"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, janeiro 25, 2014

Estupidez Estridente

 

Inúmeros assuntos nos ocorrem, para actualizar o blogue, mas nem sempre o espírito se mobiliza para a escrita entusiástica, sucumbindo a rotinas, que fazem protelar temas e problemáticas com iminente interesse. E assim se vai adiando o regresso aqui...

É o caso das praxes, que tenho observado no meu quotidiano e que vivenciei uma vez, aquando da minha primeira incursão no mundo académico. Talvez por ter mais idade, que os companheiros da Licenciatura, não fui submetido às ofensas e vexames, que alguns deles sofreram, mas ainda assim tive de desfilar, com um penico na cabeça, como se fosse um modelo, numa "passarelle", pois parte substancial dos colegas (não nos conhecíamos, eram os primeiros momentos na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas), ficaram na expectativa de uma palhaçada, que divertiria todos, aceitando o que se seguiu...

Não sei quem seria o "Duce", o chefe, que movimentava as zombies (as mulheres do curso anterior, que assim nos recebiam, eram maioritárias), todavia, pela histeria exibida, talvez fosse uma gorda, que não se parava de berrar, dando ordens estapafúrdias, tentando maltratar verbalmente, aqueles que pareciam mais frágeis, transpirando tiques de autoritarismo...

Sinto repulsa, por aqueles que impõem essas actividades, de uma forma radical, violenta, com risco da própria vida, que já mataram vários jovens e que as notícias recentes fazem reflectir, no que concerne à ausência de decisão das Universidades, permitindo reitores e professores, pais e alunos, a sua existência, que se mantém, a coberto de um fechar de olhos e encolher de ombros, dos dirigentes das instituições superiores de ensino.

Quando no início dos anos noventa, cheguei à Universidade Nova de Lisboa, para frequentar (e concluir) o curso de Antropologia, deparei-me com essa situação medíocre, onde abundava a estupidez estridente, de meninas veteranas, naquele momento investidas com o poder de humilhar os que chegavam.

Em vez de uma aula, aquela fauna de finalistas, trajados com aquelas vestes que nunca usei, mal formados, enquanto seres humanos, invadiu o anfiteatro, onde esperávamos por um professor, eventualmente conivente, tentando maltratar os novos estudantes, que acabaram por dar, à Comunidade, um fotojornalista de grande qualidade, laureado com um prémio mundial, investigadoras, que desenvolveram a sua pesquisa, em áreas tão diferentes, como a memória dos Mineiros de Aljustrel, O Contrabando, o Cante, o Associativismo e a Polícia de Proximidade, temas certamente com valor, para entendermos a sociabilidade entre gerações, os desempenhos e suas técnicas, no contexto da História contemporânea. 

Daquela gentalha agressiva e malcriada, que forçou, sob ameaças, gritos e insultos, dois jovens tímidos a simular o acto sexual, em cima da secretária do docente, e obrigou os "caloiros" a comer uma papa intragável, dada a cada um, com colher de pau, nunca mais tive notícias.

Apenas me lembro de ter visto uma das raparigas, na Feira do Livro, ao balcão de uma editora, fazendo biscate. Jovens frustrados, esses, produto de uma Sociedade, que ao aceitar o vómito, se torna permissiva com o espelho deformado, que são estas situações abomináveis.

Devo dizer que me sinto, ainda hoje, muito honrado de ter pertencido àquela turma, que recusou fazer o mesmo aos jovens do ano seguinte, os quais, para nosso espanto, chegaram à Universidade, ávidos de serem praxados. 

Luís Filipe Maçarico

segunda-feira, janeiro 13, 2014

13 de Janeiro: O Esquecimento Geral

 
Dia 13 de Janeiro. No final do século XIX, inúmeros municípios, que tinham sido extintos, foram restaurados. No tempo presente são raros aqueles que festejam (Cadaval, Viana do Alentejo e Vila Nova de Poiares) a data. Quase todos, foram apagando essa memória e, tal como o Seixal e Palmela, Penaguião também mudou o seu feriado municipal. Santa Marta, figura bíblica, que acompanhou Jesus, é a padroeira e, apesar do seu nome designar freguesias de Penafiel, Amares, Vila Pouca de Aguiar, Seixal, Viana do Castelo, antas, faróis, fortes, um hospital e a casa onde os cardeais que elegem os papas, ficam alojados, durante os conclaves, eis que foi criada uma marca, com o seu nome para valorizar vinho e castanhas. A Santa ganhou a possibilidade de forasteiros, da emigração a venerarem, em dia feriado, e o enfoque religioso passou a ter a cobertura do poder civil. Abençoados sejam os que se lembram dos emigrantes e pensam nos ventres felizes dos bebedores e comedores de castanhas. Amén.

terça-feira, janeiro 07, 2014

O Espectáculo Sinistro da Morte Mediatizada

 

Quando Amália faleceu, irromperam nas televisões, rádios, imprensa escrita e Internet, textos e vozes opinativos, num desfile repetitivo, banalizado, que foi necessário deixar passar tempo, para se poder voltar a escutar um Fado, cantado pela grande cantora...

