"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, agosto 28, 2004

O Piassaba

Mais um sábado. Agosto a dizer adeus e eu à volta de uma colecção de piassabas, na drogaria de bairro, da Dona Eugénia, hesitante...
Isto, porque o exemplar que tenho em uso, já lá vão alguns anos, oferta da Paula num dia de sorrisos, quando passei a ter uma casa de banho, tem desempenhado bem as suas funções, mas precisa de um duplo, nem que seja para ser utilizado em matar baratas, que às vezes chegam pela chaminé, ou por debaixo das portas, intrusas, cuscas, quais bruxas voadoras...
Quanto a osguinha de estimação, tão celebrada nos comments e que teve honra de abertura no blog da Daisy, mais dia menos dia está a rivalizar com os Xutos e Pontapés na obtenção de uma comenda...Deve ter sido ela que se banqueteou com as aranhas dos cantinhos do tecto, pois não há quem as veja...
Outra hipótese para o piassaba, seria limpar o cotão mental de muita gente, que está no desporto nacional, isto para ser soft e não chamar a porcaria pelo nome.
Ah, e a corrupção, que tem minado cada alvorada, nas páginas dos jornais e nos noticiários das rádios, e que em cada crepúsculo nos invade, com telejornais deprimentes...quando afinal os que não estão sujos, continuam a suar, para manter o país. No dia em que aprenderem a carregar no botão do off e não quiserem saber das Lillis e dos Castelos Brancos esta terra será mais respirável. Bem podem nessa altura os chernes pregarem aos incautos...
E não nos esqueçamos dos desgraçados comerciantes de tascas e cafés, que como é sabido são na sua maioria professores e têm de fazer férias todos os anos em Agosto. É fartar alarvagem! Ruas inteiras com 2, 3 cafés e tascas fechados, até Setembro começar...
País de lindas praias, paisagens excelsas e tradições que marcam, é o nosso.
Mas a precisar- como nunca -de uma boa limpeza, com um piassaba novo e eficaz, para tirar o sarro aos cérebros e as caganitas de rato que flutuam no sangue de tanta gente...

quarta-feira, agosto 25, 2004

Kátia e a contaminação do bom gosto

Escuto-a em transe até ao derradeiro acorde.
Escutei-a assim em 2003 na "Festa do Avante" e desde então distingo o timbre da sua garganta, que ganha asas quando vibra, cantando a essência desta estranha forma de vida...
Kátia Guerreiro prova, à saciedade, que o fado está bem vivo e que não se pode ficar à sua contaminação, quando ela aparece na rádio, num CD, num espectáculo.
Enquanto janto e me abstraio da minha osguinha de estimação que queria fugir para a rua, quando cheguei e me preparava para escancarar varandas, assustando-a e fazendo-a fugir de novo esbaforida, para dentro de casa (é o meu fado de Verão...), enquanto janto, dizia, após um duche refrescante, escuto "Nas Mãos do Fado" e fico extasiado com as palavras bem cantadas de Florbela, Lobo Antunes, Camões e Ary dos Santos.
Gosto desta voz e deste sorriso.
Das boas emoções que provoca.
Como diz José Nisa, este fado faz-se também com bom gosto e ideias.
E Kátia é autêntica e expressiva.
Uma flor entre as cordas da noite, no coração de uma guitarra...
...que mostra como Portugal pode ainda ser grande, sem barulho alarvóide, como todo aquele que os mass media e a turbamulta fizeram, em vão, em prol de um bando de pseudoatletas, mais interessados em fazer publicidade e pavonear-se como se fossem grandes vedetas de Hollywood.
Viva o Fado de Kátia Guerreiro ( ede mais alguns), que ao contrário do futebolismo patrioteiro não deseduca e até nos faz voar "nas asas de uma guitarra"...

