Chegado a Morille, percebi que ia vivenciar uma experiência comunitária. Refeitório colectivo e camaratas, no Albergue dos Peregrinos.
Nem sequer levara toalha...
Sara Timóteo, companheira de viagem, poetisa convidada pela organização, já com vários títulos publicados, apesar da sua juventude, ajudou-me nesse lapso.
É certo que dormi 2 a 3 horas por noite, sentindo-me regressar aos tempos de tropa, mas com outra liberdade, pois os beliches eram mistos.
Nunca acordei com dores de cabeça. Conviver com gente jovem faz milagres...
Felizmente, não estive perto de gente que ressona e creio que também não ressonei.
A higiene esteve bem assegurada, tomei bons banhinhos e fiz a barba, com tranquilidade.
Tal como escrevi em "Os Pastores do Sol", página 19, no poema "Uma Pequena Palavra", "Além do pão e da água/ preciso de muito pouco/ para respirar. Um reduto/ solar, longe de tudo e a /canção das rolas na manhã/ de Abril. Uma pequena palavra/ clara para encher de mar/ os olhos errantes.//
O problema maior talvez tenha sido a comida condimentada.
Tentei encontrar alternativa, no simpático bar da Isa, mas mesmo aí aquele molho cor de laranja gordurento, que me perseguiu, em algumas refeições (e a primeira era uma amassadura de batata, com torresmos, farinheira e chouriço, banhada na tal mistela alaranjada) apareceu no prato do bife, com batatas fritas, algumas das quais ensopadas no pesadelo laranja, que me fez dores no fígado...
Mas que é isso, comparado com a desmedida felicidade, que respirei, nesse lugar mítico dos tempos contemporâneos?
Em Morille, os sonhos concretizam-se e a palavra utopia (que para mim configura a impotência de criar alternativas ao mundo actual, degradado e desumano) é ultrapassada, pela fantástica realidade de três dias no Paraíso.
Bem hajam a todos os que proporcionaram esta aventura, deveras enriquecedora.
Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias)
Sem comentários:
Enviar um comentário