"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, dezembro 23, 2011

Uma Boa e Estrondosa Notícia














Esta noite, realizou-se no salão do Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", a Assembleia Geral Eleitoral para os Corpos Sociais de 2012.

Com a inclusão de alguns novos elementos nos Agregados à Direcção, a lista proposta pela actual direcção mantém os elementos fulcrais da gerência de 2011, continuando a mesma mesa da Assembleia Geral e o mesmo Conselho Fiscal. Júlio Machado continuará a conduzir a colectividade.

Orlando Rebelo, presidente da mesa saudou os associados manifestando "uma enorme satisfação por ver a plateia repleta". Explicou depois, que, com oito dias de antecedência, lhe foram presentes duas listas , sendo uma, a dos actuais corpos sociais e outra, que rejeitou por não reunir as condições regulamentares.

Das 87 presenças registadas nesta Assembleia, no momento da votação, 4 associados não responderam à chamada, tendo-se verificado os seguintes resultados:

Lista A......................................................................80 votos
Contra......................................................................1 voto
Nulos........................................................................1 voto
Abstenções..............................................................1 voto

O aplauso, de júbilo, dos associados ecoou longamente, no salão onde muito imaginário bairrista se projectou sobre o palco, ou em actividades desportivas relevantes.

Haja boas notícias!

As pessoas, quando sentem posto em causa o espaço popular, onde têm a hipótese de fruir teatro, música, fado, cultura, convivendo, dançando, rindo - por preços simbólicos (o da quotização), reagem e manifestam-se.
Esta noite fez-se História, nos Combatentes, colectividade nascida em 30-9-1906, onde nasceram, para a vida artística portuguesa, nomes importantes, como Aida Baptista, Arthur Duarte, Maria Clara, Tony de Matos, entre outros.
Parabéns aos associados do GDEC e aos voluntariosos dirigentes, que têm sabido engrandecer a colectividade, com o seu trabalho associativo de qualidade, designadamente durante os Santos Populares, transfigurando o terreno dos Inválidos do Comércio num sítio mágico, onde apetece estar ao longo das noites festivas de Junho.

Nota: Ninguém se lembra de uma Assembleia tão participada. Quem disse que o Associativismo está em crise?

Luís Filipe Maçarico (texto)
Fotografias do Arquivo: LFM e José Manuel Costa.

quinta-feira, dezembro 22, 2011

O Pesadelo Terrorista Quando Devia Ser Natal


Apesar do pesadelo que se vive actualmente, com bombardeamentos diários, tenhamos esperança.
Havemos de sair de mais este túnel apertado e voltar a ver a luz que merecemos, apesar de haver quem tenha como medida do suportável a total descida aos infernos, comparando sempre o que se passa, com a fome e a miséria de outros tempos, como se o limite fosse o retrocesso absoluto, a perda da dignidade, o fascismo.

Apesar da incansável investida dos ressabiados, um dia - talvez já não tão longínquo - quem faz as malas e é obrigado a sair é este governo e não os portugueses, maltratados como nunca.

O guião foi certamente estudado minuciosamente.
Cada dia é um urro, um guincho, um vómito, na pauta da monstruosa afronta aos que trabalham, aos que fossaram, como escravos, toda uma vida e agora se vêem quase sem nada, no fim do caminho.
Malditos sejam os que fazem uma política assim. E que sejam chamados, a prestar contas, no momento devido e que não tarde esse dia.

A arrogância e o desaforo desta gente é tal, que as palavras sentem vergonha.
Geração de políticos, sem escala humana, sem alma, apenas centrados na imagem cinzentona, da vaidade medíocre, que exibem, quais títeres dos execráveis interesses materiais, trituradores do bem estar social, abominadores da inteligência e da cultura, adoradores exclusivos do Capital, balõezinhos frágeis da merda de não ser.

Boas Festas?
Só quando os balõezinhos se desfizerem naquilo que são e se evidencie a sua veia terrorista, para lá do casaco de fino recorte, gravata e sapato reluzente, que nada têm a ver com Natal, Suavidade, Paz e Esperança num Mundo mais Justo!
Aí sim, voltará a ser Natal, de preferência todos os dias, pois a Iniquidade há-de ser travada pela Razão!
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)

sábado, dezembro 10, 2011

O Engano do Jovem Taxista


Uma destas tardes, a caminho da fisioterapia, dou comigo a falar com o jovem taxista sobre o corte dos subsídios de Natal e de férias, que primeiro começam sempre pela função pública e depois alastram ao sector privado.
Que não, que a ele não ia afectar por aí além, dado o baixo salário que aufere.
Sempre esta mentalidade, que leva muita gente a nivelar-se por baixo, na auto - contemplação do seu coitadinhismo, em vez de reagirem, exigindo salário digno.
Ainda tentei explicar ao homem, que pelo facto de andar nesta cidade, conduzindo, transportando doentes, pessoas que vão para o trabalho, para a Escola, para reuniões decisivas, pela responsabilidade, pela interacção com os clientes, pela formação que necessita de ter, pela paciência e discernimento, bem merecia ser melhor recompensado.
Ficou com ar de quem pensa que não merece, repetindo: esses cortes não me afectam!
Ah, pois não! A classe média, uma vez espoliada, vai andar menos de táxi e aí, não tendo clientes, o taxista não recebe salário...
Tão inteligente que é o nosso Povo!
Luís Filipe Maçarico

sábado, dezembro 03, 2011

REAGE, PÁ!


