"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, fevereiro 19, 2012

Horizonte Revelado: Exposição do Centenário do Nascimento de Alves Redol














Felicito o Museu do Neorealismo, de Vila Franca de Xira, pela magnífica exposição sobre a vida e a obra de Alves Redol "Horizonte Revelado".
David Santos e o filho do escritor, António Mota Redol, realizaram um trabalho fantástico, de grande qualidade e rigor, que se estende pelo primeiro andar do Museu, na distribuição dos materiais expostos, como na organização dos temas abordados.
O espólio fotográfico, os cadernos de campo, a revelação dos bastidores da escrita, que passa pela própria existência do autor, uma entrevista radiofónica a Igrejas Caeiro, o repositório dos inúmeros recortes da sua colaboração na Imprensa, os artigos acerca da sua obra, assinados por grandes vultos da nossa cultura, objectos pessoais, exemplares dos seus livros, são alguns dos emocionantes momentos desta exposição.
Da África ao Douro, passando pelo Ribatejo, o visitante acompanha o percurso de Redol, decifrando uma história de vida, que é circunstância decisiva, para a força da sua escrita. Com Gaibéus (1939) inaugura-se na literatura portuguesa um "compromisso estético e social"... E como ele escreveu em "Avieiros", "O escritor não é ser passivo ante o mundo que o cerca."
Notável, o dedicado "trabalho de campo" do escritor, recolhendo, através da fotografia e de muitas notas, que registou em cadernos de observação etnográfica, a informação fundamental para criar os personagens de alguns romances.
Redol comentou, a este respeito, que "Muitos chamam recolha, talvez impropriamente, a esta busca de contacto humano (...) Na verdade, não se recolhem os materiais da vida; vivem-se."
Recomendo vivamente uma visita, aos que admiram a obra de Redol, pois a exposição termina no próximo dia 11 de Março.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

sábado, fevereiro 18, 2012

A Última Viagem de Victor Borges



Curvo-me perante a memória de Victor Borges, o espantoso criativo de Benafim, escultor desassombrado, investigador autodidacta, ousado escritor, homem inquieto, que foi a primeira pessoa a falar-me de Eduardo Ramos e a quem deu o meu contacto, quando o artista procurou o meu rasto, pois queria editar um disco, transcrevendo um poema que lhe oferecera no 1º Festival Islâmico...

Victor Borges realizou uma magnífica exposição, no castelo de Silves, alugando uma tenda árabe, com desenhos e estórias, interpretando o passado árabe da Shelb dos poetas luso-árabes, como Ibn Amar e Almutamid...

Em Loulé, podemos admirar uma escultura de sua autoria, "Ara Vitae", que originou polémicas na imprensa, por parte de alguns intelectuais moralistas, a quem o nú arrepia os delicados miolos e o sangue azul das veias decadentes.

Amanhã desces à terra, Amigo Lunático, sofredor inadaptado, neste estranho enclave de brandos costumes e autómatos bem comportadinhos, que quando se passam são uns grandes filhos da puta!!!

Amaste as tuas Divas morenas, mouriscas, de forma apaixonada, pois a serenidade não era a tua praia...

Ficam estas palavras desajeitadas e a sensibilidade, o enorme silêncio das palavras desajeitadas e o coração ferido, por saber que um jovem como tu, com tanto para dar, foi-se embora de repente.

Não sou de invejas, Victor, mas essa viagem, confesso que tenho pena de não a ter realizado, também quando era novo, e ter de andar por cá, recebendo notícias como esta tua partida, para continuares na incessante procura, pelos árabes do imaginário do sul...

Paz à tua Alma!

Luís Filipe Maçarico (texto) Fotografia da escultura Ara Vitae, recolhida na Net.

domingo, fevereiro 12, 2012

OLHO NOS OLHOS, ESTES VELHOS




Olho nos olhos, estes velhos
De faces rugosas e mãos
Deformadas de tanto trabalho
Escravo, à torreira de um
Sol castigador.