Ocorreu por estes dias, a propósito do falecimento de Eusébio, um dejá vu na insistência dos comentadores de tudo, que tornou o acontecimento num espectáculo mediático deplorável. 
Como era previsível, as faces dos famosos (em parte por más razões) apareceram, trazendo braçados de elogios fúnebres. O defunto merecia um recolhimento que não existiu...

Nas redes sociais, não tão pouca gente como isso, ainda que manifestando pesar, criticou o aproveitamento dos poderosos, da comunicação social, dos anónimos que no cemitério, impediram a cerimónia final e a proposta para os restos mortais do herói desportivo serem depositados no Panteão... Mas...e se os outros clubes e modalidades começam também a reinvindicar um espaço para os seus atletas mais relevantes?

Subscrevi algumas palavras de Amigos virtuais. 
Na página de uma antiga utente, como eu, da fisioterapia, apareceram, de repente, os comentários provocadores duma jovem fanática, com cabeça de velha moralista, que resolveu descarregar em mim, toda a ira do mundo, todas as frustrações, que deve transportar, quiçá desde prováveis traumas de infância...além de patentear uma elementar má formação, demonstrando falta de respeito, para com as opiniões daqueles que não consensualizam o seu olhar, de menina caprichosa e mal educada. 
Coitada, se fosse uma pessoa equilibrada, discordava, pois tem direito à sua opinião, mas não ofendia...com uma linguagem de sarjeta, que me levou a bloquear a página.

Há uma certa gentalha que não consegue viver em liberdade, fruto do excesso que os pais alimentaram, em vez de lhes ensinar que a vida não é o umbigo...

Gritarei então neste espaço, sem mordaças, que é uma vergonha falecerem - aqui, neste país - obreiros anónimos (todos os dias), em acidentes de trabalho, bombeiros que todos os Verões tentam proteger o bem comum, das árvores, às casas e ao património comunitário, cidadãos, quase esquecidos, como Aristides Sousa Mendes, detentores de grande sensibilidade, que a comunicação social ignora.

Desgraçado tempo dos descartáveis, da alucinação colectiva, com as cabeças formatadas para o ditâme que o consumo ordena, hostilizando os que saiem fora do baralho. 
Resta-me a consolação de ser desconhecido, para que um dia, as minhas cinzas, discretamente, possam ir parar, onde os meus amigos tenham a fraternidade de me juntar à terra e ao mar, que são a minha essência.

LFM (texto e foto)

quarta-feira, janeiro 01, 2014

2014: Todos os Desejos são Legítimos!

 

2014 entra com uma promessa de insensatez, por parte de quem devia promover o equilíbrio e tranquilidade da vida dos que têm menos recursos...
Leio que, no Japão, serão os sem-abrigo que irão limpar a área afectada pelo desastre nuclear de Fukushima. Por cá, no fogo cruzado de informações, soube-se que o Governo vai obrigar os hospitais a receitarem menos medicamentos... Leio também que muitas pessoas entendem mais de futebol, que de direitos humanos, o que implica desconhecerem que têm direito ao bem estar que lhes é negado...e em vez de lutarem por melhores dias, passam o tempo a ver TV e a falar de mourinhos, ronaldos e quejandos...

Apesar de sermos uma pequena gota de água, no desmedido Mar que é o Mundo, nas nossas mãos pode estar a essência de uma mudança.Se eu tivesse seguido o guião de algumas senhoras benfazejas, nunca teria viajado e editado livros, jamais completaria os três cursos universitários, que me enriqueceram espiritualmente, e vivendo - como esses camafeus sugerem - um dia de cada vez, estaria aqui a um canto, a morrer de medo e tédio.

Como nunca baixei os braços e quis ser feliz, exorto os meus leitores a SONHAREM o seu FUTURO, a planearem objectivos e projectos que desejam ver realizados. Desde que não espezinhem ninguém, TODOS OS DESEJOS SÃO LEGÍTIMOS!

Um ano 2014 excelente para todos. Pode ser um ano mágico, porque contém dois setes (7x2). 

Se conseguirmos vencer os Ladrões de Sonhos, já terá valido a pena caminhar deste novo Janeiro até ao próximo Dezembro.

Vá, atrevam-se a ser felizes. Lutem por um Mundo Melhor!

Luís Filipe Maçarico