"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, junho 19, 2011

Calçada Portuguesa: Quando Privatizar é Matar Uma Tradição Emblemática










A bela calçada, produzida por operários qualificados, quase desapareceu das ruas de Lisboa.

Acabou-se com a Escola de Calceteiros, uma entidade que tinha grande qualificação, ao ponto dos bons artífices terem reproduzido a sua marca no Rio de Janeiro e Macau.

Emergiram empresas, com gente desqualificada e incompetente, que sabendo mamar do erário público, não possuem a capacidade dos mestres de antanho, para requalificar os passeios.

Nas mãos destes torcionários, os passeios ficam perigosos, desajustados, quais crateras calcetadas, originando uma procissão de pés torcidos (eu já torci ao longo destes anos, várias vezes, os meus desgraçados pés, na Rua Prior do Crato, ainda agora ando com dores no esquerdo), que se sabe ter acontecido, pelo contacto diário das conversas de café e de mercearia de bairro, mas não chega aos autarcas, porque os portugueses não praticam a cultura da opinião, do comentário e da crítica, assumidos
, talvez por terem no ADN a marca secular da Inquisição e da PIDE.
Que o diga a minha vizinha Zaida, que partiu o pé e andou de muletas mais de um ano e teve de ser operada!

Segundo alguns "visionários", a solução seria acabar com a calçada, deixando uns vestígios apenas. Raios os partam por tanta maldade que nos têm feito!
Haja quem restaure a Escola de Calceteiros e honre uma tradição que, se for bem feita, vale a pena, pois é marca identitária de um património emblemático, que nos orgulha, pela beleza e técnica singulares. Com eles, a pedra transforma-se em obra de arte e os pés viajam em segurança. Que voltem, pois, esses fazedores de harmonia!

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografias- recolhidas em Lisboa - Rampa das Necessidades, Praça da Armada (Prazeres), Graça, Boa - Hora e São Pedro de Alcântara)

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