Reage, pá! A vida é mesmo isto, quando não temos recursos: Por cada dia feliz, cem dias de amargura...Oh, eu bem conheço aquilo de que me falas...mas como não temos quem nos dê uma injecção atrás da orelha, temos de continuar a vomitar a cicuta que nos querem obrigar a engolir. Reage, pá!
Fotografia de Mário Sousa.

quarta-feira, novembro 30, 2011

Não Quero Ser Espanhol!



Mensagem enviada à Direcção da Sociedade Histórica da Independência de Portugal, criada em 1861, a quem pedi informações acerca das comemorações do feriado do 1º de Dezembro, que se realizarão amanhã, na Praça dos Restauradores, em Lisboa, como é habitual, mas onde participarei pela primeira vez:


"Agradeço a vossa atenção e desejo que estas comemorações, sejam marcantes, atendendo ao actual contexto, em que o alcaide de Olivença pretende comemorar, de forma insultuosa para com Portugal, a ocupação espanhola daquele território, enquanto o governo português, em nome do sacrossanto deus dos mercados monetários, não se importa de descartar da nossa identidade, do nosso património, da nossa memória colectiva esta data - sagrada para todos os que não trocam a independência, pela subjugação, mesmo que hajam alguns que preferissem ser espanhóis, na ilusão de ganhar mais, de ter mais dinheiro no bolso, ao que parece o único valor dos nossos tempos, confundindo-se agiotas e opressão com desenvolvimento e bem estar."


Luís Filipe Maçarico (texto) Foto (cartaz da campanha do Turismo do Alentejo, destinada a atrair turistas espanhóis...A brincar, a brincar, há entidades pelos vistos impunemente irresponsáveis e até premiadas pela "ousadia e originalidade" em fóruns de negociantes, que vão criando nas mentes massacradas dos tugas a estúpida ilusão que, se nos deixarmos conquistar pelos hermanos, atingiremos graus de prazer que só existem na mítica ideia de paraíso...cá por mim, se isso sucedesse nem a vaselina podia acudir a essa gentalha sem coluna vertebral, sem princípios, a quem apenas a vida de plástico interessa).

segunda-feira, novembro 28, 2011

Júlio Machado Vaz Visitou o Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes"










Gosto muito de escutar Júlio Machado Vaz. Ao longo de várias temporadas e acompanhado por diversos interlocutores, o professor tem apresentado - na Antena 1 - "O Amor É..." onde se comenta o facto de uma universidade americana querer interferir na liberdade dos alunos, impedindo-os, se forem gordos e não praticarem exercício físico, de obterem o diploma, ou do alcoolismo, enquanto dependência tão grave quanto as outras drogas...
São vários anos a seguir com redobrado interesse temáticas incontornáveis, com uma pitada de humor, ou uma reflexão arrepiante acerca do quotidiano.
Pois na passada sexta feira tivemos oportunidade de o ver, "ao vivo", no Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes", de conviver com ele à hora do almoço, em que visitou o Museu apreciando o património documental, relativo a Maria Clara, sua mãe, que ali começou, enquanto artista (e atleta, com boa performance em diversas modalidades, designadamente ténis de mesa e atletismo).
No final, no salão onde o público ri à gargalhada, com as revistas que, ano após ano, continuam a ser representadas, no popular palco de teia italiana, o Professor evocou as memórias ligadas a sua mãe e foi na sua serenidade, comovente.
Ficamos muito gratos por esta bela partilha e está de parabéns a direcção, pela excelente iniciativa que juntou perto de duas dezenas de pessoas, entre actuais e antigos dirigentes e associados e amigos.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

terça-feira, novembro 22, 2011

GREVE GERAL


Pessoas malcriadas e incompetentes, há em todas as profissões e no caso das Finanças (que é sempre, por todo o lado, o exemplo amargo para se atacar todos os funcionários em geral) é uma evidência, que eu próprio já senti. Mas esses trabalhadores têm chefias e são avaliados...ou será que ao contrário de mim e dos restantes funcionários públicos não têm de estar à espera 10 anos para mudar de categoria se tiverem classificação de bom? O excelente e o muito bom está reservado para seres muito especiais... E agora, nem para esses, pois estão congeladas as progressões...ou será que haverá funcionários que têm benesses e direitos divinos que me escapam? Os políticos corruptos? Os Assessores? Os Administradores das Empresas Públicas?

Tenho mágoa por estar a suceder a ofensiva que foi denunciada por um homem do partido do Governo, com grandes responsabilidades e não quis ficar cego, surdo e mudo.