Olho nos olhos, estes sábios,
Dizendo admiráveis palavras
Que parecem fotografias
De um tempo de carência,
Relatando dias assombrosos
Pegadas indomáveis
De teimosa dignidade,
A resistência!

Olho nos olhos, estes camponeses
Do sul, sentados no largo da aldeia,
Ao postigo da casa ou comendo o cozido
De grão, falando como se fossem pássaros,
Do ar de liberdade que passou por aqui
E eles sonharam para sempre!

E ao olhá-los, sinto que pertenço
A esta luta, que também são minhas
Algumas pegadas, no pó dos caminhos da revolta.
Cada poema é uma bandeira de esperança,
À espera do dia desejado. E cada gesto, a certeza
Que estes homens e mulheres
Não fizeram a caminhada em vão…

4-6-2011

Luís Filipe Maçarico (poema incluído nas páginas 42 e 44 do Livro "Morada da Poesia, Poetas Celebram Manuel da Fonseca", edição da Câmara Municipal de Castro Verde, Novembro de 2011).
A fotografia dos desenhos de Manuel Passinhas, que ilustrou o livro referido, também é da autoria de LFM.
A fotografia com António Manuel, de Mértola, que me inspirou este poema, foi realizada pelo Amigo Ruas, do restaurante Tamuje. Em 7 de Maio de 2011 António Manuel tinha 92 anos e meio. Era um alentejano feliz porque tinha o cérebro em bom estado, cheio de lucidez... Nasceu na Amendoeira da Serra, tem 2 filhos, 6 netos, 6 bisnetos e 1 "tirineto"... "De vez em quando no Natal, na Páscoa e esses dias maiores, juntamos todos, fazemos uma festa!" Este é o Alentejo que me agrada. Da conversa, da memória e da identidade. Sem eles, a paisagem era apenas uma tela, vazia. Alentejanos, Poema Maior!

terça-feira, fevereiro 07, 2012

O Grande Negócio da Caixa DDT e a Atitude de Um Povo Que Anda À Babugem...





Aqui jaz a televisão que me foi oferecida há alguns anos por uma amiga.
No início deste mês, como sabem, Lisboa sofreu apagão televisivo e só quem se muniu de plasma ou da caixa DDT pode continuar a drogar-se com o sangue e a violência dos telejornais, que ao longo do tempo nos têm preparado para o pior, na hora da sopa. E talvez isso explique tantos dependentes, tantos portugueses colados à cadeira, à poltrona, ao sofá...que na hora de mostrar que são seres humanos preferem encolher os ombros e continuarem ligados à máquina.

Sem ser herói, optei por voltar a um desprezo que durou décadas.

Quero que a comunicação social arregimentada se lixe com éfe e que a ministragem tenha a mesma dose.
Se todos fossem como eu, que recusei pagar quase 50 euros pela caixa DDT ou 200 e tal euros pelo plasma, para ver apenas 4 canais sem golpe de asa, outro galo cantaria.


Mas os portugueses, mesmo os que se dizem de esquerda, precisam da companhia deste poderoso inimigo, há qualquer coisa de masoquista na ausência de uma razão, para sucumbirem hipnotizados todos os dias, diante do écran, fazendo a lavagem ao cérebro, como eu faço fisioterapia.

Vivemos no país que permitiu um Coelho, depois de um rally paper, saltaricando alegremente sobre obstáculos, com o poder que o antecedeu.

Ora bastava estarmos num tempo de crise e de violenta austeridade, para as pessoas demonstrarem, que não havendo mais recursos, cortadas as pensões, os subsídios e os salários, as férias e as pontes, não haveria mais dinheiro, nem público, para suportar as discursatas dos maus gestores travestidos de políticos. Então eles não dizem, constantemente, que o povo deu o passo maior que a perna e que é preciso poupar? Logo a seguir roubam-nos o direito a acedermos à informação (mais desinformativa que outra coisa...) que só podemos recuperar se pagarmos balúrdios?

