"Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.”
Papoilas, para Maria Barroso, que entre muitos, disse este poema de Sophia Mello Breyner Andresen.
Papoilas rubras, por ter divulgado versos, de poetas proibidos, na margem sul, nas colectividades dos operários, quando a liberdade estava refém.
Papoilas, por também ter recitado Carlos Oliveira, David Mourão Ferreira, Joaquim Namorado [“Abafai-me os gritos com mordaças / maior será a minha ânsia de gritá-los!”]e Manuel da Fonseca.
Papoilas para Maria Barroso, por ter lutado para podermos respirar o ar de liberdade que conquistámos, graças a pessoas como ela. Acabei de escutá-la na Antena 1, numa entrevista de 2008. Citou um poeta inglês, que escreveu: "Não há morte de um homem que não me diga respeito, porque pertence à Humanidade."
Luís Filipe Maçarico
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