Fiquei com bastante respeito para com o Professor Jorge Bacelar Gouveia, que teve uma intervenção brilhante, nos Prós e Prós. Corajoso, acusou o Governo de estar a perseguir os funcionários públicos, frustrando expectativas e terminou dizendo que vai fazer Greve dia 24. Trata-se de um destacado militante do PSD.
Infelizmente, os portugueses nunca se querem nivelar por cima, mas por baixo e esta coisa das imensas regalias, confesso que não percebo. Varri ruas, foi o meu primeiro serviço na CML, depois fui fiscal sanitário, com a licenciatura e o mestrado muni-me de ferramentas que me proporcionaram ser mais útil à cidade e ao país onde vivo.
Tenho feito estudos, intervenções, que julgo enriquecem a Comunidade. Tenho 59 anos, e fico triste por que aquilo que ganho como Técnico Superior é certamente muito menos do que se tivesse ido trabalhar numa empresa.
Porque sou qualificado.

Cada vez me é pedido mais trabalho, em troca de menos salário.
Suportar calado, porque há pessoas a passar pior?
Isso é tornar ainda pior a vida dessoutros, se ninguém fizer frente à afronta.

“Os direitos fundamentais não resultaram de nenhum assalto, nem de nenhum desvio esquerdista no país. Foram construídos por governos onde muitas vezes o PSD esteve”, alertou Carvalho da Silva ( Público).

GREVE GERAL? Eu Faço!

Luís Filipe Maçarico (texto e foto)

segunda-feira, novembro 21, 2011

A Aldraba entre Cacilhas, o Cais do Ginjal e Almada Antiga: Memórias do Operariado, Romeu Correia e Associativismo



Os presidentes da Incrível e da Aldraba confraternizando.



Salomé Almeida, sábado passado, na Incrível Almadense, durante o Encontro da Aldraba.



O arqueólogo Luís Barros apresentando o Núcleo Naval do Museu de Almada.



Os Encontros da Aldraba têm sempre uma componente de convívio e fruição gastronómica, pois comer sendo um acto cultural é igualmente uma forma de contribuir para a salvaguarda do património.



No Cais do Ginjal, com Luís Filipe Bayó da associação O Farol.



Na Incrível Almadense, Alberto Pereira Ramos, evocou Romeu Correia.



O poeta José do Carmo Francisco, participou também neste Encontro, recordando Romeu Correia e Almerinda, atleta laureada, que chegou a ser apedrejada por mulheres, por andar a correr de calções.

A Associação Aldraba passou o sábado entre Cacilhas, o Cais do Ginjal e Almada. O Património Naval e Fabril, a Memória de Romeu Correia e o Associativismo foram os temas abordados.
Os participantes percorreram o Cais do Ginjal, com Luís Filipe Bayó, dirigente de O Farol, Associação de Cidadania de Cacilhas, que pormenorizou inúmeros aspectos da rica história local.

Com o arqueólogo Luís Barros, viajaram pela História milenar de Almada, no Núcleo Naval do Museu da cidade.

Após subirem no elevador panorâmico até à Almada Velha, e almoçarem num simpático restaurante local, escutaram na Incrível Almadense alguns associativistas, com especial destaque para Mestre Alberto Pereira Ramos, que evocou Romeu Correia.
Salomé Câmara, foi desafiada por José Alberto Franco, para falar acerca da sua experiência, como primeira mulher presidente da direcção de um sindicato, nos anos 80. Salomé falou dos problemas da mulher no regime de Salazar e partilhou a sua experiência, quando em 1959, foi proibida de usar calças no serviço e teve um susto, em Viseu, num cinema, por haver pessoas ameaçadoras, que achavam um escândalo mulheres de calças...

A antropóloga Helena Galante confessou que fica muito triste, quando ouve uma jovem dizer que se vivia melhor no tempo da ditadura, pois certamente desconhece como eram tratadas as mulheres. E defendeu que de todas as revoluções (liberal, Republicana) só o 25 de Abril trouxe igualdade à mulher e nesse sentido essas jovens e todas as mulheres deveriam estar gratas por tal reconhecimento.

O encontro terminou com uma visita ao Museu da Colectividade, nascida no século XIX.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)

domingo, novembro 20, 2011

ENTREGA DE PLACA DISTINGUINDO SANTA CAMARÃO AO MUNICÍPIO DE OVAR



O Dr. Manuel Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Ovar, exibe a placa atribuída a Santa Camarão, ladeado pelo vereador Vítor Ferreira e pelos dois elementos da CPCCRD.



Luís Maçarico fala de Santa Camarão, enquanto herói desportivo e personalidade de grande humanidade, que em tempo de ausência de valores é uma referência e motivo de orgulho para a Comunidade Vareira.



O Presidente da Câmara Municipal de Ovar, com Jaime Salomão e Luís Filipe Maçarico, durante o encontro com os representantes da CPCCRD, que foram entregar a placa e o diploma atribuídos a José Soares Santa, pela Confederação do Desporto de Portugal, considerando-o um dos Cem Atletas dos Cem Anos da República.



Nesta fotografia, os senhores Carapinha, Armindo e Dra. Deolinda, meus informantes sobre Santa Camarão, que muito me ajudaram na elaboração da biografia "Com o Mundo nos Punhos" e na dissertação de mestrado "Os Processos de Construção de um Herói do Imaginário Popular".


