"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, novembro 21, 2010

Rosamaria Abrunheiro: Uma Mulher com um Coração do Tamanho do Mundo


Conhecia-a em Dezembro de 2005, em Elvas e fiquei seduzido pelo seu magnetismo. Uma Diva, foi assim que a vi e continuo a sentir no meu imaginário.
Parteira da maternidade de Elvas, cantava com jovens que tinha ajudado a nascer.
Na época, escrevi assim neste blogue:

"Ontem passei uma noite de Fado admirável no Cine - Teatro de Elvas. A receita do simpático espectáculo revertia a favor do Hospital local. Mas o melhor daqueles instantes, foi ter conhecido RosaMaria, a Maria Callas do Fado, uma Diva de sorriso lindo, uma pessoa que é jóia rara, porque é uma cascata de ternura, adorável. (...) Rosa Maria - um portento de voz e de alma, que é um escândalo não ser mais conhecida."

Noutro post, nessa altura, deixei estas notas de reportagem:
"Já pertence à memória e ao onírico mais um momento vivido. Ontem em Elvas, no CineTeatro foi assim: uma plateia interessada, as frisas compostinhas e um elenco de qualidade, todo regional.
Portugal não é só Lisboa. O país real habita naquela cidade da raia. Mas a imprensa e os meios audio-visuais informativos, histéricos de sangue, ignoram ostensivamente os pequenos grandes acontecimentos. Ninguém nos jornais, nas televisões ou nas rádios quer saber dos instantes felizes que, por exemplo, os trabalhadores do Hospital de Elvas semearam no serão tão bem passado naquelas paragens. A não ser a comunicação social local, e nem sempre, seja um encontro de poetas, seja uma noite de fados, não há uma envolvência com os factos positivos até para ajudar a dar volta ao mal estar do povo, sobrecarregado com taxas, impostos, inflações, salários baixos, notícias nefastas, reformas cada vez mais tarde.
Portugal palpita, numa energia belíssima de arte e alma, como estas imagens, tremidas pela emoção do antropólogo (em observação-participante) demonstram."

Passaram cinco anos.
A Fadista foi recentemente homenageada, a Mulher resiste ao peso - que faz doer a alma, - das decisões dos que governam com os pés e a Parteira, que vê as mulheres irem ao Hospital de Badajoz terem os filhos, está desde há alguns dias em Bissau.

Rosa Maria nasceu em Coimbra, mas apaixonou-se pelo Alentejo. Recorro ao seu blogue, onde em 5 de Fevereiro de 2009 escreveu :


"Passaram mais de 20 anos mas esta cidade continua sendo a cidade do meu coração.
Cada vez mais alegre e mais bela e me encanta falar dela aos amigos que ficaram na cidade de onde vim.
Foi a água dos Arco da Amoreira que fez nascer esta paixão dentro de mim?
Se foi não sei, o que sei é que permaneço apaixonada por Elvas cidade do meu coração".

Acabei de ler no seu blogue as palavras que colocou hoje, e, não posso deixar de partilhar com os meus leitores toda a sensibilidade desta mulher generosa.
Efectivamente, há gente muito humana, semeando poesia com os seus gestos, transformando os dias, com um saber - fazer solidário, que mostra como os portugueses possuem grandes qualidades, que só na sua terra muitas vezes não são reconhecidas...


"Porque hoje é domingo ,21 de Novembro, bateram-me a porta do meu quarto e comunicaram-me que acabara de chegar uma grávida com dores.
Levantei-me à pressa não fosse o caso de estar mesmo a parir, mas quando a observei , não estava em trabalho de parto.
Doía-lhe o corpo, porque ardia em febre, com episódios frequentes de vómitos.
Foi internada e após observação médica com o diagnóstico, paludismo , iniciou quinino entre outros medicamentos que são habituais nesta realidade , bem diferente da qual eu estava habituada.
Enquanto a medicação lhe percorre o corpo, a febre, baixou e sem dores a grávida adormeceu e eu sentei-me a seu lado não só para lhe fazer companhia mas também para me sentir, eu também acompanhada.
Fiquei a olhar aquele rosto adormecido e pensei se mesmo dormindo essa mulher podia sonhar, com apenas 15 anos já vai ser mãe.
Não há meios anticoncepcionais disponíveis, não há informação sobre os riscos e tudo o que possa existir custa o que não tem .

As mulheres casam muito cedo, com mais outras quantas para trabalhar e servir o mesmo homem, servir na cama , sem prazer, sem amor e no trabalho árduo, com os filhos ao seu redor que mais parecem os seus irmãos mais novos. "

Bem Hajas, Alentejana de Coimbra, mulher, artista e profissional vencedora que pelo mundo espalhas uma mensagem de Amor.
Adoro-te!

Luís Filipe Maçarico (introdução, recolha de textos e fotografia realizada em Dezembro de 2005, no Teatro de Elvas)

3 comentários:

da minha janela disse...

Luís obrigada, mas eu continuo a achar que são os teus olhos que me vem assim.
Mas obrigada por esse carinho.

Agulheta disse...

Amigo Luís.É por estas coisas e pessoas de nome grande que gosto do meus país,pena é que os governos mal governados não tenham olhos para estes casos,que para eles de nada serve ter coração.Obrigada por partilhar este pedaço de vida e amor.
Boa semana Abraço

Joaquim Candeias disse...

Gostei e partilhei no facebook este belo texto.