"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, março 31, 2011

I believe in magic...


O texto magnífico, que hoje desejo partilhar, com todos os leitores, foi escrito por uma jovem ligada ao melhor Associativismo do Património Popular (Ronda Típica de Meadela), que encara a existência com uma vontade de viver fulgurante.

Recolhi-o no blogue da Carolina Figueiras, estudante da Universidade do Minho e elemento do grupo de dançarinos da Ronda, grupo de gente fantástica, criado por seu avô há cinquenta anos e presidido na actualidade por sua mãe.

O blogue é este: http://cfigueiras.blogs.sapo.pt/25658.html

E o texto aqui está:

"Sim, acredito. Coincidências? Não creio. Vejo o mundo como algo maior e mais completo do que um lugar onde pessoas fazem coisas. Maior do que a natureza, a ciência e todas essas coisas que acontecem na vida de toda a gente. Não acredito em deus, nas religiões como elas são e nos livros de instruções que trazem com elas, muito menos nos seus milagres.

Acima de tudo acredito nas pessoas, no mundo interior, no amor e no ódio que põem no que fazem e no que querem: chamemos-lhe energia. Acredito em justiça divina, mas com outro nome: consciência. Não falo propriamente apenas dos pesos que ela possa carregar, mas daquilo que o mundo interior faz por nós… Porque lá no fundo - segundo o que penso, que vale o que vale -, há dois “eus”: a representação daquele que vive cá fora e o “eu” normativo, aquele que faz connosco tudo o que o mundo lá fora nos faz, nuns mais duro, noutros mais benevolente. Creio que esse eu interior produz energia suficiente para conseguirmos tudo o que queremos ( que está ao alcance, imagino eu) e também para destruirmos tudo. Quando fazemos algo mesmo muito mau, «what goes around, comes around» e a nossa consciência põe-se mesmo a jeito para produzir energia negativa suficiente para só trazermos o que não tem grande interesse para a nossa vida. Há quem diga que é uma forma de religião, eu concordo em parte porque se trata de acreditar em algo superior que rege aquilo que não é empírico ou palpável. A religião afasta as pessoas, por serem regras impostas e não naturais, a energia não.

No fundo, acho que algo que realmente junta as pessoas e devia ser mais importante do que qualquer religião é a música. Não é à toa que milhões de pessoas se juntam por ela e são felizes… Naquele concerto, porque aquela música deu na rádio, porque aprenderam a tocar isto ou aquilo, porque voltam a ouvir o tema “x” que estava a dar na ocasião “y” e traz boas recordações. Claro que também há a musiquinha da baba e do ranho, mas estou a falar mesmo é de várias pessoas na mesma frequência, talvez no mesmo ritmo, eventualmente na mesma tonalidade, amiúde no mesmo compasso, mas sempre a canalizar energia para o mesmo centro.

Isto tudo, porque hoje preferi pensar, em vez de existir (contrariando o «penso, logo existo») e porque tive saudades de Viana, dos sons que há por lá, de 4 rapazes que pegam na sua música e a juntam à minha, numa cave onde às vezes não se toca nada, mas também onde se toca tudo… De alguém que toca guitarra para mim muitas vezes… dos sons mais castiços do grupo folclórico, dos meus amigos e da música que partilhamos ao som de gargalhadas e toda a sonoridade conjunta. Porque eu posso ter tudo, mas dado que também não acredito no silêncio e o som perdido só por si não chega, é preciso partilhar e a música é, para mim, isso mesmo."

Carolina Figueiras (texto)

LFM (foto - O mar diante do Castelo Velho, Viana do Castelo)

domingo, março 27, 2011

Desporto e Frustração Social


‎A propósito do excessivo absurdo, que prolifera no futebol português, de que são exemplo os tumultos desta madrugada em Alvalade, a obra emblemática do professor José Esteves escrita há 41 anos continua actual.
Deixo aqui dois excertos para reflectirmos:

"Só há uma forma de entender o fenómeno desportivo: na perspectiva das estruturas sociais. O que há de característico e fundamental, no desporto é, justamente, o que define e caracteriza a sociedade em que ele se realiza. No actual tipo de relações humanas, o desporto é, naturalmente, um fenómeno de alienação''José Esteves, 'O Desporto e as Estruturas Sociais', 1970, Prelo.