No dia 16 de Novembro de 2010 (fez esta semana um ano!), representando a Confederação Portuguesa das Colectividades, recebi no Casino Estoril, durante a Gala do Desporto, promovida pela Confederação do Desporto de Portugal, a distinção atribuída a Santa Camarão (diploma e placa) como sendo um dos 100 Atletas dos 100 Anos da República.

Porém, placa e diploma traziam o nome trocado. Conseguida a correcção do erro, com nova placa e novo diploma, ajustou-se com a agenda do presidente da Câmara Municipal de Ovar, Dr. Manuel Oliveira e com um director da CPCCRD (cujo Conselho Nacional integro) a entrega ao Concelho de Ovar, terra de nascimento e falecimento do mítico herói do boxe dos anos 20-30, da prestigiante distinção.


Na passada quinta feira 17 de Novembro, finalmente, com Jaime Salomão, director da CPCCRD, representando esta instituição, fomos recebidos no Salão Nobre da autarquia de Ovar pelo seu presidente e vice-presidente, a quem entregámos os símbolos da distinção ao atleta, na presença de diversos amigos.
Presenciaram o acto, o director do Jornal "João Semana", Padre Manuel Bastos, o jornalista Fernando Manuel Oliveira Pinto, o repórter sr. António Mendes Pinto, os sobreviventes do Grupo de Reflexão Pró Ovar (responsável pela biografia que fiz para a CML e que depois originou uma tese de mestrado no ISCTE), o sr. João Costa, grande animador da tradição dos Reis, e cujo pai no Carnaval de Ovar dos anos 50 formou com Santa Camarão um par hilariante, entre outros amigos. Bem hajam a todos!


Na ocasião, tive oportunidade de explicar por que se decidiu entregar as condecorações simbólicas (placa e diploma) ao Município. No entender da CPCCRD, será certamente esta entidade que melhor poderá salvaguardar a memória, dado que muitas vezes os familiares mais novos não valorizam este género de património, além de se desejar que toda a Comunidade possa usufruir da distinção.

Luís Filipe Maçarico (texto) Fernando Pinto (fotografias)

domingo, novembro 13, 2011

O Fado em Vozes dos Balcãs

Enquanto uns emproados, (que arrecadam balúrdios, na estranja, fingindo dar aqui uns chutos na bola, ostentando a camisola deste desgraçado protectorado), vomitarem impropérios, cuspindo vulgaridades, como se fossem imortais, espero que a Bósnia derrote a sempre arrogante, mas insignificante, selecção portuguesa de futebol, sugadouro de uma parte dos nossos sacrifícios e alvo de condecorações, da criatura que ocupa uma cadeira, ali para os lados de Belém.

A ver se de uma vez por todas, o defunto Madail, qual Berlusconi do futebol luso, ainda estrebuchante, implorando que os tugas encham o estádio da Luz, nos deixa em paz e se apelos, como aquele que escutei, para os adeptos infernizarem os jogadores bósnios, deixam de ser regulares, de tão anormais que são...
Ou seja, o futebol sempre a servir, para a descarga da infelicidade quotidiana dos povos, qual escape, para as malfeitorias governamentais, o que dá muito jeito ao poder, que até distingue a troupe do pontapé na bola, como se fossem heróis, para entreterem o pagode...

Pois na Bósnia, em 1976 nasceu um cantor, que integrado num grupo de fado, dinamizado por vários artistas da Sérvia, interpreta fados que Amália e Mariza espalharam pelo Mundo, com a qualidade que podem testemunhar vendo o vídeo que partilho...

Quando será que os povos terão direito a não ser usados como mercadoria, ou arma de arremesso, para os desígnios da baixa política do capitalismo?
Quando será que o património cultural dos povos se poderá fruir, sem fronteiras ou diferenças rácicas ou económicas?

Para aqueles que sabem ler estas linhas e entendê-las, apresento-vos BOJAN KNEZEVIC e NEMANYA SEKIZ.

O primeiro, estudou canto numa escola superior de música, foi vencedor de vários festivais de música e em programas de televisão. Actuou em várias salas de Belgrado e Kotor, entre outras cidades do Adriático.
Aqui, encontramo-lo a cantar o nosso poeta José Carlos Ary dos Santos.

O segundo, já cantou em Lisboa, em casas de Fado e percebe-se, pelo repertório, que admira Mariza.
Como chegou ao Fado, interpretando com tanta alma, talvez a amizade com Luís Guerreiro, guitarrista de Mariza, possa ser a chave desta aproximação à alma portuguesa.

Ora vejam e oiçam!
http://www.youtube.com/watch?v=IuUAgFoUHK8&feature=related



http://www.youtube.com/watch?v=RIZB83RHmds


sábado, novembro 12, 2011

O Fluxo e a Mentira


No Público de hoje, secção Local, página 28, o Vereador da Mobilidade da CML, a propósito da portagem urbana (que divide com duas rotundas uma via, obrigando os condutores a pagarem 40 cts para ultrapassarem o obstáculo, através da entrada e saída num parque de estacionamento paralelo ao obstáculo, que acaba por ser a alternativa imposta) "justificou aquela decisão com o facto de ter deixado de ser possível manter o actual fluxo de circulação num local que poderia gerar conflito com o atravessamento de peões entre as estações fluvial, ferroviária e de metro"...

