"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, julho 04, 2015

"A TERCEIRA MISÉRIA", DE HÉLIA CORREIA


 
Hélia Correia nasceu em Lisboa. 
Escutei-a em Alpedrinha, no Teatro Clube, com Albano Martins, Teolinda Gersão, Deana Barroqueiro, no passado Outono, aquando do primeiro Encontro de Poetas da Gardunha.
Gostei de a escutar. A Mulher, a Romancista, a Dramaturga, a Poetisa, possui nessas diversas facetas uma transparência e uma eloquência envolventes, apesar da sua modéstia.
Em 17 de Junho, entrevistada para o "Público" declarou sobre a Grécia, que "a raiva tira-me as palavras todas" e quanto ao prémio Camões, com que acabava de ser galardoada afirmou: " É como se me premiassem por ter olhos castanhos".
Hélia ficou na galeria, onde figuram Torga, Saramago, Sophia, Eugénio,Maria Velho da Costa, Manuel António Pina, entre outros, e também Mia Couto, Pepetela, Craveirinha e Luandino Vieira.


"A Terceira Miséria" é o seu mais recente livro de Poesia. Releio, desde a compra e a primeira reflexão, que aquelas palavras me causaram. Vai ser oferta para aniversariantes. 
Em jeito de aperitivo, - e como amanhã há referendo na pátria de Platão, - deixo alguns excertos da obra, distinguida nas "Correntes D' Escritas", 2013:

"Para quê, perguntou ele, para que servem
Os poetas em tempo de indigência?
(...)
Nós, os ateus, nós, os monoteístas,
Nós, os que reduzimos a beleza
A pequenas tarefas, nós, os pobres
Adornados, os pobres confortáveis.
(...)
Sofremos, sim, de idêntica indigência,
Da ruína da Grécia.

                                       Onde está ela,
A tua bela Atenas, a que viu 
Aparecer entre os homens a justiça
E a livre palavra e, ainda mais,
A visibilidade, as contas públicas,
Uma altivez de iguais. O que disseram
Ao imperador persa? "Simplesmente,
Lutamos bem, lutamos por nós mesmos 
E pela nossa pátria. Não lutamos
A mando de ninguém. Não veneramos
Nem nos submetemos a mortais."
(...)

A terceira miséria é esta, a de hoje,
A de quem já não ouve nem pergunta.
A de quem não recorda."

Hélia Correia, "A Terceira Miséria" (Excertos)

Luís Filipe Maçarico (texto introdutório e fotografias)
Fotografia retirada do "Público" on line, da autoria de  Enric Vives-Rubio. 
http://www.publico.pt/culturaipsilon/noticia/helia-correia-e-a-vencedora-do-premio-camoes-1699305

1 comentário:

JC disse...

Muito bom, meu amigo. Como eu gostaria de te ver também galardoado. A tua poesia não tem limites, a sua beleza é incomparável.