Piropo(s)

Há pessoas que estão bonitas por fora e por dentro, neste Agosto criativo.
Desculpem o sectarismo, mas em primeiro lugar este piropo vai para a bloguista Margarida( http://vemosouvimoselemos.blogspot.com ), de linguagem coloquial e irreverente, trazendo à net um humanismo essencial e um sarcasmo delicioso. Digo com orgulho e prazer que ela é a mãe sábia deste blog. Mas o meu carinho é também para as filhotas deste "águas do sul":
A Cristina( http://oguardadordosilencio.blogspot.com ), que traz a serenidade, numa elegante simbiose entre a escrita poética e a reflexão filosófica.
A Ana ( http://acaminhodosol.blogspot.com ), cujas palavras conseguem retratar cromos do quotidiano que mexem com as emoções dos outros, na medida em que dirigem destinos e gerem desgraças como se criassem frangos de aviário ou administrassem uma empresa de salsichas enlatadas. O seu implacável humorismo, escrito à flor do sentimento, disfarçado de riso é um grito sério e uma gargalhada descarada contra a malfeitoria dessa gentalha importante que arrecada grossas somas de subsídios estatais, entretendo-se a manipular almas e a desventrar sofrimentos.
Todas estas criadoras (e comunicadoras) têm lugares solares na blogosfera e no meu coração, territórios a desbravar, partilhando nest nova forma de estar e dizer olhares cruzados sobre o mundo em que respiramos.
Até mesmo a "náufraga" Vanda, que adora morcegos e não atina com as lostphotos.
Salvé Moçoilas!Para vos ler vale a pena viver (olha: fiz um verso...)

domingo, agosto 22, 2004

A Osga Domingueira

Ontem voltei à praia, às ondas quentes de Agosto, ao crepúsculo coroado de gaivotas, às conversas que têm aromas de nostalgia e a intensidade de outros verões vividos com esta ternura que não podemos adiar.
Hoje, a enxaqueca acordou-me e ao abrir a varanda para arejar a casa, eis que uma desvairada osga invadiu os meus recantos e alojou-se algures num cóio fresco, talvez entre as pilhas de caixinhas repletas de papéis. Suei pensando que logo, quando me for deitar, tenho uma companhia indesejada a molestar-me com a sua baba, perturbando-me o sono.
A única coisa boa desta aparição é que ela pode querer ser a vedeta de um blog futuro, que pode chamar-se exactamente como o título deste texto: "A Osga Domingueira". Nascida para chatear. Incomodando os fiéis do marasmo.
Aliás, as palavras, quando querem, são terríveis, como esta osga okulta que não consegui apanhar, e qual big brother se diverte nas minhas costas, escondida entre os meus livros e papéis, esperando talvez a noite, para curtir as paredes e empoleirar-se no silêncio da casa, gozando a saborosa e fresca escuridão.
São quase cinco da tarde e com a enervação ainda não almocei, nem fiz nada de jeito.
Uma osga, uma melga, um crocodilo, uma cobra, como um daqueles cães cabeça-de-atum que vi na praia atrás de uma bola e da prancha de uma surfista, são pesadelos.
Será que alguém me quer aliviar e explicar como é que me vou ver livre deste bicho peçonhento?


sábado, agosto 21, 2004

Saudades da Ana

Rodrigo Leão no início da tarde de sábado, que promete ser quentinha, apesar deste Agosto ser o mais chuvoso de há cem anos!
A roupa na lavandaria, as calças do alfaiate tunisino no Presto, os jornais na bagagem de praia, o Kéfir a preparar mais um bálsamo digestivo, a cabeça leve após uma semana intensa de labor mas também de mágica evasão como aquela viagem ao fim do dia a S. Cristóvão...
Noite alentejana de via láctea, estrelas cadentes, grilos e uma ternura que fica para sempre guardada na alma.
Depois do mar que anseio, hei-de dormir muito melhor, embora com saudades da Ana.
A Ana é um sorriso que diz mil coisas sem gastar sílabas, e as palavras dizem o quanto nos amamos, tanta cumplicidade partilhada, quantos obstáculos desbravados e é tão pouco dizê-lo em frases estivais, que apetecia estar agora com ela a rir, pois essas gargalhadas resgatam a vida toda e hão-de soar até à eternidade no coração dos que também nos amam.
A Ana tem o sabor da noite Alentejana e a luz do Mar, daí a saudade, pois é-me essencial.
Um beijo do tamanho do mundo, diva!!!