Se aquela justificação fosse verdade, extinguia-se a praça de táxis, junto à estação dos barcos, os distribuidores dos restaurantes, as carrinhas da EMEL e tantos outros veículos circulantes, não poderiam rodar ali e, em vez do alcatrão recentemente colocado, dos parques de estacionamento por todo o lado - PAGOS - com constantes multas e respectivos bloqueamentos, a cargo dos diligentes e todo poderosos fiscais da EMEL desapareceriam, para dar lugar a idílicos jardins, onde este vereador e quejandos iriam patinar ou pregar às libelinhas...

A mentira é tão grande, que só desejo que políticos (e acólitos) desta estirpe, como este, eleito vereador do grupo de independentes na lista de Helena Roseta, que deve ter carrinho pago por todos nós, motorista, bom ordenado e outras benesses, fora os assessores, como aquele pesporrente, que apareceu num vídeo, a mandar os automobilistas circular na pouco frequentada Avenida 24 de Julho, que também não deve ganhar assim tão pouco para se dar ao luxo de arrotar postas de pescada, tenham o destino marcado.

Lembrando o locutor do ex-Rádio Clube Português, Paulo Fernando, "este disco é intocável, mas não é inquebrável"...ou seja, lixo com estes figurões (e não são poucos), que se apoiam na mentira para fazer política!
A propósito: E que dizem as Oposições, cujo silêncio é tão ensurdecedor?

LFM

sexta-feira, novembro 11, 2011

Pútrida


Pergunto-me, quando é que os vampiros deste Processo Revolucionário de Empobrecimento em Curso, ficarão saciados.
Todos os dias há bombardeamento espiritual.
Não tenhamos dúvida que estamos a viver uma guerra: de intoxicação, de roubo de salários, e dos mais diversos apoios sociais, sucedendo-se os aumentos de tudo. Em Lisboa, até inventaram uma portagem, cortando uma rua ao meio, que só se consegue percorrer pagando a entrada num parque de estacionamento paralelo à rua, saindo-se no troço seguinte.
Todas as instituições têm inventado as formas mais escabrosas para sacar dinheiro.
O magnífico (que nome tão ridículo) reitor de uma universidade portuguesa, decidiu, dez meses depois do pedido de adiamento de um grupo de estudantes-trabalhadores, que obviamente não conseguiriam atingir o seu objectivo, com qualidade, em meio ano... A tese de mestrado que se tinham proposto apresentar, foi adiada um ano, mas com uma taxa de 1.200€, superior às propinas que tiveram de pagar cada semestre...
Como se a hecatombe não bastasse (os exemplos são infindáveis), o Cardeal Patriarca falou em fifty fifty, quando disse que a Igreja concordava com a extinção de 2 feriados religiosos (corpo de Deus e Assunção de Maria) se o Estado abdicasse de 2 feriados civis.
A sem vergonha das instituições já nem sequer se mascara com a hipocrisia. Não sou religioso, mas tento respeitar os que o são, embora por vezes, como é o caso, perca as estribeiras.
Então gastaram-se milhares de euros em comemorações oficiais do centenário da República, os próprios presidentes da República, da Assembleia da República, da Câmara Municipal de Lisboa e o Primeiro Ministro há um mês participaram numa cerimónia evocativa e eis que uma das moedas de troca é nada mais nada menos que o 5 de Outubro! Uma verdadeira palhaçada tudo isto. Como ter respeito por esta gentalha que assaltou os orgãos de decisão?
E que dizer da forma expedita como se querem descartar do 1º de Dezembro?
Mesmo não sendo um indefectível da ideia fascistóide, nacionalista (tão ao gosto de legionários, como Scolari) de sentir no pano de uma bandeira, a Pátria, pois sinto-me mais internacionalista, só me ocorre uma palavra: Pútrida!
E mesmo sendo outro palhaço, a Otelo, fugiu-lhe a boca para a verdade.
Luís Filipe Maçarico (texto e foto)

terça-feira, novembro 01, 2011

Jóias Imperceptíveis em Portas de Lisboa



Editado pela Apenas Livros, "Jóias Imperceptíveis em Portas de Lisboa", mereceu na apresentação pública (na Fábula Urbis) estas palavras, de Margarida Almeida Bastos, que agradeço:

"O livro de Luís Maçarico, «Jóias imperceptíveis em Portas de Lisboa», ilustrado com fotografias de António Brito, aborda um tema pouco estudado, pelo menos ao nível da capital: as aldrabas, os batentes e os puxadores.

Neste trabalho o autor estabeleceu como fio condutor as casas (e respectivas portas) onde viveram catorze personalidades emblemáticas da cultura portuguesa: poetas, escritores, artistas plásticos, filósofos, fadistas.

A leitura do livro parece confirmar um paradoxo que domina a sociedade actual. Se por um lado se assiste a um interesse crescente e, por vezes, até uma certa “mitificação” do passado, por outro, verifica-se uma desvalorização quase sistemática dos seus vestígios materiais, especialmente quando se tornaram obsoletos, perderam o significado simbólico ou, pelas suas características morfológicas, são praticamente imperceptíveis.

