
de donativos
cobiçarem a carteira
dos ingénuos,
sugerindo
o arredondamento
das compras.

É Natal!
Paraíso do marketing
que engendra o mais eficaz
bombardeamento
da publicidade,
metralhando crianças,
torpedeando pais,
fustigando o amargo
quotidiano destes dias
de injustiças vorazes.

É Natal!
Que ternura saber que
os beneméritos
administradores
das multinacionais
aliviam os impostos
com dinheiro alheio!

É Natal! É Natal!

É Natal!
quadra para todos
os embusteiros
se servirem de ti,
rezando:
venha a nós a tua bolsa,
compra isto e mais aquilo
gasta agora, paga depois...

É Natal!
Porém, não tenhas dúvidas.
Eu falo de outra coisa
que não existe na troca
de postais e presentes,
ou na dentada
naquele chocolate,
na filhós,
na fatia de bolo-rei...

...porque há quem passe fome,
quem esteja doente
e os flagelos do desemprego,
da guerra,
do espezinhamento
dos direitos mínimos,
ditos humanos,
é uma notícia banal...

...por isso, até haver paz
liberdade
e fraternidade,
nunca poderá ser Natal!

Luís Filipe Maçarico (poema) Maria Keil (desenho)

domingo, dezembro 19, 2010

Desabafo


Conforme decidido, entre a organização e os nove alunos, do mestrado que frequento, - que se comprometeram a fazer tese, - em reunião efectuada no final de Outubro, sexta feira saí de Lisboa, no expresso das 9 e 30, para apanhar a carreira das 13 e 45 para Mértola...pois era preciso preparar a apresentação, no dia seguinte, dos avanços da tese que decidi realizar.

No sábado, como foi hábito durante dois anos, entrei na Casa Amarela e mostrei aos professores, do Campo Arqueológico de Mértola e da Universidade do Algarve, tal com o companheiro de mestrado, Marco, a evolução do trabalho realizado nos últimos meses.

Os professores Cláudio, Santiago, Susana e Luís Filipe acompanharam-nos. Este último, por volta das 13h, abalou para Faro, de onde viera manhã cedo, conduzindo, debaixo de chuva intensa, para dirigir uma aula, pelas 14 e 30h.
Será que nenhum dos alunos ausentes pensou, que estas pessoas também trabalham, como eles?

Independentemente dos motivos que cada colega tinha, para não cumprir o combinado, chocou-me que sete não tenham aparecido, pois houve dois meses, para a maioria, - que não esteve, - sugerir outra data.

Estamos a falar de mestrandos que pagaram (durante dois anos) propinas, transportes, alojamento e alimentação fora de casa, e tiveram de ler muito, fazendo o sacrifício de permanecerem quase dois dias, a muitos quilómetros da família, alguns até com filhos pequenos.

Se podem ser considerados, como fazendo parte de uma "elite"... então, que não nos espante, por esta amostra, o facto das elites governativas serem aquilo que são, enquanto espelho de um povo!

Luís Filipe Maçarico

A Alma no Sul



Há pouco, no Facebook, o meu Amigo Manuel Passinhas, na sequência do relato que lhe fiz, sobre como vivi o 29 de Outubro deste 2010, respondeu-me assim:

"De peito aberto e cabeça levantada, assim é que deves ficar.
Sabes que tem que haver pessoas como tu. Ao lado de pessoas, que por um ou outro motivo só têm que mostrar cobardia
Os Chefes, quanto mais gritam mais medo têm.
Nunca percas a cabeça e sê sempre coerente contigo."

Obrigado Manuel, e até um destes dias, pintando a vida, à mesa de um restaurante, com comida alentejana e a fraternidade mágica dos sonhadores. que têm a alma no sul...

Luís Filipe Maçarico

domingo, dezembro 12, 2010

Aldraba reúne dezenas de associados e amigos no Adicense










Para confraternizar, em torno de um bacalhau à Brás e ouvir fados, noite fora, muitos associados e amigos, ligados à Aldraba, estiveram no Adicense para, como já é tradicional (em 2009 foi no Fófó), visitarem um espaço associativo da cidade de Lisboa.
A noite foi divertida, pois a partilha de bons momentos é sempre motivo de júbilo.
Ainda há dias, alguém dizia num jornal que é preferível sair de casa e repensar tudo, com os amigos, em vez de ficar sentado frente à televisão.
No Adicense, fundado em 1926, respira-se fado e Alfama, que uma geração de gente dedicada às colectividades vivencia, proporcionando o encontro, com uma realidade espantosa - é que Alfama suplantou o Bairro Alto em termos de fado, tantas são as casas, onde fadistas privativos cantam para um público, que vem à procura do bairrismo.
O fado vadio tem, na colectividade nascida na Rua da Adiça, lugar cimeiro, que delicia quem gosta de um bom trinado, de uma tirada jocosa, de uma voz maviosa.
E nesse aspecto, honra seja feita a Ana Maria, excelente fadista angolana, que canta com uma dicção notável, possuíndo uma garganta afinada, capaz de interpretar de forma magistral fados tradicionais como o Maria Madalena, popularizado por Lucília do Carmo.
De destacar ainda Ivone, uma jovial senhora do fado, que, com 80 anos mantém uma frescura fantástica, cantando com muita energia, que é lição de sabedoria.
Venham mais noites de tertúlia assim, para soltarmos gargalhadas contra a crise.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

