"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, abril 26, 2009

Sátão


















Um folheto do Município de Sátão revela que o concelho primitivo é antiquíssimo e teve o seu primeiro Foral concedido em 9 de Maio de 1111.
Nesse documento histórico (transcrito na contracapa da Agenda Cultural de Janeiro/Fevereiro de 2009) podemos ler:
"...Eu, Conde Henrique, juntamente com minha esposa Teresa, filha do grande Rei Afonso, concedemos a vós, gentes de Sátão, que habitais dentro e fora as herdades e povoações, concedemos sim, e outorgamos um Foral bom em razão do que vós usastes para connosco e por nos terdes agasalhado em vossa casa. E não deixeis de o seguir, nem vós nem os vossos descendentes..."
De características rurais, Sátão tem néctares da Região Demarcada dos Vinhos do Dão. E um património material e imaterial que vale a pena conhecer, nomeadamente o Solar dos Albuquerques (actual Biblioteca Municipal), além de outros edifícios com a marca do barroco e aldrabas, fontes, jardins, o arvoredo, os ares, as serras, a gastronomia, as pessoas.
O folheto sublinha que se trata de um concelho "Onde as pessoas sabem receber bem" e que "visitar o concelho situado às portas de Viseu é um "dever" de todos os Beirões."
Qualquer pessoa sensível e interessada por uma paisagem natural envolvente e pela história que as pedras contam, encontrará em Satão motivos para se enriquecer a nível cultural.
Aqui ficam algumas imagens do que vi numa breve passagem por esses belos horizontes.
Texto e Fotos de Luís Filipe Maçarico

sábado, abril 25, 2009

35 Anos Depois O Povo Saiu À Rua















Foi bom voltar à rua e receber cumprimentos de velhos e novos amigos (alguns deles aqui em destaque) e outros como João Rodrigues, Fernando Duarte, João Pedro, Carlos e Maria Ana...
Há 35 anos o país era diferente, não havia luz, água, saneamento básico num imenso Portugal abandonado. O analfabetismo era enorme. A pobreza, a emigração, a guerra, a censura, a polícia política e dos costumes, era tudo verdade, uma triste verdade de um país do qual se tinha vergonha. País sufocante.
Há quem deseje reeditar esse arremedo de país tão cinzento. No Governo, em autarquias, no dia a dia lutamos contra os que nos roubam fatias de Abril e nos querem voltar a sufocar.
Foi bom voltar à rua para dizer que Abril respira na força e na esperança dos que querem um país melhor. Estes que farão tudo para que se cumpra o que falta desse Abril que abriu as portas do sonho e da liberdade.
Luís Filipe Maçarico

quarta-feira, abril 22, 2009

NÃO VOLTAREMOS ATRÁS: 25 DE ABRIL SEMPRE!!!



Em 25 de Abril de 1974 o rapaz da fotografia era furriel e estava em Nampula. Tinha chegado a Moçambique no dia das mentiras, mas era uma verdade de pesadelo. Os que nasceram depois podem perceber do que falo, se seguirem a série A GUERRA, que o canal 1 da RTP tem estado a exibir.
Eu era um puto de 22 anos, que tinha andado no curso comercial, porque desde pequeno queria seguir as pegadas bem sucedidas do meu tio Armando, que me ajudara a criar e era o modelo masculino, face à ausência do pai indiferente. A avó era mãe duas vezes. Devo a ela aquilo que sou. Quando eu rezingava, durante a adolescência, com acessos de agressividade face aos pais distantes, à vida de pobre, à fome de afecto, à míngua de bens, a avó profetizava que eu ainda ia desejar muito a sua companhia, esse sim, o Bem Maior. Tinha razão. Evoco-a aqui nesta página que lembra de raspão o Portugal exangue e bolorento e fala do Portugal sonhado, desejado - que foi intensamente trilhado, mas descarrilou nesta curva apertada em que vivemos, com tanta gente esquecida daquele passado triste, a desejá-lo de novo.
Gostaria apenas de ser aquele jovem mas com a sabedoria de hoje. Sei que é impossível. No entanto, sou amado. Uma luz aparece no meu caminho, incendeia-me de esperança. Não quero voltar atrás. Tenho amigos, estou de bem comigo. Publiquei vários títulos, entre versos, contos e estorinhas para a criançada, fiz teatro, viajei, participo há anos no Associativismo Popular, fundei associações, publiquei milhares de poemas em jornais e revistas, artigos em revistas de referência, gosto de viver e renovo-me em cada passo, embora haja dias e dias de cansaço e muita luta (mas não desisto) contra a estupidez e a injustiça. Sigo a máxima de Lenine: Aprender, Aprender Sempre!!! O velhote da outra imagem sou eu, autografando um dos meus livrinhos. Continuando a caminhar...

Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.

Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.

Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...

Nunca perseguí la gloria.

Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.

Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.

Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...

Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso...

Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."

Golpe a golpe, verso a verso.

