"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, fevereiro 18, 2019

A Falta de Espírito Crítico e as Armadilhas Virtuais

Há ocasiões em que ficamos sem palavras, perante a derrapagem dos acomodados, que se limitam a partilhar o que recebem, pela net, sem qualquer espírito crítico, sem se darem ao trabalho de comprovar se aquilo que estão a ler é verdade ou se se trata de uma notícia falsa.
Ao longo dos anos tenho chamado a atenção de alguns incautos, explicando que a morte do cantor ou da actriz, que acabaram de divulgar, não se encontra em nenhum jornal on line.
Vem isto a propósito de duas dessas "notícias", uma mais recente, desmontada no "Notícias ao Minuto", outra que circula e cansa ver multiplicar-se, como cogumelos, acerca de uma jovem supostamente desaparecida e quando se pergunta a quem publica, qual a fonte...dizem-nos que foi enviada por uma amiga de uma amiga de uma amiga...
Porque não partilham um poema, uma tela, uma canção que remeta os outros para a possível harmonia, num mundo tão caótico?
O voyeurismo, o coitadinhismo é sempre a garnde via por onde circula a mentira e os vírus que muitas vezes vêm agarrados e se apoderam dos dados de quem tem este gesto, supostamente solidário, pensando que está a agir bem, sabe-se lá a favor de quem...
Resolvi fazer este post para mostrar o logro em que facilmente as pessoas caiem. Ora tomem lá atenção e leiam o que aqui se partilha (acerca de uma fake new viral, por causa do efeito "seguidismo):

sábado, fevereiro 02, 2019

No Avesso do Som


Actualmente, quando a rádio não fica infestada de vomitado de futebol, [que é quase todos os dias], tento escutar música. 
Porém, as letrinhas gorgeadas pelos novatos das cançonetas, destinadas a cabeças de esferovite, constrangem-me:
"Ficas-me tão bem/ Enfeitas os meus dias", insinua a voz de um cantor jovem.
Então a mulher é como um emblema, para ostentar?

Logo um quarentão assegura (quem plagiou quem?):
"Tens qualquer coisa de filme francês/ Tu, tu ficas-me bem/ Tão bem, tão bem, tão bem, tão bem…"

Mantenho a sintonia, na esperança que a qualidade mude. 
Porém, e apesar de surgir uma música mais agradável para o ouvido, apresenta-se outra letra que é uma lástima:
 
"Falam, falam, falam/ Do teu vestido/ Uns dizem que é curto/ Outros dizem que é comprido/ Que tens cara de santa/ Mas que és um perigo/ E que eu dou ares de senhor/ Mas tenho alma de sem abrigo".

Resisto a mudar de emissora e, não sendo masoquista, levo com mais esta:
"Fazes isso tão bem/ Deixas-me ser e crescer também/ Fazes isso tão bem/ E eu não quero saber de mais ninguém" (Será a apologia de uma boa cozinheira? Ou da robot Sofia?)...

Estas "novidades" portuguesas surgem no meio de sucessivas avalanches de temas dos anos oitenta, numa antena onde era suposto ouvir-se José Afonso, Adriano Correia de Oliveira e os demais clássicos da música portuguesa, ou até expoentes jovens e veteranos, como Ricardo Ribeiro, José Mário Branco e Janita Salomé, só para citar alguns.
A par das televisões pimbas esta rádio, através da qual, durante anos me habituei a acompanhar, todas as manhãs, a irreverência luminosa do António Macedo, passou a dar a mão a "artistas" com escasso talento, que gorgeiam, entre uma play list - com trinta e quarenta anos, elaborada ao sabor do saudosismo de locutores, que possuem boa dicção mas cuja escolha musical é sofrível , parecendo evitar, como se fizessem um esconjuro, canções interventivas. Há excepções, como é óbvio, quer nos apresentadores, como nos discos divulgados. Depende de quem dirige (com dignidade) a emissão. É o caso de David Ferreira, Edgar Canelas, Jorge Afonso, João Gobern, havendo outros protagonistas, dignos de menção, marcando pela diferença programas, que nas mãos dos actuais ocupantes de manhãs e tardes ficariam no avesso do som.

Desmedida é a panóplia de textos cacarejados, na rádio da qual já fui mais fiel, que espremidos contêm um quase vazio, porque quem os escrevinhou parece desejar um público acéfalo e acrítico, que consiga  habituar-se a versos tipo "amar" rimando com "falta de ar".
E eu, que aprecio temas com qualidade, mudo para uma rádio de standards e fico a escutar Sinatra, Bublé, Aretha, Norah Jones e tantos outros, que fizeram de determinadas melodias, pela sua interpretação, referências de bom gosto.

Luís Filipe Maçarico