"Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado: Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder... O poder não sai de uns certos grupos, como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.
Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião, e os dizeres de todos os outros que lá não estão - os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do País!
Os outros, os que não estão no poder, são, segundo a sua própria opinião e os seus jornais - os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e os interesses do País.
Mas, coisa notável! - os cinco que estão no poder fazem tudo o que podem para continuar a ser esbanjadores da fazenda e a ruína do País, durante o maior tempo possível! E os que não estão no poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixarem de ser o mais depressa que puderem - os verdadeiros liberais e os interesses do País!
Até que enfim que caem os cinco do poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfalmente na designação herdada de esbanjadores da fazenda e ruína do País; entanto que os que caíram do poder se resignam, cheios de fel e de tédio - a ver a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País.
Ora como todos os ministros são tirados deste grupo de doze ou quinze indivíduos, não há nenhum deles que não tenha sido por seu turno esbanjador da fazenda e ruína do País."
Eça de Queiroz, "Uma Campanha Alegre", Lisboa, Livros do Brasil, s/d, pp. 61 e 62.
4 comentários:
olá doce rezingão...voltei mas pouco...estou de novo a partir...quando aterrar iremos tomar o tal copo para me dizeres o que andas a esrever, como sempre, acutilante e inresignado...gosto-te.assim.beijo.
Querida Ana:
Fiquei estupfacto com a notícia do assassinato desse rapaz, por parte de forças policiais desvairadas, com ordem para matar.Lamento o sucedido.Nosso mundo caminha para o abismo, com os responsáveis em bunker encolhendo os ombros, cada vez mais sem terra firme para pisar. O circo macabro abriu as portas, as jaulas estão escancaradas, as feras estão soltas, só não se percebe quem é monstro e quem não tem mãos manchadas de sangue. Sinto uma enorme tristeza.
Quem diz que a história jamais se repete ?
Essa é que é Eça! ;)
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