"A rivalidade no desporto é tanto maior quanto maiores forem as rivalidades sociais, regionais, nacionalistas e outras. E a ambição da vitória é uma preocupação tanto mais acentuada quanto maiores forem as frustrações pessoais.
As dívidas monstruosas contraídas pelos clubes exprimem toda a obsessão do resultado. Se as agremiações desportivas vegetam na grandeza dos seus défices, é porque os associados fazem do comportamento das equipas uma razão de prestígio, um motivo de vergonha, uma questão de honra. Para garantir ou acautelar os êxitos, são os dirigentes obrigados a comprar os jogadores mais habilidosos ou esperançosos, por verbas incomportáveis, e sempre crescentes. Como, de igual modo, são forçados a contratar, a peso de oiro, os treinadores de processos fulgurantes, os que melhor dirigem ou conduzem os homens, nas batalhas dos estádios. E para cobrir as ofertas dos adversários e os encargos resultantes, com frequência desabusada se recorre à mobilização de mecenas, aos empréstimos urgentes, às hipotecas de ocasião, às influências políticas, aos favores dos governantes. Para não falar, já, da pressão moral e, mesmo, do suborno de árbitros e contendores, como também dos habilidosos processos de secretaria, da agressão corporal, da utilização de excitantes pelos jogadores da própria equipa, etc." Ibidem.

Luís Filipe Maçarico (pesquisa)

segunda-feira, março 21, 2011

Poesia do Ano Inteiro


Caminhar contra a corrente
é o meu lema.
Amo as árvores
luto contra os ladrões
de sonhos e sinto
correr nas veias
uma sensibilidade
que floresce
diariamente.

Saber que a Primavera
renasceu hoje
é bom
mas é muito melhor
saborear
cada manhã,
enfrentando
os que armadilham
os caminhos
os afectos
a vida.

Ser Poeta é isso.
todos os dias!

Luís F. Maçarico
21 Março 2011

sábado, março 19, 2011

Acorda, Portugal!


















Esta tarde, a Avenida da Liberdade foi estuário de uma luta que tem crescido, por causa de tanta injustiça infligida sobre um povo, que tem suportado demasiados pesos.
A juventude voltou a irromper pelas ruas de Lisboa, juntando-se aos mais velhos, sejam eles trabalhadores no activo ou reformados.
Muitos e muitos foram os manifestantes. Gente que não é virtual, nem mero número, para ser vendida como mercadoria, àquela megera mal emprenhada, que vomita exigências em cada investida do circo neo-liberal berlinense, acolitada por um séquito de castratti, cujo deus capital é a sua bíblia.
Como diz Jel, dos homens da luta, os povos só conquistaram mudanças na rua, senão ainda haveria feudalismo e escravatura.
Hoje, rodeado de gente amiga, com quem tenho caminhado estes anos, colegas de trabalho, companheiros de sonho, viemos para rua mostrar que estamos indignados com o espezinhamento de direitos e o abuso de medidas governamentais, que penalizam sempre os mesmos.
Até quando a nossa vontade será reduzida a mero décor de filme mudo, vendo suceder-se os novos tiranetes do neo-liberalismo, sem termos voz?
Ao menos se este povo se revoltasse a sério e nas urnas de voto, escolhesse - uma vez que fosse, outras propostas, que não as mesmas de sempre, protagonizadas pelos alternadeiros do costume, irmãos siameses, apesar das escaramuças?
Acorda, Portugal!

LFM (texto e fotografias)

As Redes Sociais e os Seus Perigos


Publiquei hoje no Facebook esta mensagem:

"Acabou-se a minha participação no Hi5 e no Twiter. Também Já não frequentava...
Quanto ao Facebook, as imagens de minha autoria, a partir de agora, serão menos abundantes...

Anda pela net uma corja, apostada em servir-se da nossa identidade e até dos mortos famosos, para nos colar (só pode ser por maldade) a porcarias de muito mau gosto.
Já fui vítima de um equívoco desses e em tempo oportuno denunciei essa situação.

Tenham cuidado, não se exponham, pois há sempre alguém na sombra, que por inveja tentará destruir o bem estar que aparentarem.
Há vampiros que odeiam os nossos sorrisos e vitórias.

Recebi muitos mails a alertar contra o Facebook e os perigos das redes sociais...Agora, confirmo que pode ser, de facto, tenebroso.
Quem me conhece, principalmente os Amigos, sabem dos valores humanistas que me guiam. E isso me basta para me reconfortar. Mas o alerta fica feito para todos."

