«Cadernos de areia» de Luís Maçarico
Os poemas deste livro de 50 páginas forma escritos na Tunísia entre 1991 e 2007 e poderiam estar reunidos sob o título de «Entre terra e mar». De facto no primeiro poema (Le Kef) o autor afirma «A terra canta» e no último (Amina) regista «O mar é uma incógnita…» Entre os dois discursos (inicial e final) fica o método: «E os dias derrama-se / no caderno de versos».
Mas os poemas, para o serem de facto, não podem ser apenas registos dum olhar («Entre dunas e olivais») sobre a Natureza. Há, na sua respiração, um diálogo com as História, o mesmo é dizer com a Cultura: «Escutarás o velho mar / onde Ulisses viu sereias / sozinho no areal / saboreando a divina carícia / do silêncio».
A autobiografia também é convocada; nascido em Évora (1952), o poeta exclama: «Tudo me diz que estou longe / mas não é verdade! / O deserto sempre foi o lugar / da minha infância!» Entretanto o poema é, acima de tudo o mais, o lugar dos outros: «Quem são? Gente onde a / terra em brasa crepita / para florir nos olhos de fogo / Passam como nuvens / parecem a impetuosa / corrente de um rio / ansioso por chegar à foz / mas que se perde / na aridez dos caminhos / da sede».
Entre o «eu» e o «Mundo», o poema liga de novo o que o «Tempo» separou: «Guardo o breve aroma / da efémera flor / do destino. Sei que o tempo / evapora jasmim e rosa. / Os passos no oásis / ainda há pouco já são / memória. Atravesso / nuvens. Transporto / visões, silêncios, sedes, / um deserto de afectos / e um chá de estrelas / para acordar sem mágoa…»
(Edição de autor, Design e grafismo: Marta Barata, Apresentação: Ana Machado)
http://aspirinab.com/jose-do-carmo-francisco/vinte-linhas-386/
Fotografia de Jorge Cabral
1 comentário:
As palavras do JCF são sempre um apelo...
Preciso desse teu livro como...
Jingã
Belmi
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