"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, fevereiro 28, 2006

ATÉ JÁ, OLAVO!



Estimado companheiro Olavo:

O seu exemplo associativo e humano, de indivíduo discreto, mas com uma qualidade de entreajuda e de harmonia no colectivo, que o distingue, estimula-me a ser momentaneamente egoísta, para lamentar a sua ausência durante os quatro anos que começam dia 1.

Aliás, não me sentiria bem comigo mesmo, se não destacasse nesta hora:

- a adesão, o incentivo e a confiança prestada, logo no encontro de Montemor-o-Novo, a esta jovem associação, ainda na sua proto-história;

- a sua postura na fundação, em que aceitou integrar o Grupo de Trabalho Adeodato;

- o papel desempenhado nesse Grupo, com pesquisa, contributos bibliográficos, deslocações a Coimbra, Casa de Goa, Casa do Alentejo e contactos que enriqueceram o nosso conhecimento de Aljustrel, de Kaliás Barreto e de seu pai Adeodato Barreto.

- o companheirismo demonstrado na forma como coordenou o Grupo nos últimos tempos, com uma disponibilidade notável em termos da recolha de materiais a expôr e do catálogo.

- a partilha quotidiana na direcção, a partir do momento em que foi cooptado, com uma presença que nos engrandeceu, enquanto associação de gente com sentimentos e ideais.

Creia, meu camarada - permita este tratamento - que me sinto envaidecido por ter podido trabalhar consigo e orgulhoso por o ter proposto para a direcção, pois faz-nos falta, pela sua serenidade e sabedoria.

E saiba que só lhe perdoo esta "deserção", porque estou convicto que em Macau a Aldraba irá ter a sua primeira delegação e que será até esses mágicos confins do Oriente que certamente uma próxima direcção encaminhará, com o seu apoio, um encontro da nossa associação.

Contamos consigo!

Até já, Olavo! Você vai ficar cá e lá, porque está no nosso coração também...

Grandabraço do

Luís

sábado, fevereiro 25, 2006

Reflexões Sobre Este Tempo


Com tradução de Paulo Quintela, extraio do livro "Poemas e Canções" de Bertolt Brecht, estas reflexões em forma de verso, que bem podiam ter sido escritas agora:


EM TEMPOS DE ESCURIDÃO
Poder-se-á também cantar?
Poder-se-á também cantar
Dos tempos de escuridão.


*******

ENTRE OS DA ALTA
É tido como baixo falar de comida.
Isso provém de eles terem
Já comido.

(...)

*******


DE QUE SERVE A BONDADE

1

De que serve a bondade
Quando os bondosos são logo abatidos, ou são abatidos
Aqueles para quem foram bondosos?

De que serve a liberdade
Quando os livres têm que viver entre os não-livres?

De que serve a razão
Quando só a sem-razão arranja a comida de que cada um precisa?

2

Em vez de serdes só bondosos, esforçai-vos
Por criar uma situação que torne possível a bondade, e melhor:
A faça supérflua!

Em vez de serdes só livres, esforçai-vos
Por criar uma situação que a todos liberte
E também o amor da liberdade
Faça supérfluo!

Em vez de serdes só razoáveis, esforçai-vos
Por criar uma situação que faça da sem-razão dos indivíduos
Um mau negócio!

*******

NÃO VAMOS AGORA DISCUTIR
Se explorámos o poder quando o tínhamos, agora
Já não temos poder.

Não vamos agora falar
Sobre se isto vai sem violência. Agora
Foi a violência que nos derrubou.

*******

GENERAL, O TEU TANQUE É UM CARRO FORTE.
Arrasa um bosque e esmaga centos de homens.
Mas tem um defeito:
Precisa de um condutor.

General, o teu bombardeiro é forte.
Voa mais rápido que uma tempestade e carrega mais que um
elefante.
Mas tem um defeito:
Precisa de um mecânico.

General, o homem é muito hábil.
Sabe voar e sabe matar.
Mas tem um defeito:
Sabe pensar.


