Em 25 de Abril de 1974 o rapaz da fotografia era furriel e estava em Nampula. Tinha chegado a Moçambique no dia das mentiras, mas era uma verdade de pesadelo. Os que nasceram depois podem perceber do que falo, se seguirem a série A GUERRA, que o canal 1 da RTP tem estado a exibir.
Eu era um puto de 22 anos, que tinha andado no curso comercial, porque desde pequeno queria seguir as pegadas bem sucedidas do meu tio Armando, que me ajudara a criar e era o modelo masculino, face à ausência do pai indiferente. A avó era mãe duas vezes. Devo a ela aquilo que sou. Quando eu rezingava, durante a adolescência, com acessos de agressividade face aos pais distantes, à vida de pobre, à fome de afecto, à míngua de bens, a avó profetizava que eu ainda ia desejar muito a sua companhia, esse sim, o Bem Maior. Tinha razão. Evoco-a aqui nesta página que lembra de raspão o Portugal exangue e bolorento e fala do Portugal sonhado, desejado - que foi intensamente trilhado, mas descarrilou nesta curva apertada em que vivemos, com tanta gente esquecida daquele passado triste, a desejá-lo de novo.
Gostaria apenas de ser aquele jovem mas com a sabedoria de hoje. Sei que é impossível. No entanto, sou amado. Uma luz aparece no meu caminho, incendeia-me de esperança. Não quero voltar atrás. Tenho amigos, estou de bem comigo. Publiquei vários títulos, entre versos, contos e estorinhas para a criançada, fiz teatro, viajei, participo há anos no Associativismo Popular, fundei associações, publiquei milhares de poemas em jornais e revistas, artigos em revistas de referência, gosto de viver e renovo-me em cada passo, embora haja dias e dias de cansaço e muita luta (mas não desisto) contra a estupidez e a injustiça. Sigo a máxima de Lenine: Aprender, Aprender Sempre!!! O velhote da outra imagem sou eu, autografando um dos meus livrinhos. Continuando a caminhar...
Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.
Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...
Nunca perseguí la gloria.
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...
Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."
Golpe a golpe, verso a verso...
Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."
Golpe a golpe, verso a verso...
Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."
Golpe a golpe, verso a verso.
Antonio Machado
Oiço de novo Ermelinda Duarte e o seu SOMOS LIVRES:
"Ontem apenas
Fomos a voz sufocada
Dum povo a dizer não quero;
Fomos os bobos-do-rei
Mastigando desespero.
Ontem apenas
Fomos o povo a chorar
Na sarjeta dos que, à força,
Ultrajaram e venderam
Esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
Asas de vento,
Coração de mar.
Como ela, somos livres,
Somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
Grito vermelho
Num campo qualquer.
Como ela somos livres,
Somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
Não vou combater".
Como ela, somos livres,
Somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
Parte à conquista
Do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
Não voltaremos atrás. "
25 DE ABRIL SEMPRE!!!
Eu era um puto de 22 anos, que tinha andado no curso comercial, porque desde pequeno queria seguir as pegadas bem sucedidas do meu tio Armando, que me ajudara a criar e era o modelo masculino, face à ausência do pai indiferente. A avó era mãe duas vezes. Devo a ela aquilo que sou. Quando eu rezingava, durante a adolescência, com acessos de agressividade face aos pais distantes, à vida de pobre, à fome de afecto, à míngua de bens, a avó profetizava que eu ainda ia desejar muito a sua companhia, esse sim, o Bem Maior. Tinha razão. Evoco-a aqui nesta página que lembra de raspão o Portugal exangue e bolorento e fala do Portugal sonhado, desejado - que foi intensamente trilhado, mas descarrilou nesta curva apertada em que vivemos, com tanta gente esquecida daquele passado triste, a desejá-lo de novo.
Gostaria apenas de ser aquele jovem mas com a sabedoria de hoje. Sei que é impossível. No entanto, sou amado. Uma luz aparece no meu caminho, incendeia-me de esperança. Não quero voltar atrás. Tenho amigos, estou de bem comigo. Publiquei vários títulos, entre versos, contos e estorinhas para a criançada, fiz teatro, viajei, participo há anos no Associativismo Popular, fundei associações, publiquei milhares de poemas em jornais e revistas, artigos em revistas de referência, gosto de viver e renovo-me em cada passo, embora haja dias e dias de cansaço e muita luta (mas não desisto) contra a estupidez e a injustiça. Sigo a máxima de Lenine: Aprender, Aprender Sempre!!! O velhote da outra imagem sou eu, autografando um dos meus livrinhos. Continuando a caminhar...
Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre el mar.
Nunca persequí la gloria,
ni dejar en la memoria
de los hombres mi canción;
yo amo los mundos sutiles,
ingrávidos y gentiles,
como pompas de jabón.
Me gusta verlos pintarse
de sol y grana, volar
bajo el cielo azul, temblar
súbitamente y quebrarse...
Nunca perseguí la gloria.
Caminante, son tus huellas
el camino y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar.
Caminante no hay camino
sino estelas en la mar...
Hace algún tiempo en ese lugar
donde hoy los bosques se visten de espinos
se oyó la voz de un poeta gritar
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."
Golpe a golpe, verso a verso...
Murió el poeta lejos del hogar.
Le cubre el polvo de un país vecino.
Al alejarse le vieron llorar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."
Golpe a golpe, verso a verso...
Cuando el jilguero no puede cantar.
Cuando el poeta es un peregrino,
cuando de nada nos sirve rezar.
"Caminante no hay camino,
se hace camino al andar..."
Golpe a golpe, verso a verso.
Antonio Machado
Oiço de novo Ermelinda Duarte e o seu SOMOS LIVRES:
"Ontem apenas
Fomos a voz sufocada
Dum povo a dizer não quero;
Fomos os bobos-do-rei
Mastigando desespero.
Ontem apenas
Fomos o povo a chorar
Na sarjeta dos que, à força,
Ultrajaram e venderam
Esta terra, hoje nossa.
Uma gaivota voava, voava,
Asas de vento,
Coração de mar.
Como ela, somos livres,
Somos livres de voar.
Uma papoila crescia, crescia,
Grito vermelho
Num campo qualquer.
Como ela somos livres,
Somos livres de crescer.
Uma criança dizia, dizia
"quando for grande
Não vou combater".
Como ela, somos livres,
Somos livres de dizer.
Somos um povo que cerra fileiras,
Parte à conquista
Do pão e da paz.
Somos livres, somos livres,
Não voltaremos atrás. "
25 DE ABRIL SEMPRE!!!
13 comentários:
Vim tentar perceber no teu blog o tom da tua voz de há pouco. Já entendi.
Pouco mais velho eras quando te conheci. O cabelo estava mais comprido, o sorriso era o mesmo e o brilho dos sonhos era intenso.
Amei-te.
Ao longo destes trinta anos as rugas foram surgindo, os sonhos realizados.
Amo-te.
E porque o sonho é o ar que respiras ...
Amarte-ei.
ANA
É desse amor que te tens feito e continuarás... Os amores são os amigos que te são a sombra da existência, a companhia da alma, a continuação das palavras. O amor é o que tu és e reflete o sentimento que fazes que se sinta por ti na vontade de te mimar.
Tu és o Homem aos 57 que ainda menino aos 22 sonhava com dias felizes... e foi prá guerra porque tinha de ser. Hoje continuas a ser o sonho sonhado e nunca abandonado da vida em que te deitas feliz por estares e lutares pelos dias todos.
Jingã
Belmi
Ola! Já ha algum tempo que ando a seguir o teu blog e sempre a pensar que quero contactar contigo!! Hoje não resisti-- aqui estou eu!Quem sou? o pseudonimo não te diz nada.
--Conheci-te com essa cara da foto da tropa mas ainda uns anos antes. Fomos colegas na escola embora em anos diferentes e continuas-te ao longo dos anos amigo do meu ex-marido
E.N. ! quem sou eu? he he he...
Alguem feliz de te ter conhecido e ainda mais de te ter reencontrado
Espero que nos possamos rever em breve pessoalmente !
OLA! Já há algum tempo(meses)que sigo o teu blog e penso em te contactar!! Porém hoje não resisti ao teu texto do 25 Abril e á tua foto em jovem . Pois foi assim que te conheci, fomos colegasna escola embora em anos diferentes ,foste ao meu casamento que entre tanto se des fez continuas-te amigo do meu EX--E.N.Quem sou eu?----Alguem feliz de te ter conhecido e de te ter reencontrado.agora espero te rever pessoalmente e soltar o abraço interrompido há 30 anos!!!
Tenho uma boa surpresa guardada para ti. Um abraço !!!
