"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

segunda-feira, julho 20, 2015

Notícias do 13º PAN, Encontro e Festival Transfronteiriço, de Poesia, Património e Arte de Vanguarda, em Morille (Salamanca).



Quinta feira passada rumei ao Fundão, desta vez para me encontrar com o Dr. João Mendes Rosa, director do Museu de Arqueologia local, homem de cultura, que além de assegurar a investigação, nas entranhas da  Gardunha, e de apresentar obras relevantes, em torno da temática arqueológica e histórica, é Poeta distinguido, que há 13 edições se envolve entusiasticamente no PAN, Encontro e Festival Transfronteiriço, de Poesia, Património e Arte de Vanguarda, em Morille (Salamanca), cujo director é o respectivo alcaide, Manuel Ambrosio Sánchez Sánchez, coadjuvado por António Sá Gué, Carlos d'Abreu e pelo próprio João Mendes Rosa
Desta vez o tema escolhido foi: DIFÍCIL.
Entre sexta 17 e domingo 19, todas as emoções foram possíveis [e indiscritíveis], salientando-se a exposição de poemas dos autores convidados, em árvores e nas paredes, pelas ruas de Morille, mostras de Arte [poesia visual, fotografias e aguarelas referentes à linha do Sabor que fazia a ligação entre Trás-os-Montes com Salamanca, pintura, escultura e vídeos], concertos de uma enorme diversidade, alguns dos quais de grande qualidade, como foi o caso de Miguel Angel Gómez Naharro, que cantou Bella Ciao, e ainda um dos cânticos dos republicanos espanhóis, durante a Guerra Civil Espanhola, o hino dos mineiros e "Grândola Vila Morena". Isto, a par da declamação de poemas pelos autores presentes no Poetódromo, ao lado de crianças, que também disseram poesia e da presença na livraria do Festival, de várias editoras e livreiros, como o fraterno António, da Traga-Mundos.]


Calhou-me na sessão de Poesia Ferroviária interpretar o "Comboio Malandro" de António Jacinto, que Fausto cantou. Para apresentar o poema, lembrei-me de Elsa Noronha e tentei seguir a metodologia que utiliza, para nos presentear com a poesia africana de grande quilate. Penso que resultou. Quem lá esteve sabe do que estou a falar.

Houve ainda um Concerto e animação pela centenária banda filarmónica de Carviçais (Torre de Moncorvo), onde este ano, no próximo fim de semana, se realiza a 1ª réplica do PAN em terras lusas. Reflectiram-se e discutiu-se sobre as raízes da escrita. António Salvado, ausente, foi homenageado e tive o privilégio de ler poemas deste celebrado poeta da Beira, de linguagem universal e uma obra de referência no panorama literário português.
Renato Roque apresentou um trabalho sobre Carlos de Oliveira. Os jovens Fábio e Teresa apresentaram um atelier sobre Flautas de Pan, no Museu do Comércio.

Sara Timóteo, uma das grandes surpresas deste Festival [e encantamento], pela poesia luminosa e original, fez a apresentação de um belo livro "Os Passos de Sólon" e comentou anteriores intervenções, dos jovens poetas presentes, oriundos de Espanha, designadamente dos apresentadores da comunicação "El Patarrealismo Selvaje", que consideram a inspiração uma ideia romântica do que é a Poesia, enquanto Montserrat Vilar González, poetisa de Ourense, concordou com o facto da escrita poética poder servir para sobreviver e resistir (como é o meu caso), tentando através dos versos, superar uma realidade, por vezes insuportável, onde se perdeu a escala humana. Aquela reflexão colectiva foi moderada por Hugo Milhanas Machado, que saúdo!
Destaque, entre os poetas presentes, para Suzo Sudón, cuja poesia nos questiona, enquanto seres - ditos -  sensíveis e para Fernando Fitas leu poemas do seu livro premiado em Almada, "Alforge de Heranças", onde a ausência do Alentejo dói, pelas lembranças que evoca, de espaços e familiares desaparecidos.

No Cemitério de Arte, um impressionante projecto consolidado, foram realizados dois funerais. No sábado foi transportado um banco, que pertencera ao pintor José Antonio Arribas, tendo a sua obra sido evocada pela neta e no domingo, sempre ao entardecer, foi representada pelo Teatro Nova Morada, uma peça para marionetas, de Leandro Vale, "Uma nova maneira de contar Abril", seguindo-se uma curta metragem onde o encenador, falecido há meses, encena e representa a própria morte. Ao som da carvalhesa, o televisor foi enterrado, assinalando uma lápide de 500 quilos "Aqui jaz a minha casa"...
Comoventes, estes dois momentos muito especiais, num espaço único no Mundo.

Foi a terceira internacionalização da minha poesia. Em 1995, fiz chegar uma centena de exemplares dos meus "Pastores do Sol" à Tunísia, à Biblioteca Nacional, e às mãos de amigos entre Tunis e Tozeur, entre Jerba e da embaixada daquele país, em Lisboa. Em 1996, em Poitiers, o mesmo livro chegou em nova edição ao "Monde en Fête", um evento organizado pela Associação "Le Toit du Monde", na Rue des Trois Rois.  
Cheguei agora a Espanha, no singular PAN e tenho de estar grato à vida, por este percurso. E como perceberam, senti-me em casa. Uma vez mais agradeço ao João, à Sara Timóteo, à Teresa Domingues, à Rute Campanha e ao Fábio Marques, o companheirismo, a partilha, a aprendizagem de algo fabuloso, que concretiza o abraço em redondo, tão caro a Artur Bual. 

Luís Filipe Maçarico (texto) LFM, José Amaral, José Reis Fontão e Rute (fotos)

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