Antonio Machado

Oiço de novo Ermelinda Duarte e o seu SOMOS LIVRES:

"Ontem apenas
Fomos a voz sufocada
Dum povo a dizer não quero;
Fomos os bobos-do-rei
Mastigando desespero.

Ontem apenas
Fomos o povo a chorar
Na sarjeta dos que, à força,
Ultrajaram e venderam
Esta terra, hoje nossa.

Uma gaivota voava, voava,
Asas de vento,
Coração de mar.
Como ela, somos livres,
Somos livres de voar.

Uma papoila crescia, crescia,
Grito vermelho
Num campo qualquer.
Como ela somos livres,
Somos livres de crescer.

Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
Não vou combater".
Como ela, somos livres,
Somos livres de dizer.

Somos um povo que cerra fileiras,
Parte à conquista
Do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
Não voltaremos atrás. "

25 DE ABRIL SEMPRE!!!

terça-feira, abril 21, 2009

Poema de José do Carmo Francisco


Alexei Bueno nas Escadinhas do Duque


Tinha que ser escritor este bandeirante

Nome herói de romance em homenagem

Assim a Rússia já não fica tão distante

Numa vida que é também uma viagem


Nas Escadinhas do Duque é rei à mesa

Dá lições de poesia em breve seminário

Entre cerveja e amendoim nasce a beleza

Da Poesia que o Mundo vê ao contrário


Somos poucos aqui um grupo acantonado

Na mesa posta por D. Rosa na sexta-feira

Viajamos num bacalhau bem temperado

Pelo azeite tão puro e leve duma oliveira


No Camões a mulher feia vende cocada

Desesperam por um visto os brasileiros

Que pena a vida não poder ficar parada

Aqui onde os poemas nascem inteiros


José do Carmo Francisco


NOTA: Agradeço ao autor a permissão que me deu, para poder transcrever este poema no meu blogue...

domingo, abril 19, 2009

Cais do Ginjal












Quando os teus olhos
estiverem nesta paisagem
quebro o silêncio
que alimenta a minha solidão
e derramo toda a ternura
no mar da tua língua.

Lisboa, 19-4-2009, 20:37

Luís Filipe Maçarico

sábado, abril 18, 2009

Pérolas


Nenhum barco desce o rio.
Nenhum pássaro canta hoje.
Pérolas de chuva escorrem
dos beirais. Serão lágrimas?
O grande silêncio
fez ninho.

Nuvens negras
toldam a paisagem.
Não há nada para dizer.
A poesia secou
no cais de não partir...

Mértola, 18-4-2009
14:30 e 16:30

Luís Filipe Maçarico

quarta-feira, abril 15, 2009

Xutos e Pontapés- Sem Eira Nem Beira








Anda tudo do avesso
Nesta rua que atravesso
Dão milhões a quem os tem
Aos outros um passou - bem

Não consigo perceber
Quem é que nos quer tramar
Enganar
Despedir
E ainda se ficam a rir

Eu quero acreditar
Que esta merda vai mudar
E espero vir a ter
Uma vida bem melhor

Mas se eu nada fizer
Isto nunca vai mudar
Conseguir
Encontrar
Mais força para lutar...

(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a comer

É difícil ser honesto
É difícil de engolir
Quem não tem nada vai preso
Quem tem muito fica a rir

Ainda espero ver alguém
Assumir que já andou
A roubar
A enganar
o povo que acreditou

Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar
Conseguir encontrar mais força para lutar
Mais força para lutar...

(Refrão)
Senhor engenheiro
Dê-me um pouco de atenção
Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Não tenho eira nem beira
Mas ainda consigo ver
Quem anda na roubalheira
E quem me anda a foder

Há dez anos que estou preso
Há trinta que sou ladrão
Mas eu sou um homem honesto
Só errei na profissão

Pra Não Dizer Que Não Falei De Flores*





Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não
Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Caminhando e cantando
E seguindo a canção...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Pelos campos há fome
Em grandes plantações
Pelas ruas marchando
Indecisos cordões
Ainda fazem da flor
Seu mais forte refrão
E acreditam nas flores
Vencendo o canhão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Há soldados armados
Amados ou não
Quase todos perdidos
De armas na mão
Nos quartéis lhes ensinam
Uma antiga lição:
De morrer pela pátria
E viver sem razão...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(2x)

Nas escolas, nas ruas
Campos, construções
Somos todos soldados
Armados ou não
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Somos todos iguais
Braços dados ou não...

Os amores na mente
As flores no chão
A certeza na frente
A história na mão
Caminhando e cantando
E seguindo a canção
Aprendendo e ensinando
Uma nova lição...

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer...(4x)

Composição de Geraldo Vandré

Foto: LFM

* Se clicarem no título deste post, assistem a um excerto de um concerto de Simone Bittencurt de Oliveira, cantando este tema, que ela apresentou, ainda menina, na Festa do Avante no Alto da Ajuda...