Esta realidade tem contribuído para o desaparecimento e destruição de inúmeras peças, cujo valor patrimonial não é mensurável nem pelas dimensões, nem pela matéria de que são feitas, mas sim, e sobretudo, pela estratigrafia de vivências que encerram.

Neste contexto, as aldrabas, batentes e puxadores revelam-se particularmente valiosos pois incorporam uma vasta história social, cultural e simbólica.

A salvaguarda destes elementos configura, assim, uma atitude de respeito não só por toda uma tradição, como também pelos artífices que os fabricaram (ferreiros e marceneiros), por todos aqueles que os adquiriram e/ ou utilizaram, e, em última análise, pela própria memória colectiva de um povo.

Uma vez que este trabalho refere vários vultos da cultura, não posso deixar de recordar uma entrevista efectuada a José Cardoso Pires após o AVC que o atingiu, na qual o escritor defendia que o que identificava um homem não era a inteligência, ou pelo menos só a inteligência, mas, sobretudo, a sua memória.

Apesar de Cardoso Pires se referir à memória individual, penso que poderemos transpor a constatação para a memória colectiva, tendo em conta que esta constitui também um elemento primordial em termos de estruturação da nossa identidade enquanto comunidade.

São muitos os exemplos desoladores relativos à destruição deste património, alguns dos quais mencionados no livro de Luís Maçarico. Refira-se, a título de exemplo, a porta do prédio nº9, da Rua da Rosa, no qual nasceu Camilo Castelo Branco e a porta do prédio nº4, do Largo de São Carlos, onde nasceu Fernando Pessoa, cujos elementos originais foram substituídos por peças desarticuladas e aberrantes.

Constata-se, assim, que, com o desaparecimento daqueles objectos, o casario antigo de Lisboa fica mais pobre, assistindo-se, em simultâneo, à morte de uma parte da memória da própria cidade.

Será, pois, importante divulgar este património e o espaço em que se inscreve, promovendo desta forma um processo alquímico ao nível das consciências e atitudes – e penso que a “alquimia” vem a propósito, tendo em conta não só o tipo de material de que são feitos estes objectos, como também todo o processo que envolve a sua elaboração, desde a recolha do minério até à obra de arte final – de modo a conseguir estabelecer laços equilibrados e saudáveis entre o passado e o presente, sem cortes nem rupturas.

Margarida Almeida Bastos

segunda-feira, outubro 31, 2011

Porque Não Impôr o Recolher Obrigatório?



Acabei de assinar a Petição contra a redução/extinção dos horários nocturnos da rede METRO e CARRIS! onde escrevi o seguinte comentário:

"Governo ou terrorismo? Massacram-nos com impostos, roubam-nos o salário, decretam o fim dos subsídios de férias e de Natal, impedem-nos o acesso à Saúde, dificultam a Justiça, debilitam o ensino, facilitam o desemprego, poupam os tubarões e ainda pensam em interditar transportes durante a noite. Porque não impôr o recolher obrigatório e fuzilar os prevaricadores?"

http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=P2011N15917

quinta-feira, outubro 27, 2011

Retrocesso


Em 1906 e 1911 duas prestigiadas colectividades de Lisboa, foram fundadas para combater o alcoolismo, que grassava entre a classe operária...Tempos difíceis de míngua, de grande disparidade social...

A luta do povo, ao longo do último século, proporcionou uma vida menos atribulada...

Em 2011, cem anos depois, o vinho é taxado a 6%, enquanto uma sopa, uma água, uma peça de teatro, passam a ter IVA de 23%.

Salazar dizia que beber vinho era dar pão a um milhão de portugueses. Pelos vistos, deixou seguidores diligentes, que o homenageiam, fazendo empobrecer o povo, fazendo recuar a marcha dos dias...

Eu sei que foi nas tabernas que o fado floresceu e pelo Alentejo, nas tabernas, o Cante teve uma das suas melhores escolas...

Mas o fatalismo, que os vampiros desenfreados parecem querer impôr aos trabalhadores, é opressivo, pois empurram de novo as pessoas para um quotidiano humilhante...

Acredito que a luta da razão obterá resultados, que terão o sabor da desforra, perante a afronta. E quando alguém erguer uma taça de vinho, que seja para festejar a vitória sobre os novos esclavagistas.

Que não se afogue a energia no álcool, pois ela faz falta, para enfrentar a ameaça mais insultuosa, com que os trabalhadores foram confrontados.

LFM (texto e foto)

domingo, outubro 23, 2011

Eleições na Tunísia


Decorridos nove meses sobre a Revolução de Jasmim, a Tunísia vota hoje, escolhendo entre 110 partidos. Há 11 mil candidatos para 217 lugares na Assembleia Constituinte. Votam 7,5 milhões de eleitores.
Que os tunisinos escolham o melhor futuro é o meu desejo.

terça-feira, outubro 18, 2011

As Novas Rotundas Gémeas ou Uma Scut dentro da cidade.



Nasceram duas novas rotundas-gémeas!
Quem vem de Alcântara e chega ao pé da escola de joalharia, perto do restaurante Meninos do Rio, depara-se com uma grande surpresa...
O que dantes era uma via, com continuidade, está interdita.
Quem vem do Cais do Sodré, depara-se com a mesma proibição.