Os comentários não se fizeram esperar. Reproduzo alguns:

Elisa Ramos Boa tarde amigo Luís! Tem a razão por completo,inveja dá e sobra por aqui,amigos a gente sabe quem são o resto passa.Bom fim de semana e abraço amistoso como sempre.

Mel Besuga É uma pena, mas é a nossa realidade. por isso pouco faço aqui .Abraço.

Ana Lorena Duro Amigo Luis, de quem eu e o meu filhote gostamos e admiramos: como em todo o lado, aqui há muita gente que não presta. Se desistimos eles vencem. Não podemos desistir. Resguardamo-nos, denunciamos, acalmamos, até relativizamos mas desistir nunca. Um beijinho cheio de carinho.

Maria José Pires Gosto muito de ler e ver as tuas fotos . A minha actividade no FB é prioritáriamente "ler" , e os teus post leio sempre , ás vezes com dias de atraso ,por isso não comento ...

Maria José Lascas Acredito no que dizes, pois que o ser humano era maquiavélico mesmo sem Maquiavel. E eu própria já tive a minha conta no Blogue!

Egas Branco Amigo Luís tem toda a minha solidariedade e gostava muito da sua participação. Pessoalmente tenho procurado ser muito cuidadoso na aceitação dos correspondentes e quando dou por gente indesejável retiro-os imediatamente da minha lista. Mas todo o cuidado é pouco... tendo em atenção até a como esta rede é gerida e controlada... Mas penso que, salvo melhor opinião, não devemos abdicar de intervir nela. Um abraço

Ana Amaro Luís por favor não nos prives das tuas fotos e publicações. Essa gentalha não pode conseguir os seus objectivos. Tens de continuar a publicar as maravilhas a que nos habituaste.


Fotografia de Eduardo Gageiro

Extinção de Freguesias: Eu Não Apoio!


Participei hoje no debate público (on line) sobre a extinção de freguesias em Lisboa. Eis o que penso:

Discordo da aglutinação Lapa+ Prazeres+ Santos, porque implicará despedimentos de funcionários da Junta de Freguesia, com quem interagimos bem - foi produzido conhecimento e confiança, durante décadas. Designadamente em relação ao atendimento e ao precioso trabalho desenvolvido no Centro de Documentação dos Prazeres, com um acervo bibliográfico fantástico. Importantíssimo, para quem estuda!

Depois, problemas quotidianos, relacionados com uma política de proximidade (o buraco no passeio, o lixo na via pública, a falta de lavagem das ruas, etc) obrigarão a deslocações e contactos fora de mão, ficando a população entregue a gente que não a conhece, burocrata, distanciada em seus gabinetes.

Soluções destas são areia para os olhos, pois devia ser cortado, isso sim, o lucro elefantisíaco dos Bancos e outras instituições especulativas.
As autarquias de proximidade fazem falta a uma população envelhecida.
Assim, os cidadãos ficam cada vez mais arredados da participação directa.
É isso que queremos? Eu, NÃO!

LFM

quarta-feira, março 16, 2011

Uma Desgraça Nunca Vem Só...


Como se não bastassem as terríveis calamidades do Japão (terramoto, maremoto, explosão dos reactores nucleares), que nos destroçam, enquanto seres humanos, habitantes deste planeta, Sócrates, o engenheiro domingueiro, que empobreceu a parte menos afortunada de Portugal, em entrevista à SIC revelou a sua intenção de, no caso de haver eleições, concorrer uma vez mais ao lugar...


Mas como uma desgraça nunca vem só, Cavaco Silva, também ontem, resolveu ensandecer, dizendo"Importa que os jovens deste tempo se empenhem em missões e causas essenciais ao futuro do país com a mesma coragem, o mesmo desprendimento e a mesma determinação com que os jovens de há 50 anos assumiram a sua participação na Guerra do Ultramar."


Ó malta da Geração à Rasca: o mesmo senhor que, escassos dias antes da Manifestação do passado sábado 12 incitou a juventude a indignar-se contra a falta de perspectivas, é o mesmo que advoga que deveis ser carne para canhão, ou seja, para quem tivesse dúvidas, trata-se da outra face da mesma moeda, donde nunca se poderá esperar, aparte a discursata espúria, mais que um encolher de ombros, ou o esclarecedor "não me pronuncio, porque agora estou nesta ou naquela sessão disto ou daquilo..."


