"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quarta-feira, abril 01, 2009

Desabafo




Tenho-me sentido adolescente. Porque estou a estudar com gente mais nova que eu, porque me apaixonei e embora não tenha corrido Seca e Meca, já procurei o amor prometido em Aveiro. Em vão. E a lira poética tem andado entre Tejo e Guadiana. Mas a verdade é que não podemos viver sempre de ilusão...
O quotidiano é este, tão real, que enfrentamos cada manhã, ao acordar. Os dias não esperam pelo desejo adiado, hesitante, ou inexistente, nem por frases matinais e muito menos se compadecem com o silêncio, esse silêncio tumular, indeciso, temeroso dos que pedem desculpa à vida por estarem vivos.
A solidão sente-se nestas coisas do amor, quando o motivo das nossas expectativas está ausente e fraqueja... se é que não brinca à cabra-cega...
Hoje adormeci e cheguei tarde ao trabalho. Tenho andado como um sonâmbulo, à procura do tempo perdido, do palácio dos sonhos, onde gostava de viver e ser feliz como milhões de seres humanos...nem que fosse uma cabana, uma ruína iluminada por dois sorrisos, duas bocas sedentas de música, dois corpos embalados pelas vagas nocturnas ou pelos gritos das gaivotas ao crepúsculo. Essa música, esse entardecer porém, nunca existirão, só porque houve alguém que não correspondeu, não explicou, não apareceu.
Mas como há um mínimo de dignidade que um homem não pode vender, nem em troca do próprio sol, resolvi cortar cerce a ansiedade e deixar este recado: Não há mais poemas, mais mensagens, o silêncio agora pertence-me e é desmedido como o cosmos.
Do outro lado, uma gota de juventude, que ficará a remoer a incapacidade de alcançar o abraço mais carinhoso do mundo; pela minha parte, a experiência e uma partilha, que se evapora no céu frio desta noite, como farinha numa peneira...sem eu querer.
Porque de quem eu falo sabe quem sou e onde moro, se tivesse sensibilidade, ousadia e o mesmo desvairado amor, poderia inverter tudo se aparecesse, não virtualmente, mas aqui à minha porta, desafiando-me a voar. Contudo, sei que isso não vai acontecer.
Desligo-me então do que me fazia estontear. Não espero mais pelo vazio.
Apago-me...Regresso à minha idade real, aos afazeres, às obrigações, ao que torna muita gente numa máscara, que proteje as lágrimas de amores infelizes dos olhares indiscretos.
Morri apenas mais um pouco...mas não se preocupem...já estou habituado a lamber feridas.

Lisboa 1 de Abril (mas é verdade) de 2009 23:53

Luís Filipe Maçarico

7 comentários:

Pedro disse...

É excelente sentir-se jovem principalmente à medida que os anos passam. É raro esse sentimento! O facto deste amor causar-te vivencias juvenis só demonstra o quanto é sentido por ti...
Como diz o povo "águas passadas não movem moinhos...". Mereces tudo de bom na vida...
Abraço

jose filipe rodrigues disse...

o sol que hoje adormece no horizonte
regressará amanhã com as aves
num ciclo indefinido e intemporal
que nos mata, neste envelhecer devagar.
Nesse nosso ciclo biológico tão efémero
acreditamos em valores simples e naturais
como na perenidade dos amigos e pais
no crescimento dos filhos que gerámos
com fé e carinho, na expressão pura do amar,
mas quantas vezes, por ingratidão
ou por saudade, que nos destroi e perdura,
são eles que nos vão apunhalar
são eles que nos empurram para a sepultura.
amanhã, quando o sol acordar para a vida
vai faltar menos um dia para a despedida.
jfr

lost disse...

Depois de morrermos um pouco...renascemos mais fortes! Não deixes que te roubem o mais puro que há em ti. Não percas a capacidade de voar. Esta vida a preto e branco, tem rasgos de cor, por pessoas como tu!

Força amigo.

Ji&Ci

Miss Piggy disse...

Querido Amigo:
Se te deixaram escapar como se de areia por entre os dedos te tratasses é porque não viram o ser humano extraordinário que és, a alma pura que tens, o amor que podes dar, ou seja, não te mereciam...
Sabes que a Miss Piggy, o Kermit e a Rainha do Piaçaba estão (e estarão) sempre aqui para alegrar os teus dias...

Aqui vai uma love song:

http://www.youtube.com/watch?v=L1K8t3BtNaw

mariabesuga disse...

No dia das mentiras, um recado de verdade.

Um recado com muitos recados dentro.
O teu amor é único e difícil de olhar nos olhos pela força de amar que é a tua. Porque tu és um ser de amor.