Bertolt Brecht

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

LUTAR ATÉ MORRER


Antes de Abril acompanhou-me algumas vezes, em casa de amigos, na partilha de um disco novo, raras vezes na telefonia...
A revista Mundo da Canção publicava letras de canções suas, as melodias iam-se enraizando no quotidiano...
Faz-nos falta.
Vi-o no Coliseu, quando deu um memorável concerto, de despedida. Nunca amoleceu, mesmo quando a doença o dilacerava.
Talvez por isso hoje, dia do seu falecimento, a RDP o tenha lembrado, com 19 canções, hora a hora. Pena é que não passe mais música dele no resto do ano.
São 23h 15 e volto a ouvi-lo, como naquela noite emocionante do Coliseu:
"águas das fontes calai
ó ribeiras chorai
que eu não volto a cantar!"

Intemporais, os "Vampiros"estão actuais, tal como "Vejam Bem", "A Morte Saiu à Rua", "Venham Mais Cinco", porque enquanto a sacanisse imperar, o silêncio é cobardia.

A sua música, as suas palavras, a sua respiração criativa fazem-nos falta. Numa época de terrorismo laboral, por parte de quem manda, José Afonso lembra que lutar-até morrer- é um verbo, uma postura, que não se pode arrumar.

A Criança Que Eu Fui


Continuo a descobrir imagens dos meus primórdios nos baús da saudade.
Hoje, apresento-vos o Luisinho, que andava de triciclo na Praça da Armada e sentado no beiral da janela sonhava com viagens , que felizmente foi possível fazer.
Muito gostava eu de fazer beicinho...detestava ser fotografado, esse era o problema!
A propósito do tempo da infância, publiquei um livro de contos, que um dia destes referirei, chamado "Degraus", que a Universitária Editora produziu.

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes"- 100 Anos de Criatividade


Em 1997, na segunda festa das colectividades de Lisboa, com o Jorge Rua de Carvalho e com o Jorge Neves, interpretei um pequeno papel, numa revista idealizada a três, que se chamou "O Teatro Segue Dentro de Momentos", através da qual o Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes" marcou uma boa presença.
Duas décadas depois de ter fundado (1978) um grupo amador na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, voltei a fazer teatro sobre um palco.
Nos "Combatentes" apresentei vários livros, participei em "Noites de Música e Poesia", fiz parte dos corpos sociais durante alguns anos.
Este ano, a colectividade que tem um historial notável, faz cem anos. Por lá passou Arthur Duarte, o cineasta, Tony de Matos, Aida Baptista, Maria Clara, o poeta Sidónio Muralha. E inúmeros atletas de modalidades tão diversas como o boxe, o ciclismo, o basquetebol, o hóquei em campo, o karaté.
Nas colectividades, a cidade humaniza-se, pela possibilidade do encontro, da partilha, da entreajuda, do convívio inter-geracional.
Quando uma casa destas sobrevive aos mais variados obstáculos e se torna centenária, é tempo de celebrar todos os que ajudaram na escola, no desporto, no recreio, na cultura, no dia a dia.
Lurdes Pinheiro, a presidente da direcção de 2006, foi aluna da escola, festejou as bodas do seu casamento no salão da colectividade e já pertenceu a anteriores direcções. Além da gratidão que tem para com a casa que a ensinou a ler, fez uma promessa a um antigo dirigente, que entretanto faleceu, de conduzir as actividades durante este ano. Rodeou-se de gente decidida a trabalhar em prol destes "Combatentes" que nasceram em Setembro de 1906 para combater o analfabetismo.
Em meados dos anos 90 do século passado um grupo de associados criou o museu da colectividade e a par da Lisboa 94 tornou-se famoso o grupo dos Pregões de Lisboa.
Na Arruda dos Vinhos, em Alpedrinha, nos mais diversos locais de Lisboa, a Lavínia, a Paula, o Luisito, os Jorges e mais um punhado de actores amadores elevou bem alto, pela qualidade do desempenho, o nome dos "Combatentes". A hilariedade que este grupo consegue nas suas actuações é um belo trunfo. Esta colectividade está cheia de histórias magníficas para contar.

domingo, fevereiro 19, 2006

Intervalo-IV


Memória de uma das viagens que fiz pela Europa, passando por Veneza. Tinha entrado nos "intas" há poucos anos...

"Diários de Motocicleta"




Walter Salles realizou "Diários de Motocicleta", com um ritmo e uma sensibilidade que desempenhos e imagens comprovam tratar-se de um trabalho de mestria.
A fantochada dos óscares atribuiu-lhe o prémio de melhor canção original, o que não espanta, pois Che Guevara, o personagem central da película foi assassinado nas florestas da Bolívia pela CIA.
Gael Garcia Bernal é excelente no papel de Ernesto Che Guevara, com 23 anos, quando era estudante de medicina e decidiu fazer uma viagem de muitos milhares de quilómetros em motocicleta, com um amigo formado em bio-química. Rodrigo de la Serna, na vida real primo em segundo grau de Guevara, é Alberto Granado, o amigo que Che convidou quando já era o mítico comandante da revolução cubana, para viver em Havana.
Os dois atravessaram países, rios, montanhas, para descobrir no Perú uma colónia de leprosos e mais não digo, porque participamos na revelação emocionante da construção de uma identidade. O filme segue de perto o que ambos escreveram, a propósito desta intensa e belíssima viagem, com um rigor que registou a participação do próprio Granado, bastante idoso, mas "muito jovem de espírito" vindo de Cuba, para acompanhar as filmagens como consultor.
Se gostam de cinema, vejam esta obra, que já existe em DVD, acompanhada pelo documentário das filmagens, que é outro filme dentro do filme, a não perder.

sábado, fevereiro 18, 2006

"Memórias do Contrabando em Santana de Cambas"- A Opinião de Sónia Frade


É com imenso prazer que partilho o texto que a antropóloga Sónia Tomás Frade (fundadora, membro da direcção da Aldraba, empenhado elemento do Grupo de Trabalho Adeodato Barreto) apresentou, durante o inesquecível lançamento do livro "Memórias do Contrabando em Santana de Cambas",em 17 de Dezembro de 2005:

"Quero começar por saudar todos os que estão aqui presentes e agradecer o amável convite que me foi feito para apresentar a obra “Memórias do Contrabando em Santana de Cambas – um contributo para o seu estudo”, editado pela Junta de Freguesia de Santana de Cambas. Uma obra fundamental e um contributo valioso ao estudo aprofundado do contrabando, prática que faz parte da identidade dos povos da região da Raia.

Quero saudar também, com bastante apreço,a junta de freguesia de Santana de Cambas, que com este projecto, tem por objectivo não deixar morrer a memória de um povo, da sua identidade e do seu património, infelizmente, pouco comum no nosso país.

Por último, quero dar os meus parabéns ao Luis Filipe Maçarico, Antropólogo, Poeta, amigo e autor da obra, pela sua firmeza em gravar na escrita as nossas tradições, os nossos costumes, o nosso património, e ofereço-lhe, com muita humildade, um singelo verso do seu poeta, Eugénio de Andrade “(...) o sonho é sempre verdadeiro se no exílio a voz foi de coragem.”

Este livro é o resultado das memórias de um povo, é o retrato de uma época de sofrimento, mas também de arrojo, de risco e de aventura. São narrativas que já fazem parte do imaginário das pessoas que, tal como eu (no meu caso relacionadas com o contrabando praticado pelo mar), cresceram a ouvir histórias rocambolescas, quase inacreditáveis mas acima de tudo, reais.

O contrabando é parte fundamental na história e na cultura das terras no limiar da fronteira. As suas práticas modificaram a estrutura económica e a realidade social. Quando a fome e a miséria desabou sobre a raia, muitos emigraram, enquanto os que ficaram tentaram sobreviver dedicando-se ao contrabando.

Durante gerações foi o principal sustento das suas gentes. Foram muitos exercícios diários de carrego às costas, de iludir a guarda fiscal e os carabineros por caminhos escuros e sinuosos, de perigos até da própria vida, e tudo isto para alimentar e criar os filhos, para continuar simplesmente a existir. Histórias de vidas de fortuna mas também de vidas atingidas pelos limites da sobrevivência. Não existe povoação na zona da Raia, que não traz à memória histórias de sofrimento, em busca de mercadorias que lhe trazia o sustento.

Do contrabando e da sua dimensão social nasce outro fenómeno: a cumplicidade e a intimidade com o “outro lado”, expressão usada pelo autor, o outro lado da fronteira. Exerce uma influência profunda nas relações sociais entre os povos da Raia.

Estas relações económico-sociais foram fortalecidas e complementaram-se, inclusive nos padrões culturais, sendo até possível de falar de uma cultura de fronteira. Segundo a professora e Antropóloga Paula Godinho, a identidade fronteiriça apoia-se em relações ilegais, de risco e em memórias (fulcrais) da fome.

Não existem muitos estudos sobre o contrabando, e são raros os investigadores sociais que se têm debruçado pelo assunto. Assim sendo, este livro tem o mérito de ser um projecto pioneiro no concelho de Mértola e de abrir as portas para futuros trabalhos de recolhas e de investigação que são fundamentais para a preservação da história social, cultural e económica da raia alentejana.

Toda a zona raiana é um museu vivo repleto de histórias de contrabando que passaram de geração em geração. É essa a memória oral que deve e tem que ser preservada.

E são essas recordações de um mundo e de um tempo tão adverso que o Luis tornou eternas.

Termino com um depoimento retirado do livro, que penso ser a melhor forma de contextualizar o que disse anteriormente.

“A minha mãe ficou viúva com trinta e oito anos, era mãe de seis filhos, a mais velha com dezassete anos e o mais pequeno, de dezasseis meses. A minha mãe, a maneira que arranjou de ganhar o sustento para nós, trabalhava para um lavrador que estava aqui na terra – Montes Altos – amassava o pão, ia à ribeira lavar a roupa e ia ao contrabando.

A minha mãe levava café, açúcar. De tudo um pouco. Mas mais o café. Porque a Espanha nessa altura, foi quando a guerra civil, estava numa miséria. E depois traziam calçado de borracha, daquela sola que parece corda. Alpergatas! A minha mãe deve ter feito contrabando, ora à volta de uns oito anos. E passavam três ribeiras: Chança, Malagão e Cúbica, com a água debaixo dos braços, quando chovia muito. Tinham pontos onde elas podiam passar, eram pessoas cheias de coragem!”

Sónia Tomás Frade

Querida Sónia: Bem Hajas por esta partilha e sobretudo pelas tuas palavras amigas, que me visitam com regularidade, transmitindo-me coragem, estímulo para fazer mais e melhor.
Retribuo desta forma, que sendo singela é sincera, pois no meu vocabulário comportamental não há lugar para salamaleques e adulação. Há quem diga até que sou um bocado "bota abaixo", talvez por neste país ser bastante apreciada e premiada a postura do "deixa andar", do fingir que não é nada connosco, chacun que se amanhe, etc.
Sónia: Gosto de ti, do teu trabalho, da tua postura humana e da partilha de conhecimentos que diariamente demonstras saber fazer. É por isso que tens um lugar grande no coração deste teu amigo.
(foto de JF)

quinta-feira, fevereiro 16, 2006

"Memórias do Contrabando em Santana de Cambas-A Opinião de António Elloy


“Memórias do Contrabando em Santana de Cambas”, de Luis Filipe Maçarico é um documento notável. Porque faz um registro detalhado, antropológico, de algumas dezenas de informantes, das suas histórias, das suas angustias. Porque recolhe estórias da nossa literatura sobre o contrabando e assim abre um capítulo de estudo da história sobre as estórias deste.Num livro cuidadosamente apresentado, com uma bonita capa e um texto lindo de Miguel Rego em introdução, Luís Maçarico fornece-nos ao seu estilo escorreito, que mesmo em prosa faz a luz que da poesia emana, um documento precioso sobre as memórias do contrabando.As memórias são, há que dize-lo, muitas vezes invenções sobre a história e destas tem que se tirar ilações com luvas de pelica, destas tem que se deixar assentar a poeira para fazer história. A história do contrabando ainda está por fazer, o seu enquadramento e definição.Este é um importante levantamento antropológico e um belo escrito de estórias.A outra história, a história das relações sociais de produção, das lógicas econômicas, da interligação do poder político, da organização do Estado, da função punitiva deste sobre um quadro legal, e numa lógica de direito, essa ainda falta escrever. Essa terá que resultar de um confronto com outras realidades locais e de uma discussão sobre o fazer história.Essa terá que passar sempre por esta pequena pérola do Luís.Para que com esta façamos sentido contribuiremos."
António Elloy, in INSIGNIFICANTE

quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Mértola, O Último Porto do Mediterrâneo




Santiago Macias o associado nº 100 da Aldraba, apresentou ontem o seu livro mais recente, na Sala das Colunas do Castelo de S. Jorge, acompanhado por muitos homens e mulheres deste país, que raramente temos o prazer de escutar nas televisões.
De entre as centenas de convidados presentes, destaco nove, para quem o Alentejo e a existência é sortilégio: Cláudio Torres, Miguel Rego, António Borges Coelho, José Mattoso, António Elloy, Nádia Torres, Isabel Macias, José Alberto Franco e Maria Eugénia Gomes.
"Mértola, O Último Porto do Mediterrâneo"
obra monumental, dividida em três volumes, é o resultado de duas décadas de trabalho estimulante no terreno, escavando um chão repleto de tesouros e de respostas para perguntas pertinentes, respostas essas que certamente também passaram pela observação e interpelação da peculiar forma de estar do povo.
Consequência de imensa pesquisa, inúmeras reflexões, intensos registos, este livro foi apresentado pelo vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, pelo presidente da Câmara Municipal de Mértola, pelo orientador do arqueólogo, pelo director do Campo Arqueológico de Mértola e pelo autor, que de uma forma muito envolvente passou em revista o percurso que originou este documento fundamental para o conhecimento da bela terra do Baixo-Alentejo.
Terminou o investigador - que é, desde Outubro, vereador na Câmara de Moura - dizendo: "O futuro está à esquina".
Ficaram também na memória as palavras de Cláudio Torres, que reafirmou o empenho do Campo Arqueológico de Mértola no estreitamento de laços com os povos magrebinos, numa altura em que as portas que se foram abrindo estão agora a ser mediatizadas pelos piores motivos.
A magnífica exposição que este trabalho motivou, pode ser visitada entre as 9 e as 18horas, até 2 de Abril. Em Outubro esta mostra estará no Museu do Bardo em Tunis e em breve, com o apoio das Universidades de Huelva, Évora e Algarve, serão orientados cursos superiores no âmbito do estudo da cultura árabe.
O evento terminou com um beberete, que incluía um tinto excelente, acompanhado por espetadas de tâmaras com rodelas de banana, entre outras iguarias de chorar por mais, que desapareceram num ápice.
A lua crescia ao lado do castelo e apesar da noite fria e ventosa soube bem ser embalado pelas ruas de Lisboa, no regresso a casa, com estórias à mistura e uma grande satisfação por poder ter estado ali e ter convivido com amigos com quem sabe sempre bem partilhar as pequenas grandes coisas do quotidiano. Obrigado Santiago!
(fotos de LFM)

domingo, fevereiro 12, 2006

Blogue da Aldraba Fez Um Ano


No dia 1 de Fevereiro de 2004 nascia o blogue a aldraba
O primeiro texto começava assim: "É uma associação que está a ser pensada há três meses. À volta desta ideia, nascida em Novembro de 2004 e semeada em Montemor-o-Novo num almoço festivo, com duas dezenas de entusiastas, várias simpatias se manifestaram. Dia 3 de Fevereio reunem 7 dos semeadores, indicados pelos outros para tratarem dos preparativos para a festa maior que é concretizar o sonho."
Um ano na vida de um blogue é algo que merece ser celebrado. No caso deste, tem servido para divulgar as iniciativas da associação do espaço e património popular, que adoptou o velho utensílio que servia para bater à porta como símbolo.
Com visitas assíduas de associados e amigos, esperemos que, não obstante dentro de semanas a associação passar a ter um site, o blogue se mantenha como espaço de diálogo e partilha, e que Margarida Alves, vice-presidente da direcção da Aldraba, continue a divulgar o património que vai descobrindo nas suas andanças...
(fotografia de LFM: porta e batentes de Vendas Novas, perto do restaurante Pastor)

sábado, fevereiro 11, 2006

Intervalo III


Decorriam os anos 80 e era usual ir ao Porto com aqueles que são a minha família: os/as amigos/as. Nesta imagem, a Cristina já tinha aos vinte o charme que tem hoje. Quanto ao rapaz da camisa de xadrez, desculpem a nostalgia, mas quem me dera estar ainda naquela cave dos vinhos do Porto, ser jovem e...

quinta-feira, fevereiro 09, 2006

Intervalo-II


Continuo a desencantar imagens do baú das recordações.
Quem dera voltar a ser o puto da foto (que nesse saudoso 1974 estava em Nampula), com a sabedoria de hoje...

Intervalo


Este fui eu, nos anos 70, no casamento de um colega da Escola Comercial Ferreira Borges.

domingo, fevereiro 05, 2006

Com Ternura e Verve...


Ao almoço, no início da tarde de 21 de Janeiro no Texugo, em Peniche, ela estava assim.
Qual não foi o meu espanto, quando constatei, uns dias depois, que ela escrevera: "estou sem paciência para blogar".
Para quem não saiba, o Vemos, Ouvimos e Lemos foi o modelo e ela é a madrinha destas "Águas do Sul", no já distante Agosto de 2004...
Estou à espera que voltes à blogosfera, com ternura e verve contra a merdura dos vermes!!!...
(fotografia LFM)

Um Poema de Ana Machado


Recebi há vários meses um mail da antropóloga Ana Durão Machado, autora de um belíssimo estudo sobre um grupo de Cante Alentejano existente no Feijó :"Os Amigos do Alentejo ("Há Cante no Feijó")

Diz a Ana, que escreveu este texto "Inspirada na escrita criativa do primeiro curso, depois de ver muitos postais de todos os cantos do mundo."

DE TODOS OS CANTOS DO MUNDO...

"De todos os cantos do mundo chegam notícias de paisagens, pessoas e lugares.

Chegam promessas de viagens sonhadas que não pude realizar.

Chegam ecos de aventuras imaginadas.

Chegam imagens de cidades grandes, cheias de cor, luz e folia,

banhadas por rios coloridos e curvilíneos,

Chegam postais de praias desertas,

Onde gostava de me banhar e contemplar amanheceres mágicos.

De todos os cantos do mundo chegam mensagens de fé e reflexão,

De templos, igrejas, sinagogas e mesquitas,

Onde o nome de Deus se multiplica em contínuas orações e nunca é vão.

Chegam informações científicas de rituais sagrados e milenares,

De povos que se besuntam com a terra e inscrevem no corpo códigos e sinais,

De festas e de romarias, de Carnavais em terras quentes.

De todos os cantos do mundo,

Chegam novidades de aventuras, assaltos e sobressaltos,

De destemidos que escalam montanhas,

E de audazes valentes que atravessam as areias do deserto".

E em jeito de despedida, a Ana escreveu:

"Também eu quero conhecer o mundo!!!!! Está na hora de partir e de o alcançar."

(fotografia de LFM: porta da Casa do Alentejo)

sábado, fevereiro 04, 2006

Um Morábito em Aljustrel?




Em Novembro, aquando da deslocação de alguns associados da Aldraba para se preparar um Encontro daquela associação na vila mineira, que ocorrerá no início do próximo mês de Abril, o olhar deparou-se com uma construção semelhante a um morábito, acopulada à igreja matriz.
Como tenho deixado escrito, e no caso mais recente, em Janeiro, aquando de uma visita a Peniche, em que me deparei com um monumento destes, ensanduíchado por construções diversas, pode tratar-se de uma ermida, erguida a um santo homem do islão (sidi), que terá vivido no local, e seria um eremita, a quem os habitantes em redor iriam pedir conselhos, pois lhe reconheceriam uma postura de exemplar sabedoria.
Todavia, pode tratar-se apenas de uma reprodução, da arquitectura mudéjar (a arte assim chamada refere-se a construções executadas por mouros submetidos ao cristianismo, que não perderam as suas raízes culturais), que se estrutura em forma de cubo, com cúpula...
Mais uma vez, os arqueólogos podem pronunciar-se acerca do tema, que considero apaixonante.
(fotografias de LFM)

quinta-feira, fevereiro 02, 2006

Fernando Duarte

Conhecemo-nos há uma vida.
O Fernando desde muito novo tenta absorver de cada dia a essência. É perfeccionista, não gosta das coisas feitas em cima do joelho.
Estive com ele em Cacia, numa noite de risos, com a Paula, as três Cristinas. Belas lembranças de uma caminhada feliz pela Torreira, no parque de campismo do Porto. Em Alpedrinha.
Conhecemos melhor o Alentejo.
Fundámos associações e o João, sempre ao nosso lado, questionando, seguindo as pegadas dos pais...
O Fernando é daqueles amigos que são verdadeiramente irmãos. Tantos sábados e domingos a saborear as belas iguarias com que a Paula nos presenteia.
Tanta descoberta de patrimónios, a três...a quatro...
O Fernando não brinca em serviço e é o grande obreiro, com o Fernando Amaral e com o Duarte pai, do documentário que a Aldraba está a fazer sobre Jorge Rua de Carvalho.


Lembro-me de cortarmos em velocidade de cruzeiro um nevoeiro denso, depois de uma inesquecível festa em Vila de Frades e Vidigueira na rota do vinho novo. Que tabernas, que descobertas!
Recordo que na véspera de uma viagem para Cabo Verde adoeci e o Fernando ficou triste.
Mas pudemos estar há um ano juntos no sonho da formação de uma associação com um espírito fraterno, verdadeiramente novo, onde ele tem entusiasticamente participado.
Escrevi estas linhas só para dizer que o Fernando, como a Paula e o João são uma parte importante da minha família, e que um dia destes quero festejar o facto de andarmos por cá, às vezes em ruas tortas, por caminhos apertados, mas com vontade de partilhar sonhos e tornar o ar mais respirável com as nossas gargalhadas.
Abração.
Luís
(fotografias LFM: o Fernando Duarte a filmar o documentário, com o Jorge Rua perto)

quarta-feira, fevereiro 01, 2006

Silva Amaro: A Porta da Poesia



Conheço o poeta Francisco Silva Amaro, desde meados dos anos 90. Alpedrinha acolhia então o primeiro de sete encontros, onde o verso e o convívio, entre os que escrevem e os que lêem, passou a constituir um ritual que ano após ano, levou àquela terra, gente que nem sempre será mediática, embora tenha poesia com interesse para partilhar.
Natural de Juncal do Campo (Castelo Branco), Silva Amaro vive no Fundão há 32 anos. Através do seu livro "A Porta" lança um olhar inquieto e irónico sobre a realidade, que importa conhecer. Atente-se no poema da página 43:

a violência e o sexo
da tv é o nexo

a carga policial
é mezinha social

o nobel é nacional
a amália virtual

a ponte era aérea
no chão da tragédia

kosovo e timor
não são guerras d'amor

as torres gemeram
os deuses estremeceram

não se veste um fraque
para ir ao iraque

no calor da rua
arde a verdura

fabricamos princesas
num mundo às avessas.

(fotografia de Mónia Roxo e capa do livro de Diamantino Gonçalves)