"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, dezembro 09, 2010

Um poema de Ary dos Santos






Num ano em que os pobres aumentaram, lembrar a poesia de José Carlos Ary dos Santos é mais uma forma de repudiar esta Sociedade mesquinha, egoísta e hipócrita em que vivemos, onde Ser não é importante, porque o que importa é chafurdar no consumismo e parecer, a grande meta a atingir, como se em redor, em vez de pessoas só houvesse lixo. Ora leiam (e reflictam):

QUANDO UM HOMEM QUISER

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitros de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e combóios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da mulher

Poema de José Carlos Ary dos Santos
Fotografias (recolhidas em Viana do Castelo) por Luís Filipe Maçarico







NOTA: Clicando no título deste post poderá escutar Paulo de Carvalho, interpretando o texto de Ary, com música de Fernando Tordo.

2 comentários:

Egas Branco disse...

Amigo,
Foi bom ter-nos lembrado este belíssimo poema de um grande poeta, nesta época em que muitos se esquecem dos que estão fora do seu pequenino círculo de amizades.
Grande abraço

Egas Branco disse...

Amigo,
Foi bom ter-nos lembrado este belíssimo poema de um grande poeta, nesta época em que muitos se esquecem dos que estão fora do seu pequenino círculo de amizades.
Grande abraço