É das pessoas mais bonitas que conheço, de uma beleza interior, de uma energia que espanta, tal é o prazer pela vida que demonstra. Começou a escrever para o teatro da colectividade que dirigiu e à qual se mantém fiel, colaborando ao longo dos anos nos corpos dirigentes, para assegurar, com o seu exemplo, o pleno funcionamento do "Grupo Dramático e Escolar "Os Combatentes". Como esclarecimento acerca da designação deste clube, gostaria de dizer-vos que nasceu com este nome para combater a droga do princípio do século XX nos meios humildes-o alcoolismo! Clube onde entre os fundadores se contava uma senhora, avó de um outro Jorge (Neves) que apesar de analfabeta, quis colaborar para o aparecimentoda escola que esteve na génese do nome-"Escolar"...e que até aos anos oitenta educou muita criança pobre, alguns dos quais foram depois (ou são) dirigentes da colectividade...
Bom, mas sobre o Jorge Rua de Carvalho, há tanto a dizer que nem sei por onde começar.
Amigo com A grande. Associativista homenageado pela Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio, na 2ª metade da década de 90. Poeta com o livro "Desabafos" publicado pela Junta de freguesia de Prazeres e o livro "Lisboa Saudade-pregões de Lisboa", editado pela Universitária, que também lhe chancelou "Histórias da Minha Rua". A Câmara Municipal de Lisboa publicou igualmente dois catálogos, correspondentes a duas magníficas exposições, uma sobre brincadeiras de infância e outra sobre pregões.
Fiz teatro-decorridos 20 anos sobre a minha estreia no palco da Guilherme Cossoul-com ele e com o outro Jorge, integrados no grupo cénico dos "Combatentes", que na 2ª festa das colectividades de Lisboa representou, deliciando a assistência pelo humor, sabedoria e bom gosto que estes lisboetas souberam imprimir à peça que se chamava "O Teatro segue dentro de Momentos", e da qual fui, com eles, co-autor e intérprete.
No início deste ano ambos sofreram internamento médico, o Jorge Neves para uma operação delicada, da qual está a recuperar bem e a quem aproveito para desejar um restabelecimento pleno, o Jorge Rua com um AVC que o deixou depauperado, mas qual milagre, passados dias recuperado, foi a Campo Maior apresentar a sua exposição de bonecos que ele e a sua cotinha Fernanda, quais Gepettos, criaram, pintaram e vestiram, bonecos esses que reconstituem por exemplo, o jogo da falua ou o pregão do fotógrafo à la minuta. É um encanto. Esta gente é de uma geração que soube resistir, para nos transmitir, intacto, o lado mágico da vida nas cidades, nos pátios, nas sociedades de recreio, no meio operário, que não era só tristeza, bebedeira e fome.Há muito de criativo neste lado menos conhecido da cidade, de grandioso, que eu insisto em partilhar. Porque os jardins sem flores de todas as cores e géneros são a cor avulsa da monotonia, e para isso já temos o cinzentismo do quotidiano. Que saudades eu tenho dessa Lisboa, dos produtos apregoados na rua, de saltimbancos e de carnavais-sem sambas nem misses qualquer coisa a bambolear, com cegadas e folgazões imaginativos, que deixavam um rasto de sol nas nossas vidas, em cada Fevereiro. O mesmo rasto de luz que o Jorge Rua teima em partilhar connosco. Bem Hajas Jorge e até Julho, para mais um aniversário com saúde e alegria!
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