Dizes-te morto mais um pouco. Não! Não tu!... Que sei não te deixas morrer mais um pouco assim. Pode ser que os dias tenham passado a ter um raio de sol a menos. Pode ser. Há o cansaço feito de nãos inesperados.
Mas...

"Tu Poeta

O teu coração
É o sol
Do nosso contentamento
Homem - Poeta
Nesse sol
Amarelecem
As espigas do trigo
Semeado em ternura
No teu sorriso
O sorriso em que nos dás
Colheitas de esperança
Da sementeira da harmonia
Homem - Poeta
Da terra
Da gente"

O meu sentir de ti há uns bons 8 anos.

Jingã meu Amigo Luís
Belmi

Sérgio O. Sá disse...

De há meses a esta parte que a falta de tempo não me permite navegar pelo ÁGUAS DO SUL. Hoje, uma espécie de saudade obrigou-me a passar por cá, e cá estou.
Meio confuso, no início, ao deparar com o novo rosto deste blogue, sinto-me agora um tanto apreensivo ao ter de prestar atenção a este DESABAFO.
«Um barco atracado ao cais é sempre um sonho preso». Oh, como esta "inscrição" (que encima o ÁGUAS DO SUL) parece fazer sentido! Faz-me recordar o que, em 1965, por necessidade, eu escrevera : «Nasci num cais / onde as gaivotas são ais / e uma barca velha, já sem fundo, / é a sorte que me leva pelo mundo.
Claro que tenho tido sorte, e a barca, apesar de não ter fundo, ainda navega. Mas não vislumbro novo cais... Espero, contudo não naufragar.
Caríssimo Amigo Luis Maçarico, ao conbtrário do que às vezes parece, os desenganos não têm de resultar sempre em frustração. Por isso, transformar as (des)ilusões em raiva, em raiva sadia, quero dizer, nessa forma subversiva de sermos, pode justificar passarmos por momentos menos desejados.
Caríssimo Amigo, não! Não ao desencanto, mesmo quando a vida pareça não passar disso mesmo.
Continue... na Liberdade que persegue a luz, essa clarividência que oferece auroras e arcos-íris, ainda que no silêncio, no "Silêncio da Caligrafia"...
Continue... na Liberdade que rasga caminhos, que aponta horizontes que os outros não enxergam.
Continue Amigo, para que eu possa segui-lo, e ainda que por "Cadernos de Areia" e à distância eu possa conhecer lugares que só o sentir de um POETA com todas as maiúsculas é capaz de mostrar.
Continue, Amigo, porque, como dizia o outro, (e desculpe-me por dizer o já redito), «tudo vale a pena quando a alma não é pequena»
Um abração.

Sérgio O. Sá disse...

De há meses a esta parte que a falta de tempo não me permite navegar pelo ÁGUAS DO SUL. Hoje, uma espécie de saudade obrigou-me a passar por cá, e cá estou.
Meio confuso, no início, ao deparar com o novo rosto deste blogue, sinto-me agora um tanto apreensivo ao ter de prestar atenção a este DESABAFO.
«Um barco atracado ao cais é sempre um sonho preso». Oh, como esta "inscrição" (que encima o ÁGUAS DO SUL) parece fazer sentido! Faz-me recordar o que, em 1965, por necessidade, eu escrevera : «Nasci num cais / onde as gaivotas são ais / e uma barca velha, já sem fundo, / é a sorte que me leva pelo mundo».
Claro que tenho tido sorte, e a barca, apesar de não ter fundo, ainda navega. Mas não vislumbro novo cais... Espero, contudo não naufragar.
Caríssimo Amigo Luis Maçarico, ao conbtrário do que às vezes parece, os desenganos não têm de resultar sempre em frustração. Por isso, transformar as (des)ilusões em raiva, em raiva sadia, quero dizer, nessa forma subversiva de sermos, pode justificar passarmos por momentos menos desejados.
Caríssimo Amigo, não! Não ao desencanto, mesmo quando a vida pareça não passar disso mesmo.
Continue... na Liberdade que persegue a luz, essa clarividência que oferece auroras e arcos-íris, ainda que no silêncio,no "Silêncio da Caligrafia"...
Continue... na Liberdade que rasga caminhos, que aponta horizontes que os outros não enxergam.
Continue Amigo, para que eu possa segui-lo, e mesmo que por "Cadernos de Areia" e à distância eu possa conhecer lugares que só o sentir de um POETA com todas as maiúsculas é capaz de mostrar.
Continue, Amigo, porque, como dizia o outro, (e desculpe-me por dizer o já redito), «tudo vale a pena quando a alma não é pequena»
Um abração.