Vieram do Norte de África na sua maior parte. Cinzeiros, mesquita, defumador de incenso, imitação de vaso cartaginês em cerâmica, um coração de gesso, um ramalhete seco com flor de jasmim, um bibelot com um escorpião pintado para colocar talvez uma rosa...
Há também caixinhas redondas, uma de argila vinda da Grécia, outra de madeira trazida de Cuba de onde também veio um lagarto de junco(?)... E azulejos de Lisboa, um morábito que nasceu das mãos de Janica em Silves, uma lucerna de Mértola, uma bilha de Estremoz, um tabuleiro de madeira pintada de Montemor-o-Novo...
São momentos de beleza. Criados por povo anónimo, artesãos que vivem nos diversos lugares e países onde sonham uma existência sem dor.
Longe dos que decidem legislações laborais, anti-sociais, taxas, impostos, cintos apertados, vigilâncias, guerras. Longe de fanáticos, cujo vocabulário tresanda a ódio, destruição, morte.
Os fazedores desta partilha de cultura são mensageiros da paz. Por isso os objectos que eles moldam com as suas mãos são portadores de afecto e sonho, remetem-nos para um mundo de harmonia, que gostamos de ver nas nossas casas. Tenho estes pedacinhos de mundo, acompanham-me no quotidiano. Através deles lembro Volos e um mergulho nas águas tépidas do seu mar à meia-noite, da alegria das crianças de Nouri Slah, que mora ao pé do aeroporto de Tozeur, num sítio onde é preciso estar atento aos lacraus, que podem entrar dentro da residência, sem avisar e também me recordo de uma tarde em que me senti perdido em Santiago de Cuba e as pessoas foram de uma gentileza ternurenta, tentando ajudar.
O povo de cada país não pode ser confundido, nem com os alarves e corruptos que muitas vezes os governam, nem com os bandidos, que escudados atrás de fanatismos arcaicos, ajudam políticos medíocres a manter-se na cadeira do poder por coacção "democraticamente" regularizada através do voto.
Um mundo assim precisa de poesia. Daquela poesia que pode contribuir para acordar a imensa multidão de sonâmbulos.
Mas como escreveu Rafael Alberti, "Qué cantan los poetas andaluces de ahora?/¿Qué miran los poetas andaluces de ahora?/¿Qué sienten los poetas andaluces de ahora?/Cantan con voz de hombre, ¿pero donde están los hombres?/con ojos de hombre miran, ¿pero donde los hombres?/con pecho de hombre sienten, ¿pero donde los hombres?/Cantan, y cuando cantan parece que están solos./Miran, y cuando miran parece que están solos./Sienten, y cuando sienten parecen que están solos."
6 comentários:
Que objectos lindos. Gostei muito do texto. Bjs.
origada pela visita :)
que raio de pergunta, onde estão os poetas? estão aqui: na tua voa na tua escrita....boa tarde.
Já estou como a Mendes Ferreira.
Com um poeta deste calibre aqui!?
Luís, se não fosse por isso, seria pelo deserto,o maior inspirador de poetas, poetas da alma, pois o deserto não é mais do que uma grande alma.
Com alguma casualidade, os Árabes são uns grandes poetas.
Um abraço. Augusto
Obrigada pela visita e pelo comentário.
É sempre uma alegria para mim saber que andaste pela micropaisagem.
Gostei muito deste teu texto!
Beijos Nádia
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