Os sinais de trânsito não têm qualquer registo da CML ou da APL...
Entretanto, a EMEL passou a cobrar todo o espaço de estacionamento disponível. Quem decidiu assim e porquê?



Há alguns dias, induzi em erro um taxista, assegurando que se circulava até ao Cais do Sodré, pois perto da estação dos barcos, já havia passagem entre Alcântara e aquela zona. Qual não é o meu espanto e frustração, quando fomos interrompidos pelas rotundas/fronteira.



Perguntei então a um fiscal da empresa municipal de estacionamento, como se passava para o outro lado (senti-me de repente esmagado pela prepotência de uma entidade desconhecida) o qual esclareceu, que pode haver uma saída, para os incautos que se deparam com a rotunda: entrar num parque de estacionamento junto ao Tejo, atravessá-lo e sair mais à frente, onde a via interrompida pela rotunda, se retoma.


Só que tem de se pagar, de cada vez que se utilize a passagem daquele parque, 40 cêntimos. Uma scut dentro da cidade...não sei se estão a ver!? E que dizer do cartão que anuncia a entrada para o pequeno mónaco chunga?
Será que esta nova portagem se destina a tapar mais um buraco colossal, talvez aquele que as más línguas dizem que a Emel tem?


Contudo, o mais bizarro é não ter ainda encontrado nenhuma explicação ou crítica, na comunicação social, nem sei se os automobilistas, além da ira ocasional fizeram o que deviam, enquanto cidadãos...
E afinal quem teve esta bela ideia?

Texto e fotos de LFM

segunda-feira, outubro 17, 2011

Armindo Rodrigues cantado por Luís Cília

Conheci Armindo Rodrigues, quando no Pavilhão dos Desportos ele, José Gomes Ferreira e Manuel da Fonseca, durante um evento realizado pelo PCP, passaram o testemunho a poetas mais jovens: Eufrásio Filipe, José Vultos Sequeira e eu próprio.
Numa pesquisa no Youtube descobri esta pérola. Luís Cília, cantando Armindo Rodrigues. Do passado ecoam palavras de companheiros que já por aqui lutaram e nos estimulam a prosseguirmos, firmes, na defesa dos direitos, de uma respiração à escala humana, sem temor, nem vergonha de existir.

http://youtu.be/4YC6PUzO7Nw

Soneto do Trabalho de Ary dos Santos







Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos e das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.

Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas.

Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.

Levanta-te meu Povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.


Poema de José Carlos Ary dos Santos

Fotografias: Luís Filipe Maçarico

quinta-feira, outubro 13, 2011

Os Fechos de Picão (Castro Daire)








Diz-me a Irene, que "isto são fechaduras de antigamente. Actualmente, ainda se usam, nas lojas (currais dos animais)...Ainda não fecham à chave. São todas de sítios onde estão gados guardados... Mas até há aqui uma, que se vê que a madeira é nova..."

Irene é natural de Picão, aldeia de Castro Daire, na Beira Alta.


"Já lá andaram os pais, agora andam os filhos...Toda a vida me lembro destas portas serem assim..." E a Irene chama a atenção para uma das fotografias, explicando: "Esta é da capoeira das galinhas de uma prima minha...de noite, fecha, por causa da raposa!"


Aprendo sempre com estas pessoas, que têm a marca do sol e do gelo nas memórias. O Povo, genuíno, nos seus usos e costumes, que guarda a sua identidade, oriundo da geografia afectiva, recheada de estórias e História, tem tanto para nos ensinar!

Bem haja, Irene!

Fotos e depoimento de Irene. Texto: LFM.

domingo, outubro 09, 2011

A Esperança para mim, eram as pessoas...


Pertenço a uma geração que era obrigada a ir para a chamada guerra do ultramar e comecei a trabalhar como varredor de ruas. Não tive pai nem mãe, que me criassem, foi uma avó velha - eu tinha todas as condições, ou para andar à babugem da Igreja, do leitinho em pó dado por senhoras benfazejas, aos pobrezinhos, ou de caciques, ou para ser um marginal.
Não me tenho em grande coisa, sou poeta, antropólogo... sinto na pele, como funcionário público todos os ataques, resisto, resistimos, aguentamos esta decadência...e a esperança, que para mim, eram as pessoas e não deuses, tornou-se neste perder constante, não são os governantes de meia tijela que nos humilham só...um certo povo, dá uma ajuda decisiva, como hoje na Madeira.
Não quero ofender os amigos, mas de facto há sempre uma fundura maior, neste poço sem fundo, que descemos, ano após ano. Saúde, educação, reformas, tudo cortado, trabalho escravo e depois estas notícias. Arre, porra, que é demais!
Começo a achar que os ventos podres, que chegam da Europa e de um Capitalismo repugnante, fascistóide, que levanta a garimpa, com muita arrogância, violência mesmo, vai terminar numa guerra.
Chamar a isto democracia é igual a dizer que eu sou esquimó!
Texto e foto: LFM

sábado, outubro 08, 2011

"Novo Amanhecer" de Rosa Dias: Etnografia da Memória


















Esta tarde, com Isabel Wolmar, Rosa Calado (dirigente da Casa do Alentejo), Natália Pinto (da Alma Alentejana) e um representante de Rui Nabeiro, participei na apresentação em Lisboa do novo livro de ROSA DIAS. De referir que Rosa Calado salientou que Rosa "tem todo o Alentejo dentro dela. Ela é Povo"e Isabel Wolmar, destacou que se trata de "Poesia de profunda filosofia existencial. A sua poesia saiu da crisálida, fez-se mariposa e voou, voou, até ao infinito".