segunda-feira, agosto 16, 2004

Com a Vanda no Castelo diante da Cidade

Hoje a Vanda esteve com um sorriso luminoso como o sol da tarde.
Sentámo-nos no castelo de S. Jorge, frente à igreja de S. Cristóvão, e enquanto ela fumava o seu cigarrinho, contemplando o casario, o Tejo, as colinas, os quintais, escrevi esta prosa para celebrar a cidade nos olhos desta rapariga deslumbrada com as formas, os brilhos, o movimento, sensações imaginadas.
Com a sua máquina digital acabada de chegar, o olhar da Vanda registou gestos, momentos, descobertas.
Também para mim a cidade ganhou outra luminosidade, ao lado deste sorriso, que tornou o domingo num dia de companheirismo, na cidade de todos os dias subitamente reinventada em pausa de trabalho.

15-8-2004

domingo, agosto 15, 2004

Manhã Algarvia

Manhã de Junho
Em Ferragudo:
Acordo com os melros.
Vento e sol enlaçados
Na morna brisa do sul.
Manhã algarvia...
Poema de Luz!

23-6-2000

(À Margarida Alves e à Clarinda)

Militante Solar

Sou militante do sol. Adoro acampar, mas desde 2000 que não passo uma semana tão deliciosa, como aquela que a Guida e a mãe Clarinda me proporcionaram em Portimão...
Devia ser sempre Junho, Julho, Agosto...Grilos e cigarras, melros e jacarandás entrando nos textos, despertando-nos em cada alvorada.
Eu voto no sol. Sou apoiante do Verão.
Dormir de janela encostada na brisa, escutando o chafariz do largo onde moro a derramar acordes de aágua luarenta, é um privilégio (embora dispense o bar barulhento, que todas as noites conspurca o ar, seja com copos e garrafas espatifados contra o empedrado, seja com urros de gajas borbulhentas e mijo de chavalos recos).
Eu sou um dos adoradores da luz, do calor deste sol que me anima, e persigo, seja em Lisboa, em Havana, na Lajinha ou em Djerba.Ou ainda em Dubrovnik, Nacala, Arrifana, Tozeur, Alpedrinha ou Aegina.
Tomo duche frio, ando pela casa de peito ao léu, descalço. Visto tee-shirt para sair à rua e perco os olhos no mar.Dentro do qual o sol se enrosca, quando a noite chega para se espreguiçar na manhã seguinte.
Dispenso as sombras geladas de Outono, as chuvas de Dezembro, as friagens traiçoeiras de Novembro, a tristeza de uma paisagem invernosa, o gelo de certas manhãs do Porto, em Janeiro.
Apetece fugir, mudar de país, quando o sol não aparece.
Ontem estive na praia e garanto-vos que não me apetecia tornar à rotina. Desejei ser daquele lugar, pertencer ao jogo de luz que transformava todos os seres em aparições de cristal e ouro, fossem pessoas ou insectos, algas ou gaivotas...
Resta-me de consolo o saber que um dia voltarei lá, à essência marinha, ao ar refrescante do fim de tarde, à textura das dunas, ao corpo do silêncio, onde mergulham todos os passos, todos os sonhos, todos os cansaços.
Para ficar mais perto do sol.
7 e 15/8/2004

sexta-feira, agosto 13, 2004

calimeros

Pois é! Os Calimeros nunca têm culpa, mesmo que entrem em campo, para jogar com arrogante convencimento, sem usarem a técnica e a inteligência.
O erro nunca tem responsáveis, repetindo-se até à exaustão porque eles são "meninos de ouro"...intocáveis!!!
A culpa é do árbitro, do adversário,do clima, do estádio, de tudo menos deles...
Pantemineiros à espera de sorte e milagres.São assim os jogadores portugueses.
Não merecem bandeira à janela, até porque ganham num mês o que nunca conseguirei ganhar numa vida, apesar de ainda hoje lutar continuando a estudar.
Como sou exigente para comigo mesmo não posso pactuar com actuações rascas como a do jogos Portugal-Grécia e Grécia-Portugal, no passado Euro 2004 e agora no encontro com o Iraque para os Jogos Olímpicos.
A humildade é sabedoria e estes meninos de ouro estão a anos- luz de saberem alguma coisa: falar, aprender, jogar!
Enquanto tiverem a postura de vedetas não conseguem ser mais do que se tem visto...