Meu Caro Amigo. Acabo de ler o seu «NÃO VOLTAREMOS ATRÁS...» e pelo caminho, as suas notas autobiográficas obrigaram-me a tirar os óculos para limpar os olhos, tão parecidos terão sido os nossos tempos idos. Tão idênticos foram os nossos "quereres", tão iguais os nossos caminhares ao lado de nós próprios.
Mas deixemos as lamúrias. Hoje ainda cá estamos com vontade de continuar, num tempo outro que nasceu faz amanhã 35 anos. Tenho a certeza que com um VINTE E CINCO DE ABRIL ambos haviamos sonhado e para ele ambos trabalháramos desde que o nosso sentir e o nosso pensar e o nosso sofrer nos permitiram.
O dia chegara, e três dias depois a intuição dizia-me que que vinha para ficar.
Surgiu-me então este pensamento que aqui deixo e a que chamei
«FELIZ MADRUGADA
Acordei,
à minha direita não havia nada,
Do outro lado começava o dia...
Feliz madrugada!»
28 de Abril de 1974.
Meu Amigo, temos de continuar teimosos para que essa MADRUGADA contimue em nós e possamos oferecê-la, sobretudo aos mais novos, que poucos sabem o que era a noite em que vivíamos.
25 de ABRIL, SEMPRE!
Um abraço e um cravo vermelho na lapela.
25 de Abril
de novo
Tenho passado por aqui levemente, sem deixar rasto,mas, neste dia em que se celebra (celebram todos ?)o glorioso e exaltante 25 de Abril de 1974, decidi deixar uma mensagem.
Éramos todos muito jovens nessa data, mas os cabelos brancos não nos fizeram esquecer tudo o que sonhámos para este país. Nem nos fizeram perder a capacidade de indignação ao ver o fizeram de Portugal. Miséria, desemprego,banqueiros cada vez mais ricos, políticos corruptos.
Onde está o nosso 25 de Abril de 1974 ?
Portugueses , acordem, este ano é ano de eleiçõesn !!
Voltarei.
Um fraternal abraço
Nocturna
Miguel Rego
para mim
mostrar detalhes 23 abr (3 dias atrás)
Responder
É bom ser teu amigo.
Obrigado por existires.
Um abraço do tamanho da eternidade!!!!
maria joão ramos
para mim
mostrar detalhes 23 abr (3 dias atrás)
Responder
querido irmano,esta semana tem sido optima ...nos ateliers de monchique..o teu livrinho tem sido o meu grande companheiro e os dois bem juntos pomos a nascer passaros da liberdade feitos em barro nas mãos das crianças do 1 ciclo.beijinho e a luta continua.
Magda Fonseca
para mim
mostrar detalhes 23 abr (3 dias atrás)
Não, não voltaremos atrás! Vinte e Cinco de Abril Sempre!
Bem hajas, por seres poeta! Quem me dera se-lo, não calhou. É assim a vida, não somos todos iguais, felizmente.
Mas o sonho não é só dos poetas, é também daqueles que os entendem, como poetas, sim, mas também como Homens
e nisso tens aqui a amiga, a leitora e admiradora e o beijo de solidariedade do 25 de Abril de 2009, mesmo com a "crise"
EV Branco
23 abr (3 dias atrás)
brancoev@gmail.com
Viva,
Em vésperas do Aniversário do Dia da Liberdade, um Amigo Poeta mandou-me este testemunho, que acho que vale a pena reenviar aos amigos, chamando também a atenção para os dois belíssimos poemas que ele juntou.
Um de António Machado (1875-1939), um dos maiores poetas da vizinha Espanha. Outro, da actriz Ermelinda Duarte, que também o cantou, e nele sintetizou de uma maneira muito directa e bela, o que sentimos neste país há 35 anos.
Abraços e "25 DE ABRIL SEMPRE!"
Egas
Fernando Dias
para mim
26-4-2009 20:20 (1 hora atrás)
fernando.dias.cma@gmail.com
Boas Luís!
Espero que esteja tudo bem contigo.
Obrigado por mais esta partilha.
25 de Abril SEMPRE, infelizmente passamos por momentos difíceis e em que os valores conquistados nessa revolução se estão a esmorecer, e outros já foram esquecidos.
Parece-me que vivemos uma liberdade amordaçada e uma democracia fingida ou simplesmente distorcida.
Um abraço!
Fernando Dias
sem te conhecer, deixo o abraço fraterno, de quem trilhou os mesmos caminhos e ainda trilha...curioso vir aqui encontrar um comentário de um grande amigo o Sérgio Sá...estamos no mesmo caminho e não voltaremos atrás.
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