Transcrevo agora o texto que escrevi propositadamente para este evento:


Em toda a sua obra publicada (e inédita), Rosa Dias realiza uma Etnografia da Memória, que a Poesia enriquece, num jogo de apuro, com as palavras, que são paleta e objectiva, recolhendo elementos para quadros, que atravessam a fronteira dos sentidos, transportando o leitor até paisagens de amplos horizontes, onde o verso tem escala humana.

Na sua poesia, emerge a génese alentejana e camponesa, o património imaterial, que consubstancia as Festas do Povo, as profissões laboriosas das gentes do campo, as tradições marcantes, o saber - fazer identitário dos mestres, a linguagem pródiga em regionalismos, o colorido de um humor distinto, que apenas os alentejanos sabem fruir. Há na dimensão dos seus retratos, das suas telas rimadas, o fulgor de páginas de escritores, como o Silva Picão, de “Através dos Campos” ou o João Mário Caldeira de “Margem Esquerda do Guadiana, As Gentes, A Terra Os Bichos”.

Rosa Dias recorre, qual antropólogo, à observação - participante, para descrever vivências, interacções, modos de ser e de fazer, e até para registar que certos rituais pertencem ao passado, pois “o mundo está em mudança, hoje a vida tem outro fado.”

Em “Novo Amanhecer”, o livro que já nos levou a Campo Maior, numa noite de Verão mágica, importa realçar que o género é pedra de toque, para Rosa falar da sublimação dos dias, através do olhar feminino, assumidamente como complemento vital da Humanidade, na conjugação homem/mulher, em colectivo, pelos territórios do Amor.

Na página 63 há um poema que vale todo o percurso de tão esplêndida existência, pois se Eugénio de Andrade escreveu “Num prato da balança um verso basta / para pesar no outro toda a minha vida”, Rosa Dias conta-nos, em “A força de querer”, escrito há oito anos:

“Disse um dia, vou em frente;/ Gritou a vida, isso é que não!/ Julgas-te gente? Não és gente/ Larga a escola; ganha o pão//

“Assim me roubaram o prazer/ De estudar, p’ra ser alguém/ Mas esta força, do querer/ Ninguém a roubou, ninguém…//

“Ter de novo na minha mão/ A saca, o lápis, a sebenta/ Foi dizer sim, a esse não/ A caminho dos sessenta…”

A toada aleixiana, que pode estar subjacente à origem desta poesia, de raiz tradicional, é suplantada pelo cunho vincadamente alentejano, pela pegada desta cidadã do mundo, pela tatuagem dos dias no seu ADN, pois a par dos hinos ao sul, saboreamos passagens pelos Açores, por Alpedrinha, andanças por Lisboa, reflexões onde o Mundo surge, enquanto realidade do quotidiano, ao ponto de também ter composto um texto actualíssimo: o rap rep da minha vida.

Depois de Toadas Alentejanas (1989) e Anexins e Nomes Engraçados de Campo Maior (1997), “Novo Amanhecer” marca uma indomável vontade de viver e partilhar uma arte, que explodiu um dia, com a urgência da fome ou da respiração, no sangue intempestivo do Verbo.

Abençoada arte da fala, que tem proporcionado, de norte a sul, o convívio com esta pessoa maravilhosa, que espalha a harmoniosa beleza de sílabas morenas, trazendo trigais e cantares, lágrimas, suores e sorrisos, esperanças e destinos, em rimas que embalam momentos, encontros, lugares.

Rosa Dias, a menina - ave, que enfeitou de sonho a sua partida para a grande cidade e nela trabalhou, amou e construiu um ninho de amor e poesia, é a mesma que decorrido um percurso, eivado de peripécias e mágoas, nos interroga, como Carlos Drumond de Andrade, acerca da melhor forma de ultrapassar a pedra, que ficou no caminho.

Querida Rosa: É um enorme privilégio ser teu amigo e poder celebrar neste espaço único, como é o teu coração, as décadas de experiência que já acumulaste, qual tesouro onde a luz e a harmonia estabelecem o equilíbrio da essência.

Não há um poeta como tu, és irrepetível, a tua eloquência, a tua vivacidade são uma oferenda para todos nós.

Interpretas como ninguém esse fogo que te alimenta, em cada estrofe, em cada espaço, onde o som e o feitiço de te escutarmos, seduzidos pela musicalidade, pela força telúrica, pela justeza de cada vocábulo, nos permite guardar o pedacinho de lava desse vulcão de sabedoria que só tu sabes.

Como agradecer-te a ternura de seres?

Luís Filipe Maçarico

Fotos: LFM/ Paula Cristina Lucas da Silva