Águas de Agosto

Agosto já foi um bom mês para férias. Este de agora tem dias assim: chuva, que surge até de noite, durante uma tarde de trabalho ou num domingo de famílias, molhando tendas, corpos, sonhos de lazer...
Em contrapartida, o aroma a terra molhada que fica depois da chuvada é fantástico, único, lembra-me África!
Essa África que para mim é a Ilha de Moçambique, recanto excepcional do planeta. Com mulheres macuas de cara ensopada em creme natural. Com restos de um império, com cânticos de Muezzine, com esse Índico enorme e misterioso abraçando a jóia de terra, palmeiras e casas seculares.
Esta África que torna de quando em vez, é a chuva de Verão que a traz...
Por isso gosto particularmente das águas que caiem do céu em Agosto.
8-8-2004

sábado, agosto 07, 2004

MARGARIDA ALVES, A POESIA NUMA JANELA VIRTUAL

Imagino o sorriso da Guida, entre gatos e ritmos, escrevendo quando lhe apetece, no seu blog-lufada, que revisito, para saborear aromas e ideias, palavras e emoções à janela do seu coração.
Conhecer a sua poesia é preciso- e ela já cantou o Alentejo e o Amor com uma luminosidade, que é bom degustar, como um vinho inebriante ou uma paisagem de Trás-os-Montes.
Ser seu amigo é uma honra e um prazer que não me canso de celebrar, longe da bitola-vómito dos compadrios e amiguismos que infestam a vida portuga, tão banhada em cunhas lamacentas e politiquices de meia tigela...
Ser amigo dela é estar mais alto, numa dimensão que o comezinho não atinge, porque ela não é académica mas dá meças: a sua verve é certeira, a sua ternura é deliciosa...
Num mundo de teatralidade(s) é bom saber que a Guida está por aqui, simples e cintilante, porque privilegia a pérola em vez da falsificação.
Só por isso é merecedora de toda a ternura do Universo!!!
PEQUENA TABERNA

Na pequena taberna
De balcão e conversa
A senhora de preto
Guia o nosso paladar.


Braseira acesa,
Em relógios de silêncio
E ginja, a tarde adormeceu
Nos bigodes do gato.



22-12-97

29-12-98


LUÍS FILIPE MAÇARICO




PASSATEMPO


Entram no clube
À hora do futebol
Pedem para ver
O primeiro canal
E põem-se a beber
Na mesa do tempo
Com olhos de ampulheta
Avariada.





22-12-1997



LUÍS FILIPE MAÇARICO


RUA DA CALLE

É uma rua aberta
Ao Mundo. Por ela
Passam sonhos e sorrisos
Chuvas e rumores
Padres e juízes
Estudantes aprendizes
Criadas e doutores.
A rua é do Mundo
E está aberta
Ao pássaro e ao poeta
Que respiram em cada
Vagabundo...



3-11-97


No comboio da Beira Baixa


MAGIA DA GARDUNHA


Da serra vem o som
Das águas em cavalgada.
Guardo este embalo
O frio na pele
Línguas de humidade
Entranhadas nos ossos
Versos onde o sol
Hiberna até ser
Flor de cerejeira ou
Animal faminto de luz.

23- 12- 2000

LUÍS FILIPE MAÇARICO

quarta-feira, agosto 04, 2004

COM O VENTO

Chega devagar o vento. Morno
Manso, para ruminar poeiras.
Todos os sonhos vão com ele,
A caminho do deserto. Lá onde
Deixa de haver o fumo dos fornos.
Lá onde os rebanhos não podem
Pastar. Onde ninguém procura
A lua. Chega devagar o vento.
Manhoso…


MATINAL NAS ILHAS KERKENNAH

Olhar o mar sem canseiras
Entrar no silêncio docemente
Saborear o sol furtivo
Uma manada de nuvens e
O rumor do vento
A despentear palmeiras.
Na ilha perdida
Só esta música
Pode ser a casa.

(inéditos, escritos na Tunísia, anos 90)


COM A MADRESSILVA

Com a madressilva
Chegarás às veredas
Do silêncio.
Onde cães e galos
Entrelaçam a voz.

No rumor
Do vento
Entre canaviais
Escutarás o mar.

A música.

15-8-97

(inédito, escrito em S. Martinho do Porto)

Luís Filipe Maçarico
TEU NOME, PALESTINA

Teu nome, Palestina
Corre o Mundo nos
Lábios solidários e
Nas mãos que anseiam
Cidades de crianças
Sem medo.

Teu nome, Palestina
Resiste entre escombros
E rios de sangue
Na custosa esperança
De vencer o tempo
Das flores esmagadas.

Teu nome, Palestina
Também faz parte de mim:
Não é possível sorrir
Se choras; não consigo
Cantar se morres.

Teu nome, Palestina
Lembra a luta dos que buscam
Na liberdade o afago da paz
o voo da sabedoria
o elixir da vida contra
os tanques e os canhões
dos opressores.

Teu nome, Palestina
É a lágrima e o grito
De um povo sufocado
Pelo roubo do futuro
Sempre adiado.

Teu nome, Palestina
É uma rosa de cinzas
Sonho teimoso
No coração dos que não
Se rendem dos que não
Se vendem dos que não
Desistem!


Março de 2002


LUÍS FILIPE MAÇARICO

domingo, agosto 01, 2004

dois poemas alentejanos

Num mar de brasas
as oliveiras resistem.
Viessem agora os corvos
de Van Gogh e o olhar
encontraria pétalas
de música no coração
das alcachofras.

Luís Filipe Maçarico

Ao sol de fogo
As palavras sussurram
claridades
Na cal dos muros
uma canção de sombra
imprime ritmos de sede.
Um vento breve
roça o céu de seda
Nos lábios da manhã
o silêncio queima.

Luis Filipe Maçarico

poemas alentejanos

Mergulho o meu cansaço
num vento de pássaros;
o olhar deitado na vastidão
dos campos. As seivas
de Junho perfumando a roupa
e o poema a cantar
ruas de terra limpa.

Luis Filipe Maçarico


há sempre uma oliveira
junto à casa e
perto da tarde
um rapaz irá deitar-se
sobre a terra com os olhos
mergulhados
nas cisternas

Luis Filipe Maçarico

Alentejo meu verde coração
de Dezembro, por aves e
rebanhos inundado.
Há nos teus campos
um lamento de vento
e chuva onde o silêncio
tem voz de cão abandonado

Luis Filipe Maçarico
GARDUNHA

Nos fraguedos
Onde o vento
Grava seus enigmas
Pastoreamos o silêncio
À luz da mais límpida
Pétala de água.


PÓVOA DE ATALAIA

Era uma rua de cravos
E versos antigos.
Por ela chegava-se ao campo
Das oliveiras que eram corpos
Abraçados escutando o silêncio.

Era uma terra de cravos antigos
E versos claros.
De olhos fechados ouvia-se
O poeta na página mais luminosa
Dum livro ou no vento
A embalar as águas encantadas
Da infância.

Era um lugar de silvas
E chuva onde corria
Uma ribeira magoada
Como lágrimas de mãe.
Ali deixei dois ou três
Caroços de tâmara

Para escrever o poema.

4-12-1994
(poemas de um livrinho inédito sobre a Gardunha, intitulado “AR SERRANO”)

Luís Filipe Maçarico

Nota Biográfica:
Nasceu em 1952, em Évora. Poeta. Antropólogo. Publicou 12 livros de poesia, 7 títulos de literatura infantil, 1 livro de contos, 1 biografia e 3 livros de cariz etnográfico, na área do Associativismo. Está representado numa dúzia de antologias e tem cerca de 2000 textos dispersos em revistas e jornais nacionais e estrangeiros, além de vários ensaios de Literatura e Antropologia. Alguns dos seus trabalhos (poemas e ensaios) estão disponíveis na net, nomeadamente no site:
http://www.circuloarturbual.interdinamica.pt/artes/cb/