"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, junho 14, 2009

Poemas de Eugénio de Andrade nos Quatro Anos da Sua Morte


Devias estar aqui rente aos meus lábios
para dividir contigo esta amargura
dos meus dias partidos um a um

- Eu vi a terra limpa no teu rosto,
Só no teu rosto e nunca em mais nenhum

***

Hoje roubei todas as rosas dos jardins
e cheguei ao pé de ti de mãos vazias.


***
Levar-te à boca,
beber a água
mais funda do teu ser -

se a luz é tanta,
como se pode morrer?

***

Procura a maravilha.

Onde um beijo sabe
a barcos e bruma.

No brilho redondo
e jovem dos joelhos.

Na noite inclinada
de melancolia.

Procura.

Procura a maravilha.

***

Entre os teus lábios
é que a loucura acode,
desce à garganta,
invade a água.

No teu peito
é que o pólen do fogo
se junta à nascente,
alastra na sombra.

Nos teus flancos
é que a fonte começa
a ser rio de abelhas,
rumor de tigre.

Da cintura aos joelhos
é que a areia queima,
o sol é secreto,
cego o silêncio.

Deita-te comigo.
Ilumina meus vidros.
Entre lábios e lábios
toda a música é minha.


Poemas de Eugénio de Andrade, falecido em 13 de Junho de 2005.
Retrato do Poeta pintado por Artur Bual, falecido em Janeiro de 1999.
Dois Amigos que não esqueço.

Sem comentários: