"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, maio 30, 2008

Um Olhar Sobre Marrocos








As fotografias são da geógrafa Helena Poejo, que em Outubro passado viajou por Marrocos e não precisam de muitas palavras... É o seu olhar sobre aquele país do Norte de África, que partilhamos no "Águas", agradecendo a simpatia e desejando-lhe boas viagens futuras.

quinta-feira, maio 29, 2008

Nº 9/10 da Revista "Anais de Almada"


Esta noite, pelas 21 horas na Casa Pargana, R. Visconde Almeida Garrett, 12, em Almada, é apresentado o nº 9/10 da revista cultural "ANAIS DE ALMADA".

A apresentação é de Alexandre Flores e há uma particularidade que gostaria de realçar:

A par de outros artigos certamente interessantes, de Ana Durão Machado, por exemplo, sobre "O Cante que se ouve no Feijó: relatos de uma pesquisa antropológica", ou de Diamantino Lourenço, acerca das "Ruas Direitas: breves anotações históricas" e do "Espólio dos séculos XIV - XV: do sítio 12 da Rua da Judiaria - Almada", entre as páginas 95 e 108, aparece um artigo intitulado: "Imaginário Popular e patrimonialização em Murfacém", de minha autoria.

Se puderem, apareçam!
(Fotografia e palavras de LFM)

terça-feira, maio 27, 2008

Maria dos Anjos



Somos da mesma geração. Eu na cidade, ela na Póvoa de Atalaia e Alpedrinha, buscámos a paz que iluminou os nossos passos quando subimos um destes dias a Gardunha numa aberta desta chuva que se agarrou à pele dos dias e das cerejas.
Há muito que me habituei a encontrar nos seus olhos uma luz alegre que contraria as mágoas do quotidiano.
Fizeram-nos mal, alguns seres que utilizaram a pureza que tínhamos no coração.
Reconciliamo-nos com a vida perante a beleza da Primavera, derramando-se em cores e aromas, pelas veredas da Gardunha.
No silêncio habitado pelos pássaros vadios, saltitando de árvore em árvore, recolhemos a preciosa energia para resistirmos ao que se passa cá em baixo, nas vilas e cidades.
Somos de uma geração que acreditava nas pessoas. Reduzimos a crença, mantemos lealdades e o brilhozinho nos olhos para os amigos que a existência mostrou que são verdadeiros.
Desta amiga tenho recebido desde 1988, quando a conheci, grandes e belas provas de compreensão e fraternidade.
Aqui deixo a minha gratidão para que toda a gente saiba que a Maria dos Anjos é uma pessoa de grande categoria. Porque sempre a vi cuidando de pessoas idosas (a tia Clara, a sogra, a mãe e agora uma tia ) com uma paciência, um carinho e um espírito humanista que é raro...
Bem Haja!, minha irmã de infortúnios, sonhos e gentilezas!
Luís Filipe Maçarico

quarta-feira, maio 21, 2008

Caminhos do Anjo da Guarda Velho em Alpedrinha












Graças à minha amiga Maria dos Anjos, conheci ontem um prodigioso percurso, entre cerejas e palmeiras, entre muros e quintas, pródigas de pomares e águas da Gardunha, entre memórias de romeiros, que o pó dos caminhos entorpeceu e o quotidiano de esquecimento que vivemos...

Falo da antiga estrada que levava ao Anjo da Guarda Velho, do qual existe um arruinado vestígio, das traseiras da capela quase evaporada e cujo muro também sofreu já derrocada...

Tenho pena que não exista ainda um roteiro turístico, um livro até investigando esse outro templo inicial da grande romaria deste lugar excepcional, com testemunhos dos velhos que ainda podem recordar vivências. Dizia eu que seria bom existir um guia, para encaminhar peregrinos da saúde, que se reforça em contacto com uma Natureza assim, pródiga e adeptos de BTT, para calcurrearem estes confins, tão perto da vila e tão esplendorosos nas vistas que oferecem, tão saudáveis e poéticos, que dão nova alma ao viajante por tanta beleza, tanto silêncio, quanta maravilha! mesmo com o céu nublado, mesmo com este tempo de trovoada e Primavera adiada...

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

terça-feira, maio 20, 2008

Alpedrinha, um paraíso na serra da Gardunha










Costumo dizer que esta terra oferece termas de serenidade, escutando as águas que nascem na serra e um silêncio mágico povoado de mil cânticos, derramados pelos reis da montanha- os melros e outras aves chilreantes...

Os monumentos e o casario rústico, onde o granito impera, remetem-nos para gloriosas épocas passadas, de nobreza florescente.
São inúmeros os tesouros patrimoniais, que ajudaram a construir uma identidade serrana e cosmopolita. Os alpetrinienses recebem bem.
Não posso deixar de destacar a Pensão Clara http://www.pensaoclara.i9web.eu/index.html com décadas de experiência em bem servir o viajante, com comida caseira, águas quentes, um ambiente familiar e televisão nos quartos, para quem não quer perder um desafio importante ou um episódio da série ou telenovela favorita...
Quando Eugénio de Andrade passou por Alpedrinha (anos 90) foi aqui que pernoitou, passando alguns momentos inolvidáveis com a sua amiga Clara Nabais.
As férias nesta terra são incomparáveis. Há museus, cafés, mradouros, caminho romano, cerejas, castanhas, hortelã nos caminhos, oregãos e mil flores de um colorido primaveril que nos envolve.
Não percam esta dádiva da Natureza, este bálsamo...

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

domingo, maio 18, 2008

Os Pequenos Poetas de Alpedrinha






Ontem em Alpedrinha, no salão paroquial, decorreu com a presença de algumas dezenas de habitantes da vila, o IX Encontro de Poetas , que nesta edição deu destaque ao Concurso "Eu Amo Alpedrinha", promovido com a envolvência da Escola do Ensino Básico, tendo participado inúmeras crianças, com trabalhos de desenho e versos.
A Liga dos Amigos de Alpedrinha organizou uma vez mais este evento, tendo sido atribuído a todos os meninos um diploma de menção honrosa, pelo entusiasmo e criatividade patentes nas obras apresentadas. Guilherme Trindade Correia foi o vencedor em desenho, sendo Miguel Ventura o primeiro classificado em poesia. Alexandra Costa obteve o 3º prémio em poesia.
Os petizes estavam satisfeitos e a iniciativa foi louvada pelos presentes. Todas as crianças que assistiram à cerimónia, foram convidadas a ler os seus poemas, ao lado de alguns adultos que recitaram igualmente a sua poesia. O ambiente era de júbilo pela frescura desta inovação.
Os textos serão publicados, ficando como uma memória identitária do património cultural desta Comunidade.
O associativismo alpetriniense atravessa uma fase de grande criatividade e participação que indicia uma uma renovação enriquecedora. Parabéns, Monia e Marília, por mais esta iniciativa luminosa!
Fotos e textos: Luís Filipe Maçarico.

quinta-feira, maio 08, 2008

Artigo de Luís Filipe Maçarico sobre Alpedrinha publicado no nº 26 do Jornal "Conversas de Café" em 4 de Janeiro de 2008








ALPEDRINHA, PRINCESA DA GARDUNHA

No coração da Beira Baixa, disposta em socalcos, nas faldas da Serra da Gardunha, uma vila com casas de granito e fontes, templos e miradouros, palácios e janelas manuelinas, castanheiros e cerejais, sobressai. Vista do comboio, é um anfiteatro de casario, que desafia o olhar. Alpedrinha, a bela. Sintra da Beira para a Marquesa de Alorna. Prlncesa da Gardunha para viajantes extasiados.

No já distante Novembro de 1979 encontrei esta terra mágica, quando ainda se comemorava o Santoro (pão por Deus) e ao descobrir as suas valiosas jóias patrimoniais, comentei que o Museu dos Embutidos, o Museu Etnográfico da Liga dos Amigos e o Museu dos Paramentos enriqueciam com muita Arte a Natureza pródiga do lugar.
Fui então convidado para as Janeiras e integrado no Grupo de Cantadores, que um mês depois entrou nas residências dos humildes e nas mansões dos abastados, pois ao contrário de outras pessoas que vinham de Lisboa, achava bem que os tesouros da terra nela se mantivessem.

Este Natal voltei a esse convívio que há muito me cativou, no desfrute da consoada, no prazer do madeiro, na graça dos seus presépios, na partilha de paisagens e amizades que um dia me deslumbraram, tal é a força dos elementos e da hospitalidade nesta região.

Ouvir na igreja matriz, de construção sólida e elegante, um concerto com o orgão de tubos, que em tempos me fez sentir na Salzburgo de Mozart, ao ser tangido por mãos sensíveis e talentosas como as da professora Monia Roxo, é um acontecimento inesquecível. Conhecer os meandros dos últimos seguidores da marcenaria artística, que produziu prodígios tais como um contador - com os cantos dos "Lusíadas", ilustrados em madeiras preciosas - executado por Parente Pinto, entalhador-mor de Dom Carlos I, constitui um singular privilégio. Conhecer a Casa do Barreiro (Turismo de Habitação) e a personalidade encantadora de Dona Francisca Cabral, uma das senhoras que mais amam Alpedrinha e melhor sabem transmitir o fascínio que o lugar exerce, a par de Dona Gracinha Correia, a mentora do Museu Etnográfico da Liga dos Amigos e guia de muito calcurrear quelhas e ruas desta vila que foi sede de concelho até ao século XIX, é uma esplêndida hipótese para desvendar os seus segredos.

No chafariz monumental de Dom João V, emoldurado pelo emblemático Palácio do Picadeiro, como diante da Casa da Comenda ou do Solar dos Britos, a pedra conta estórias. As chaminés diversas, as fontes inúmeras, as varandas de madeira e os balcões de granito guardam recordações. É preciso descortinar, entre a lenda e a vivência quotidiana, a realidade identitária, o património notável.

Por estas ruas, com Eugénio de Andrade, num Verão distante, à luz dos pirilampos, ouvi-o contar memórias de infância, quando as gentes da Póvoa e de outras aldeias vinham às festas de Alpedrinha. No tanque do chafariz majestoso, num outro Estio, tomei um banho ritual com seis poetas vindos de longe e fomos sete vates a desinquietar as estrelas de uma noite quente.

Pela estrada romana, por estas encostas de amoras com sabor a sol e mel, subi aos cumes da alegria e dos largos horizontes, vislumbrando a Estrela e a Malcata, toda a Cova da Beira, Monsanto, Idanha e terras de Castela.
Com aromas de oregão e hortelã bravia trepa-se aos cabeços da Gardunha dos pastores e dos cesteiros, escutando as águas que brotam da rocha.

No terceiro fim de semana de Setembro, a vila anima-se com uma festa reinventada: Festa dos Chocalhos, com a Transumância a motivar desfile de gaiteiros, bombos e chocalheiros. Provam-se petiscos, bem regados, reencontra-se gente fraterna, os forasteiros levam para as cidades boas lembranças.

Em Agosto, no pino do Verão, a romaria do Anjo da Guarda atrai devotos das redondezas para agradecer bençãos. A religiosidade dos alpetrinienses está patente nas capelas, sendo a do senhor da Oliveira a mais pequena, a do Espírito Santo a mais antiga e a do Leão monumento nacional, que por vezes se abre para encontros de poesia e de música clássica.

Na tasquinha da Dona Maria festeja-se a vida e a sabedoria de um povo, que António Salvado Motta na sua Monografia realçou. É um outro templo - o dos sabores antigos da jeropiga e da ginjinha conversadas com pronúncias terrosas. Alpedrinha tem na filha de Dona Maria, Filomena, uma devota dos tesouros da terra.

No Teatro Clube as noites frias de Dezembro são aconchegadas pela confraternização e pela frequência jovem de um espaço centenário, onde actores de nomeada representaram e onde a actividade actual parece augurar, nas iniciativas e na vontade do presidente Pedro Leitão um futuro risonho para o associativismo local.

Nas águas das fontes bebe-se a esperança de voltar.
Voltei sempre! É o que dizem velhas lendas, crenças, tradições...

LUÍS FILIPE MAÇARICO

quarta-feira, maio 07, 2008

A Poesia Sábia de Uma Alentejana de Excepção


Rosa Dias é uma poetisa inspirada, cujos versos guardam o sabor terroso da epopeia alentejana, em cada sílaba, em cada grito, em cada silêncio. Os livros que escreveu estão esgotados, apenas sendo possível saborear a sua poesia ao vivo, quer enquanto elemento integrante do Grupo de Cante das Mulheres da Alma Alentejana, quer enquanto participante em serões de poesia, nas colectividades, palco popular onde tem divulgado o seu sentimento de mulher da raia do sul.
A qualidade dos textos que escreve não se enquadra em modelos, tipo: poeta popular de raíz aleixiana...ou qualquer outra designação. É uma Alentejana de Alma Grande em Lisboa, a fazer lembrar o espírito de poetas como Lorca ("Verde que te quiero verde") ou Alberti ("que cantan los poetas andaluzes de ahora") telúrica como eles e com Machado nas pegadas:"Caminante, no hay camino..."
***
POEMA DE ROSA DIAS
Como natural é a lua
Que nasce na minha rua
Vem a poesia e me enlaça
Esta lua nasce e vai
A poesia nasce e sai
Qual paixão que esvoaça.
***
O sol mal que desponta
Deixa a terra meio tonta
De alegria e emoção
O poeta se estonteia
Com o despontar da veia
Que lhe altera o coração.
***
Quer seja Inverno ou Verão
Esta poesia é só paixão
Dum poeta sem guarida
Já a Primavera vai longe
Ganha asas, voa, foge
Fica o Outono da vida

Rosa Guerreiro Dias
(texto de apresentação: LFM)

quinta-feira, maio 01, 2008

Para o Meu Amigo Manuel


Celebrar Abril é lembrar
o bem que nos fizeste
Tu és um dos capitães
da nossa liberdade!

O futuro que sonhaste
não é risonho,
mas ninguém esquece
a beleza desses dias
soltos de alegria!

Celebrar Abril é ficar sempre
ao teu lado com o cravo da amizade
no coração, enquanto os rios continuam
a correr e as crianças nascem
e as manifestações descem e sobem
avenidas, em busca de pão e paz
para todos.

Celebrar Abril é dizer o teu nome
mais alto que o dos heróis nacionais
porque hoje tu és o meu herói
o Homem Novo, resistindo ao sal do sul
que nas lágrimas encontra o sol
para enfrentar as sombras dos inimigos de Abril.

Agora é Maio
as estevas floresceram
as espigas crescem
e o teu sorriso faz falta
para rasgar os sombrios muros
da inquietação
destes dias.

Celebrar Abril
é este abraço
do tamanho do Mundo
para falarmos da vida
que vai continuar!

Lisboa, 1 de Maio de 2008, 23h 30m

Luís Filipe Maçarico