"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, novembro 28, 2010

DA ALMA DE VIANA










Na passada sexta feira e respondendo ao convite de uma amiga minhota, lá fui eu até Viana, para assistir ao belíssimo espectáculo "Da Alma de Viana", no Teatro Sá de Miranda, uma sala fascinante, teatro secular como já houve noutros locais do país e que a edilidade vianense conserva, permitindo animações como a da noite de sábado 27.

Celebravam-se os 50 anos da criação, em Meadela, da Ronda Típica, cujo fundador foi lembrado, com a declamação de alguma poesia de sua autoria.
José Figueiras, etnógrafo, associativista, homem de cultura, ao assumir actividades de cidadania em prol da salvaguarda do património e da identidade local, promoveu serões, nos idos de 60, onde estiveram os poetas Pedro Homem de Melo e Couto Viana, entre muitas outras personalidades.

O seu filho, Henrique Figueiras preencheu a segunda parte, executando no acordéon uma verdadeira viagem musical, onde não faltou o tango, o fado, a kalinka, as melodias da serra de Arga e a Nona de Beethoveen.

Sua irmã, Laurinda Figueiras, presidente da associação, encerrou a sessão, chamando todos os intervenientes ao palco e agradecendo os apoios, a inúmera assistência, evocando o fundador, que escreveu:

"Se um programa de divulgação histórica pode merecer o carinho mais sentido doe um povo, naturalmente que o apontamento relativo às suas tradições seculares há-de conquistar-lhe um particular interesse e superior devoção."

Participaram a Banda de Gaitas de S. Tiago de Cardielos, a Associação Cantadeiras do Vale do Neiva, a Rusga de S. Vicente de Braga, o Rancho Típico de S. Mamede de Infesta, a Tuna de Veteranos de Viana do Castelo e Júlio Couto, que disse poemas como este:

DA ALMA DE VIANA

No riso aliciante dos "ferrinhos"
Que o eco, pelos caminhos,
Leva em estranhas toadas...
Naquele tic-tac harmonioso,
Compassado e caprichoso
Das chinelinhas bordadas...
Nas vozes dos harmónios, alcateia
Que leva aos cantos da aldeia
Os domingueiros bons-dias...
Nos cantares de timbre doce, argentino,
Dançando num desatino
Em boda de sinfonias...
Na quente melopeia das violas,
No sorrir das castanholas
discreto e ameninado...
No gargalhar vaidoso e divertido
Do cavaquinho atrevido,
Brincalhão e agaiatado...
No meigo trinar da água das fontes,
Ou na balada que os montes
Se não cansam de rezar...
Naquele tom de festa em que se aposta
Subir a íngreme encosta
Boieiro carro a cantar...
Em tudo, enfim, que é graça e harmonia,
Por feitiço, por magia
sonho que em sonhos delira,
Nasceu o rodopio apaixonante
Do bailado alucinante
Que tomou por nome:
O VIRA!

José Figueiras


NOTA: A fotografia de Henrique Figueiras foi realizada em Maio de 2010, durante a primeira sessão das Jornadas Culturais de Viana do Castelo. A primeira fotografia é do ensaio da Ronda, na sua sede, no solar das Werneck, na Meadela.

Introdução e Fotografias de Luís Filipe Maçarico

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