Afinal, não só há dinheiro, como assistência para aplaudir os maus actores. Que com certeza continuarão a sacar-nos o que temos e o que não há.
Os portugueses têm o que merecem!

Nota: Para constatarem que falo verdade, aqui está a imagem que a velha TV apresenta quando carrego no botão que antigamente me mostrava o mundo (mesmo que manipulado...)

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

segunda-feira, fevereiro 06, 2012

HUMOR NEGRO, A PROPÓSITO DOS PASSEIOS ARTÍSTICOS DA CIDADE DE LISBOA






Rua próxima do Clube Desportivo Cova da Moura, não muito distante do Hospital da CUF e o Ministério dos Negócios Estrangeiros, que se situam a escassos metros...

A nutricionista que me acompanha... aconselha-me a andar!
Os meus amigos, dizem-me que... tenho de andar!
Até uma dirigente do serviço onde trabalho... acha que devo andar... mas insiste que tenho de fazer dieta, senão - acrescenta - fico cego e sem pernas...

Todavia, andar por onde?

Os passeios, muitos passeios da cidade estão assim, como as fotografias documentam...
E sempre que me distraio e me entusiasmo a andar, acabo por ir parar às mãos da Doutora Tatiana, a dedicada fisioterapeuta que me acompanha, desde Setembro, por causa dos pés, sucessivamente torcidos e retorcidos, nos empedrados dos passeios de Lisboa, armadilhados por autênticos alçapões, com buracos, declives, planos inclinados e viaturas diversas, estacionadas em cima das portas das casas, afundando ainda mais o solo, para caminharmos, como se estivéssemos numa pista de circo ou num campo de batalha...

Um dia destes pensei: Tenho mesmo de fazer dieta, porque senão, é a alma que se contorce, nos desníveis e poços fundos dos passeios de Lisboa, cuja residual escola de calceteiros aplica a sua arte, para proteger as patas de quem tem dinheiro, para melhor nos espezinhar.
Caí porém na realidade, ao lembrar-me que a magra Dona Zaida, minha vizinha, partiu o pé na Rua Prior do Crato há uns anos, por causa dos mesmos buracos que me atormentam.
Caminhar? Não, Obrigado!

Luís Filipe Maçarico

domingo, fevereiro 05, 2012

Outra Notícia Boa: Novos Corpos Sociais do GDEC Tomaram Posse


Aspecto da sala, durante a cerimónia de posse dos corpos sociais para 2012 (Foto de LFM)


Alguns dos directores eleitos e associados da colectividade assistindo, em pé, ao acto (Fotografia de LFM)


Odete Roque, a Presidente do Conselho Fiscal reeleita (Foto de Joana Franco)

O momento em que Júlio Machado tomou posse como presidente da Direcção. (Foto de LFM)



A Mesa da Assembleia Geral reeleita, com Orlando Rebelo no centro (Foto de LFM)



Esta tarde, Orlando Rebelo, antigo aluno e atleta do Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", colectividade nascida em 30 de Setembro de 1906, onde Aida Baptista, Maria Clara, Tony de Matos, Artur Duarte e Sidónio Muralha foram associados (e no caso das artistas mencionadas, ali começaram, enquanto vedetas do teatro de revista e da canção) deu posse aos novos corpos sociais, eleitos perto do Natal passado.

Usando da palavra, o Senhor Orlando lembrou que "Isto é um compromisso de honra que a todos responsabiliza."
Júlio Machado, de novo empossado como Presidente da Direcção, lembrou que "Esta direcção era para se ir embora" mas, como em tempos a colectividade "Era a nossa primeira casa e nós aqui passávamos os dias e as noites", "repensámos e estamos cá."
Odete Roque, que volta a ser presidente do Conselho Fiscal, frisou a importância do associativismo para aprender, quando jovem, a exercer a cidadania e enquanto adulto, a contribuir para o bem estar da comunidade, através da cultura, do desporto, do convívio e do respeito pela diversidade.

