"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, julho 28, 2006

Maria João Pires


Nas suas mãos mágicas
os pássaros e as oliveiras de Belgais
floriram como sonatas e sorrisos
de criança. Neste país não há lugar
para asas, versos, sonatas sem dor.
Mastiga-se a máscara o tédio
a merda de termos de ser poucochinho
senão a inveja senão o governo senão
pede-se desculpa à vida por se estar vivo
e agradece-se a todas as Nossas Senhoras
a finta, o jogo, a taça, o golo!
Neste país o lugar das pessoas sensíveis
é o exílio é viver inadaptado entre urros
arrotos e muitas bandeiras a forrar amiséria
de ser português. Neste armazém de ignorantes
à espera da novela seguinte
do escândalo seguinte,
do acidente que se segue,
os governantes maltratam
os bancos engordam
a mediocridade subiu ao trono.
No coração frágil da pianista
há palavras que não podem morrer
Foge sim, porque a respiração
tornou-se insuportável. É preciso voar
resistir e respirar. Recomeçar
noutro país, noutra terra, noutro lugar.

28-7-2006
(poema de Luís Filipe Maçarico; fotografia recolhida na Web)

11 comentários:

oasis dossonhos disse...

Olá Luís,

hoje estou particularmente sensível e esse teu poema emocionou-me. Tu sabes (e por isso telefonaste) que tenho uma imensa admiração pela Maria João Pires – é uma pianista admirável e uma grande Senhora.

Sabes como gostava de um dia ir a Belgais e, pessoalmente, mostrar o meu apreço pelo trabalho que ela tem feito e por ter tido a generosidade de dedicar o seu saber, o seu tempo, a sua energia a um projecto que decidiu criar na sua terra natal enriquecendo um país que, do meu ponto vista, não a acarinhou nem soube apoiar.

Agora resta-me lamentar não ter cumprido o meu desejo. Ingenuidade a minha! Já devia saber que este país é assim!

Neste contexto espero que o país para onde vai seja melhor anfitrião e saiba acolher a Maria João Pires, valorizar o seu trabalho e acarinhá-la. Espero que a Maria João continue a partilhar connosco os seus dons e dessa forma dar um pouco de brilho à nossa existência e enriquecer o nosso espírito.

Um beijo para ti.

G.

oasis dossonhos disse...

Tal como no comment anterior, o porteiro recebe e envia a opinião de outro não-bloguista:

"Obrigado pelo meu grito de revolta!...."
A.C.

oasis dossonhos disse...

Terceiro comentário que o porteiro recebeu e publica:

"Adorei o poema Luís!

Pois é assim, infelizmente este é o país que ainda temos ...... e que se calhar merecemos porque nada fazemos para que a situação se altere. Preferimos sempre olhar para o lado, fazer de conta que não é connosco nem nos afecta ....... esta como tantas outras coisas de todos os dias.

Um beijo"

S. B.

oasis dossonhos disse...

Quarta mensagem recebida:

Amigo

A luta continua.
Obrigado pelo teu poema dedicado a Maria João Pires

Delfim

paula silva disse...

Lamentavelmente o país e o mundo não reconhecem as grandes almas, não as apoiam o suficiente, por se tratar de cultura, de estética, neste caso de música e muito mais... de sensibilidade.
Só se reconhece o material, o visível, quando o mais importante e essencial, não se vê... sente-se!
Bem Hajas Luís por esta "revolta".

Abade.anacleto disse...

Hé desertos de areia, de pedras, de sal. O nosso deserto, o de Portugal é cada vez mais cultural.
Aqueles que são autênticos bastiões da cultura escapam-se para outras paragens mais afáveis. Os que cá ficam é muitas vezes por não poderem "fugir" desta mediocridade galopante da qual este País parece não encontrar uma solução. Como diz o Júlio Machado Vaz, a cultura em Portugal é pouco mais que o futebol, a cultura dos pés". Há que resolver esta inversão antes que o deserto nos domine por completo.

Pete disse...

Tendo em conta o estado para o qual estão a arrastar o país, mais dia menos dia só temos futuro se sairmos do pais.

Um Abraço e bom fim-de-semana,

Pedro Gonçalves.

oasis dossonhos disse...

Lisboa,29 de Julho de 2006

Meu caro Luis Maçarico
Parabéns pela tua elegia à Maria João Pires. É um belissimo poema. E muito bem construído.
Aquele abraço. Manuel Geraldo

oasis dossonhos disse...

Lisboa, 28 de Julho

Parabéns meu amigo só alguém com sensibilidade poetica entende os
desencantos dos artistas, e aí estás tu a fazer juz a esse dom , a arte se
abraça ,com abraços restritos a quem os entende, aí vai o meu abraço para
ti e para a Maria João Pires. bem-hajas pelas tuas palavras.
beijinhos da Rosa Dias

oasis dossonhos disse...

Mensagem recebida no gmail em 29-7-2006:

Graças a Deus que em Portugal há quem ainda tenha sensibilidade e a noção da dignidade e justiça.
Pobre Portugal ! Ouvi ontem o programa na Antena Um com as opiniões dos ouvintes que deram a sua opinião sobre a saída da grande Pianista. Houve, sem dúvida, alguns que sabem o que significa este País perder, por sua culpa, uma MARIA JOÃO PIRES. Mas houve quem disse, sem o mínimo pudor, "essa Maria João Pires o que quer é que falem dela, Esquece~se que temos ainda a Àgata, o Marco Paulo, o Emanuel, o João Pedro Pais". Onde está a noção de cultura dos portugueses que se atrevem, sem corar, fazerem-se ouvir na rádio sem saberem a diferença entre um clássico e a música ligeira e "pimba" Repito; POBRE PORTUGAL!
Não nos apercebemos que os grandes talentos, as grandes capacidades de doação aos nossos jovens no que concerne MÚSICA, LITERATURA, SAÚDE, PINTURA, se vêm obrigados a deixar Portugal para não serem mais injustiçados e poderem "aumentar os seus conhecimentos"- em alguns casos, obviamente - e poderem dar o que de maravilhoso eles sabem e podem transmitir? Já no passado tivemos uma VIEIRA DA SILVA, AMADEO DE SOUZA CARDOSO; hoje, um MANUEL DAMÁSIO, o SARAMAGO - não discuto aqui se se gosta dele pu não, é um escritor que ganhou o Prémio Nobel, e agora MARIA JOÃO PIRES. E tantos, tantos mais que só conseguem ser reconhecidos fora do seu País!!!
Somos um povo analfabeto no respeitante à História, à Saúde, Geografia, Cultura no geral, MAS TEMOS uma bandeira gigantesca formada por não sei quantas mil mulheres aos gritos, uma mesa gigante sobre uma ponte onde se serviram não sei quantas centenas ou milhares de pratos, a Àrvore de Natal mais alta da Europa, o bolo maior de sempre, e agora o cachecol mais comprido do mundo... e tudo isso para quê? Para estarmos no Guinness !
Cultura, Educação, Saúde ... para quê? O Governo não está interessado. E só isso é que dita a nossa conduta.
POBRE PORTUGAL!
Obrigada Luis Filipe Maçarico. Não o conheço mas estou-lhe nfinitamente grata.
Maria de Lourdes Pacheco (kalibai)

gisela cañamero disse...

ver em secret strike em http://cigarranapaisagem.blogspot.com