Não resisto e agora mesmo publico outro texto do Mané, aqui na fotografia tirada em 1988, com a Ana.
Este texto é de uma beleza, de uma ternura que me impressiona. Confiram!
"Aborrecia sempre a minha mãe, de tanto a fazer esperar, tal era a dificuldade de escolha. O dinheiro era pouco, mas os cremes e recheios eram muitos, dos bolos que enchiam a bancada da Dona Rosa, montada sempre muito cedo num canto visível da passagem para a padeira, não prejudicando o negócio desta, ela conseguia melhorar a reforma e talvez mesmo a vida dos seus. Sentada numa caixa de fruta, sempre bem agasalhada, nunca cheguei bem a perceber os tons escuros da sua roupa, mas a sua alegria era ver uma criança lamber os lábios, com uns olhos indecisos, para o qual despertava toda a sua atenção, talvez, retribuíndo assim a sua satisfação, Dona Rosa, mostrava orgulhosa a bancada montada sobre caixas de plásticos e dizia: - Então menino, este, ou o maior? Ela referia-se a um cone, com um fio de ovos e um creme branco por dentro. Adivinhava o meu pedido pelos olhos, decifrava o paladar pelo rosado das bochechas e o apetite pela carteira da minha mãe. Comi quase sempre o mesmo, pois ficava deliciado com as cores e de boca aberta, por vezes só escolhia quando vinha do pão, tal era, a difícil escolha das cores que decoravam uma praça cinzenta, onde àquelas horas só ela fazia negócio, sendo muito cedo para haver movimento, que desse outra alegria ao canto de uma praça, que certamente já não tem a Dona Rosa para dar um acordar tão doce como então…"
1 comentário:
Como eu compreendo o Mané. Julgava-me o rei dos gulosos. Bolos de todas as cores, formatos e feitios, não discuto, marcham todos
Um abraço. Augusto
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