(Conforme divulguei oportunamente, na assembleia geral - bastante participada - para eleição dos novos corpos sociais, realizada em Dezembro, registou-se um número recorde de votantes, tendo a Lista A obtido 80 votos, dos 83 associados que exerceram o seu direito. )

Todas as intervenções foram aplaudidas com entusiasmo, pelas dezenas de associados que assistiram ao acto solene, seguindo-se um almoço, cujo menú incluiu uma magnífica sopa de legumes e uma maravilhosa feijoada, cozinhadas por elementos da direcção, peritos em inventar sabores de comer e chorar por mais.
Bem hajam estes 'Combatentes', que não deixaram estagnar uma colectividade emblemática!

Texto de Luís Filipe Maçarico Fotografias de Joana Franco e de LFM.

Uma Semana na Vida da Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular


















Das boas notícias que apetece partilhar, há que dizer que, decorridos sete anos, desde que em Novembro de 2004, um grupo de cidadãos, decidiu formar, em Montemor-o-Novo, o embrião de uma nova associação, para a salvaguarda do património, escolhendo uma Comissão Promotora, que em 25 de Abril, no Ateneu Comercial de Lisboa, apresentou aos 80 fundadores o projecto, a Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular, está activa, apesar do contexto de crise de valores, que vivemos.

No espaço de uma semana, a Aldraba, realizou uma Assembleia Geral tipo - maratona, com a participação de um maior número de associados e uma rota, do Castelo a São Tomé, com Carlos Consiglieri e Marília Abel, a guiar as várias dezenas de caminhantes.

Na Assembleia Geral de 27 de Janeiro, aprovou-se, além do relatório e contas do ano transacto, o orçamento e plano de actividades para 2012, bem como a alteração de estatutos e regulamento geral interno e ainda o valor da jóia e quota. Os associados presentes, aclamaram o trabalho da direcção e as suas propostas, acrescentando sugestões que foram bem acolhidas.

Ontem, 4 de Fevereiro, foi a vez de revisitar Lisboa, e apesar da manhã fria, juntaram-se associados e amigos para, como escreveu Maria do Céu Ramos na sua página no Facebook, "uma lição de história sobre o Castelo de São Jorge, todos os mitos, todos os ataques ao património, feito ao longo dos anos. Depois descendo sempre, Igreja do Menino de Deus, Santo André, Largo de São Tomé, Calçada dos Cavaleiros"...

Para a história da associação fica a reportagem fotográfica.
As boas notícias são para partilhar.

Luís Filipe Maçarico (texto) Fotos: (Luís Filipe Maçarico) Foto em que LFM está na AG da Aldraba - Círia Brito.

sábado, fevereiro 04, 2012

Novela Chunga A Pedir Vernáculo!






Há uns meses atrás, os meios de comunicação social falaram de uma aberração, que configurava uma portagem dentro da cidade, - na rua, junto ao rio, que liga Alcântara ao Cais do Sodré...
Muita tinta correu sobre o assunto, tendo os automobilistas derrubado uns vasos enormes, que em cima do passeio, que separava as rotundas, impediam a circulação, outrora fluente, obrigando a pagar uma taxa num parque emeliano...ou a recuar e voltar ao ponto de partida, sem apelo nem agravo..

Igualmente rebentaram, os populares, com o passeio, escavando uma rampa, desafiando uma imposição sem nexo.
Ao que parece, a intenção de dificultar a vida às pessoas foi por água abaixo.
Um dia destes, as rotundas vão à vida e regressa a estrada sem intervalos. Esperemos pelos próximos episódios do argumento de sabor sul americano, como nas novelas chungas.

Os parques de estacionamento, que entretanto surgiram, como cogumelos, na zona das docas, apresentam tarifários que são um mimo.
Façam então as vossas contas e optem!

Para chamar certos nomes, aos grandes cérebros de alpista, que inventaram todas estas formas de extorquir dinheiro não preciso de pôr legenda, pois não? Ora queiram fazer o favor de trazerem o vernáculo à baila, se vos apetecer...
Como diria um fantoche que anda por aí, "Ouviu bem?"

LFM (texto e fotos)