Luís Filipe Maçarico

domingo, março 13, 2011

Grande Gente, os Alentejanos!


Há uns tempos, amiga certamente bem intencionada, mas pouco conhecedora do Alentejo e dos seus poetas, desafiou-me a apresentar um trabalho sobre o humor na poesia popular alentejana...

Ontem, na Biblioteca José Saramago em Beja, enquanto fazia tempo para regressar a casa, consultei antologias, obras individuais e confirmei o que escrevi há dez anos: a poesia do povo do sul está muito marcada, nas suas quadras e décimas, pela dureza do trabalho, pela exploração a que foram sujeitos, pelo sofrimento, pela miséria, pela fome, pois foram décadas que os jovens - felizmente - desconhecem, enquanto experiência própria.

O Amor à Natureza, à terra (que não lhes pertence) e à mulher eleita, são outras características daquela poesia, que não dispensa um olhar muito crítico sobre a Sociedade actual e a deriva egoísta do quotidiano...


Exemplo da forma de estar nostálgica e sofrida, é a poesia de Virgínia Maria Dias (in Poetas de Peroguarda, 1996), amiga de Michel Giacometti, que me lembro de ter escutado em "Um Lugar ao Sul", de Rafael Correia. Eis aqui dois excertos:

"Pedaços de terra pesam-lhe os passos
No corpo chicotes de frio e suão
Na voz notas de dor e cansaços
Calejada e disforme
a mão.
(...)
Mas na sua mesa tantas vezes nada
Tantas vezes apenas bolotas
E da dor que o mata
Fazem anedotas."

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"Só ficam os velhos
De brancos cabelos
Corrente de elos
Já sem continuidade.
Nas tristes fachadas
Das casas fechadas
Choram abraçadas
A solidão e a saudade."

E na Antologia Poética da Vidigueira, 2005, António José de Lemos escreve assim:

Não julgues por cantar rosas
que a vida me é um jardim:
disfarço em rimas mimosas,
revoltas dentro de mim.

(...)

Canto contra a emigração
do rural alentejano,
que nasce em terras de pão
e vai comer o pão estranho."

O Amor ameniza o peso do passado. Por isso, Maria José Antunes Carrinho declara:

"Meus beijos são passarinhos
Que andam voando à louca
Só param quando encontram
O ninho que é a tua boca".

Justino António Fialho, por seu turno, assegura:

"Amor com amor se paga,
Tudo tem a sua hora;
Quando um dia me pagares
É com juros de demora."


Contudo, há uma poetisa, Rosa Helena Moita que nos seus livros "Entre Margaças e Urtigas" (1992) e "Poesia" (1997) se diverte e nos delicia, falando de desinteligências no reino vegetal e entre animais. Fábulas humorísticas, que vale a pena descobrir.

Quem gosta do Alentejo e da sua gente, tem de ver para lá da paisagem, os grandes tesouros que persistem, na caminhada humana. Grande gente, os Alentejanos que por lá sonham, convivem e cantam!

Luís Filipe Maçarico (Pesquisa, texto e imagens - tudo recolhido no Alentejo / distrito de Beja.)

quinta-feira, março 10, 2011

Castelo Velho da Princesa do Lima










Pela nossa costa vários fortes e fortins filipinos enfrentam o abandono, a incúria, a devassa.
O "Castelo Velho" de Viana do Castelo precisava que o Património do Estado apostasse numa solução digna, que permitisse a visita, eventualmente através de uma exposição, sobre a história do lugar e a fruição da paisagem, com um miradouro, podendo ainda ter uma área para beber café ou saborear uma iguaria...
Enquanto ninguém decide, enquanto assistimos, com tristeza ao espectáculo do património degradado, o mar esplêndido, esse mar do Norte mítico canta (ou ruge) a eterna canção dos veleiros perdidos, dos piratas que o forte enfrentou...muitos cidadãos procuram este lugar, para lavar a alma, deixando os olhos voarem, misturados com as gaivotas...
Pela nossa costa, vários monumentos aguardam decisões que os salvaguardem...devolvendo ao Povo espaços de memória, onde Portugal é uma nave ou um jardim...
Luís Filipe Maçarico (texto e fotos)