Foi apresentado este sábado dia 8 de Julho de 2017, na "Fábrica das Palavras", Biblioteca Municipal de Vila Franca de Xira, com uma numerosa assistência, o livro "Ildefonso Valério Uma Vida com Teatro Dentro", idealizado por Ana Capucha, cujo espólio do companheiro (cartazes, fotografias, peças de teatro) foi partilhado na obra, onde colaborei, com outros amigos.
A mesa foi composta por Paulo Renato, Miguel Falcão, Luís Maçarico e o Presidente da autarquia, Alberto Mesquita, que falaram por esta ordem.
No final, um grupo de amadores de Teatro, que Ildefonso Valério marcou com a sua sabedoria, fez uma leitura representada de "Santos Cacetes" (cuja acção decorre na época das lutas entre liberais e absolutistas).
Partilho, entretanto, o texto que li durante a sessão:
"Ildefonso Valério foi e é para mim um sublime encantador de
palavras, que soube moldar com elas dramas e comédias, gizando desempenhos,
provocando emoções, gargalhadas, reflexões.
Com ele aprendi, como o Vocábulo pode iluminar a pegada do
Actor, muito mais que respirações e silêncios, sobre o palco, o qual, sem o
Texto, não pode concretizar a Trama, e que sem esta não há Teatro.
Homem culto, sonhador de mundos novos, com seres livres de
dependências, idealizou outro Portugal, em que a Palavra honrava quem dela
fizesse projecto de vida. Artista ou Político, cada um devia seguir a caminhada
mais motivadora, servindo a Comunidade.
A ele devo o ter deixado de ser o jovem tímido, que morava na
Praça da Armada e varria as ruas da Lapa e da Madragoa, assegurando os papéis
que me foram destinados, em representações que culminavam com debates, como
daquela vez em que uma idosa aludiu a uma dessas actuações, concluindo “Hoje, o
senhor fez-me pensar em como somos uns cães, uns para os outros!”. [eu fazia
metaforicamente um cão de guarda, com casota de madeira, de um patrão sem
escrúpulos].
Os personagens de Ildefonso Valério - encenados ou criados, pela
sua sensibilidade, são o exemplo desse ideário, pelo qual deu a vida,
escrevendo, lutando, realizando, gastando o tempo no seu laboratório de
pesquisa humana (lendo inúmeras obras, que consolidaram a sua visão), esboçando
vidas, como em “Histórias para Serem Contadas”, de Osvaldo Drágun, com
desempenho brechtiano, retratando cenas da História, como nos seus “Santos
Cacetes”, erguendo figuras populares, com sabedoria campesina, que ainda hoje
são representadas por vários grupos de amadores de teatro, como é o caso de “O
Pimpão”, também de sua autoria.
Dramaturgo premiado, encenador conceituado e adaptador de obras
para Teatro, com Virgílio Martinho, e que ajudou a erguer espectáculos como “A
Queda de um Anjo”, de Camilo Castelo Branco, representada por António Assunção,
Ildefonso Valério animou dezenas de grupos, entre Alenquer e a capital
[Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul], tendo sido no concelho de Vila
Franca de Xira que se dedicou ao afã de fundar associações, onde concebeu novos
actores e um público fiel, que seguiram a pegada do criador.
Homem comprometido com o Progresso e o Futuro, intelectual
envolvente, Ildefonso escreveu igualmente Poesia de grande qualidade,
deliciando os que tiveram o privilégio de fruir a sua personalidade, acedendo
ao que escrevia e reflectia.
O País deve-lhe muito, pela sua crença na Arte enquanto motor de
transformação da Sociedade, que o levou a ter um papel importante, no
enriquecimento cultural que partilhou ao longo do seu percurso, evidenciado num
palco ou em textos que são o legado do seu pensamento e actuação. Permanece vivo este ser humano inquieto, cuja serenidade era a
forma suprema para nos cativar, anunciando o mundo possível ao qual deveríamos
dar o nosso melhor."
Luís Filipe Maçarico, Almada, 23-4-2017
3 comentários:
Sempre envolvente e generoso, sem deixar o rigor dos factos.
Obriga Luís, pela partilha.
Beijinho
Vindo da tua pessoa só pode ser um texto realista, à imagem da tua pessoa.
Texto que retrata a pessoa de Ildefonso Valerio como tu tiveste o prazer de conhecer.
Se duvidas houvessem de quem não conheceu o Valerio como é o meu caso, elas ficaram bem demostradas nas intervenções dos teus colegas de mesa.
Parabens Luís por mais este belo exemplo de vida e de pessoa que nos transmites.
Forte Abraço
Albano Ginja
Gostei de ver.
Não conhecia.
Um abraço
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