"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Convite




No próximo sábado dia 17 de Dezembro, pelas 15h 30m no novo edifício da Junta de Freguesia de Santana de Cambas (concelho de Mértola*, na estrada entre MOREANES e POMARÃO)
Lançamento do livro "Memórias do Contrabando em Santana de Cambas-Um Contributo Para o Seu Estudo", edição da Junta de Freguesia de Santana de Cambas.
Apresentação da obra por José Rodrigues Simão, presidente da Junta de Freguesia de Santana de Cambas, Miguel Rego, historiador do Campo Arqueológico de Mértola e Sónia Frade, Antropóloga, dirigente da Aldraba-Associação do Espaço e Património Popular e pelo Autor, Luís Filipe Maçarico. Será também dito por Rosa Dias um poema de sua autoria integrado neste trabalho de investigação antropológica.
Poderá apreciar ainda, durante este evento, nas novas instalações da autarquia local, às exposições de pintura "Contrabando", da autoria de cerca de uma dezena de pintores do concelho de Mértola e da pintora de Moreanes, Guika Rodrigues.
“Os últimos contrabandistas têm hoje 55 anos. Tinham talvez na altura cerca de 15-16 anos, quando foram à Espanha pela primeira vez, com 15 kg às costas.
(...) Trocava-se muita coisa, porque havia necessidade de muita coisa em Espanha. Então vinham a Portugal buscar coisas para Espanha. Mantimentos, por exemplo, não é? Porque aquilo estava um caos naquela altura.
(...) Nunca se falava disso, era assunto tabú. Era a sobrevivência daqueles que iam levar as cargas a Espanha. Ao estarem a divulgar que faziam contrabando, e naturalmente por onde passariam, naturalmente estavam a descobrir um pouco as suas vidas. (...) Sabia-se que era um pouco arriscado, mas nessa altura, quando eu era miúdo, tornou-se num ritual. (...) Quem tinha algum receio que acontecesse alguma coisa a algum familiar, nem tão pouco era o jovem porque o jovem naquela altura também não perspectivava o que é que advinha daí, o risco que as pessoas corriam por irem levar uma carga a Espanha. Os familiares mais antigos é que estavam sempre com o credo na boca para que não acontecesse nada aos contrabandistas porque chegavam a passar lá 3 e 4 noites, não é? E quando eles regressavam, era um alívio. Mas não se fazia grande propaganda disso porque convinha manter sigiloso o serviço que eles faziam porque era uma forma de alimentar a família e podia haver alguém que denunciasse e de maneira que nunca se comentava em lado nenhum esse tipo de actuação do contrabandista.
Chegaram a ir muitos medrosos, só que a necessidade fazia com que eles fossem porque naquele tempo só havia duas hipóteses: ou era trabalhador do campo, mas nem toda a gente tinha terra, porque a terra era de dois ou três latifundiários, e como não tinham terra, tinham que se sujeitar a duas coisas: ou iam para a mina trabalhar; na mina já não havia perspectivas de futuro, porque a mina estava a terminar, tinham de se dedicar exclusivamente ao contrabando, porque foi numa altura da Guerra Civil de Espanha, a mina em decadência a perspectiva que se abria nessa altura era o contrabando, daí que ainda alguns jovens, pouco mais velhos do que eu, fossem arrastados para esta situação. Tanto que, assim que o contrabando acabou, em meados de 65-66, tudo desertou, novos rumos, migração direito a Lisboa, ao Algarve, Beja, enfim! Cada um tomou o seu rumo, porque o contrabando, de alguma forma também não estava já a dar os resultados que as pessoas naturalmente previam.
De maneira que os últimos contrabandos que ainda se fizeram-também naturalmente as situações na vizinha Espanha também se alteraram...A Guerra Civil acabou, a estabilidade começou a fazer-se sentir mais e naturalmente não era necessário continuar a levar para lá coisas. Uma das coisas que sempre se levou para lá, que os espanhóis nunca tiveram foi o bom café.
Em contrapartida, como eles, industrialmente estavam mais avançados, trazia-se também peças de máquinas.
Ultimamente, aqui nesta zona havia um contrabandista que aproveitava a viagem e trazia peças de máquinas de lavar e aí terminou, mais ao menos já, a História do Contrabando aqui nesta região."
(depoimento de José Rodrigues Simão, 53 anos, Moreanes. Fotos de LFM: o quadro de Manuel Passinhas, que foi classificado em 1º lugar no concurso de pintura sobre o contrabando e que é capa do livro, díptico de Guika Rodrigues e durante a divulgação dos resultados do concurso de pintura, em Julho, José Rodrigues saúda a população que na altura, durante a festa da aldeia, visitou o novo espaço da Junta de freguesia, ainda em acabamento e que será amanhã inaugurado na sua totalidade.)

1 comentário:

Anónimo disse...

Caro Luís Maçarico, parabéns pela temática que nos oferece. Fui sempre um apaixonado por estas narrativas cinematográficas. Agradecia que entrasse em contacto comigo através de fernandompinto@sapo.pt, de forma a eu ficar com o seu. Dê uma vista de olhos no meu blogue "A minha LENTE" e diga se gosta das minhas fotos. Fico à espera de um comentário. Obrigado! Abraço do vareiro, agora a morar em Santarém, Fernando Pinto.