Conselho Nacional das Colectividades Realizou-se nos Bombeiros Voluntários de Algueirão - Mem Martins






Realizou-se nos Bombeiros Voluntários de Algueirão - Mem Martins, o Conselho Nacional das Colectividades, com os novos orgãos sociais da Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio.
Foi aprovado o Plano e Orçamento para 2011, que mereceu voto unânime por parte dos conselheiros.
O debate foi participado, com sugestões e comentários construtivos para o trabalho da Direcção, elogiada pelo trabalho desenvolvido.
De salientar que a sessão da tarde, após demonstrações de salvamento e almoço, foi aberta pelo presidente da Anafre e pelo comandante daqueles bombeiros que referiu haver naquela unidade 1/3 de senhoras, o que reforça a sua ideia que o voluntariado dá oportunidade à diversidade.
Os Bombeiros Voluntários de Algueirão - Mem Martins festejam em 2010 os seus 60 anos de existência.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)

quinta-feira, dezembro 09, 2010

O Gesto de Nana Mouskouri para com a Grécia em Crise








Há muito que não escutava a voz maviosa de Nana Mouskouri.

Reencontrei-a há pouco, numa página do facebook, cantando a Liberdade, no Chile de 1994.

Sabendo que a artista é grega, desejei saber mais: como estará a Diva, em 2010, ano de crise tremenda no seu país?

Fiquei comovido.

E mais asco e vergonha senti pelos Figos, pelos Ronaldos, por uma pandilha de famosos, que nada fazem pelo seu país, além de mamarem da teta: da selecção, que somos nós que pagamos, dos anúncios cobrados a preço de ouro, para dizerem duas bacoradas, que alguém paga...e mais o que por vezes só sabemos pelos jornais, como aquele pequeno almoço de vómitos, com o primeiro ministro, que rendeu votos e muito pilim, mas que não era para se saber...

Isto para não falar de uma colecção de carreiristas, bem sucedidos, que passaram pela política e que através dela sacaram balúrdios...tudo gente muito patriota!!! Os nomes andam por aí, em bolandas, por causa de escândalos de corrupção, mas sempre na crista da onda...ora com chorudas retribuições por aquecerem a cadeira de uma administração, ora com pensões douradas que são insulto para a miséria que alastra...

E que dizer dos Amorins, Belmiros, Mellos, Berardos, Espíritos Santos, Champalimauds e muitos outros?

Pois meus amigos, não me lembro de ter ouvido falar disto: Mouskouri, que foi membro do parlamento europeu, durante cinco anos na década de 90, usufruía de uma pensão anual de cerca de 15mil euros, doou essa pensão ao seu país, mergulhado na crise da bancarrota.

Tendo afirmado, sempre com orgulho a sua origem grega, nas suas digressões mundiais, Nana Mouskouri mostrou a coerência do seu sentir. Para o bem e para o mal.

Um exemplo, que num país de oportunistas, chamado Portugal, não irá ser, certamente, seguido...

Até porque, como disse há dias João Gobern, na Antena Um, "Azar o nosso, que até nos ricos somos pobres!"

Texto de Luís Filipe Maçarico. Vídeo com Nana Mouskouri, re-interpretando Va Pensiero, da ópera Nabucco, de Verdi

Um poema de Ary dos Santos






Num ano em que os pobres aumentaram, lembrar a poesia de José Carlos Ary dos Santos é mais uma forma de repudiar esta Sociedade mesquinha, egoísta e hipócrita em que vivemos, onde Ser não é importante, porque o que importa é chafurdar no consumismo e parecer, a grande meta a atingir, como se em redor, em vez de pessoas só houvesse lixo. Ora leiam (e reflictam):

QUANDO UM HOMEM QUISER

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitros de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Poema de José Carlos Ary dos Santos
Fotografias (recolhidas em Viana do Castelo) por Luís Filipe Maçarico







NOTA: Clicando no título deste post poderá escutar Paulo de Carvalho, interpretando o texto de Ary, com música de Fernando Tordo.

sábado, dezembro 04, 2010

Aldrabas e Batentes nas Portas de Viana do Castelo


















Viana do Castelo possui um património notável nas suas portas: aldrabas e batentes, que os ferreiros de antanho moldaram, nas suas oficinas, com uma criatividade que deve ser destacada. São estas jóias imperceptíveis que conferem um valor afectivo às velhas ruas das nossas cidades, vilas, aldeias, pois o tempo que evocam é o da escala humana, de uma vida onde a pressa não era desejável...
Preservá-las é defender a identidade dos lugares, com respiração poética, que ainda nos encantam.
Moradores, proprietários, construtores, arquitectos e autarcas devem pensar nestas questões, que em certos territórios urbanos não foram ponderadas.
Aqui ficam algumas imagens que documentam estas reflexões, com os parabéns ao Povo de Viana, por ter sabido guardar estes tesouros, que chamam a atenção dos viajantes atentos.

Texto e imagens (recolhidas em Maio e Novembro de 2010) de Luís Filipe Maçarico