"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, abril 28, 2005

ESTIGMA


Fui ter hoje a um blogue, em que o fórum de discussão, gerado pelo alegado péssimo atendimento de uma delegação da segurança social, se tornou, como é habitual num país atrasado como o nosso, num auto de fé aos funcionários públicos.
Como sabem, varri ruas e nesse tempo os trabalhadores pegavam ao serviço numa espécie de parada militar, em que ao invés da G3 formavam com vassoura, mas a mentalidade de quem chefiava era de tal modo aberta que os varredores, ou seja aqueles que limpam e lavam a cidade do lixo que os civilizados cidadãos quantas vezes críticos produzem, eram chamados por números.
Para se mudar este hábito e passarmos a ser chamados pelo nome, foi preciso decorrerem mais de dez anos, até políticos com sensibilidade após intensa pressão sindical alterarem uma situação medieval.
Os cidadãos críticos metem tudo no mesmo saco de lixo: funcionário público é parasita e tem de ser abatido. Ou seja, a sementeira dos governos que antecederam o actual, já é colhida em meios de comunicação modernos como este em que escrevo. Pena é que o comportamento dos cidadãos seja atacar, julgando exercer cidadania, os que levam sempre porrada.
Para que conste, eis a mensagem que lá deixei:
" Trabalho num serviço municipal e tal como acontece nos táxis, na varredura de ruas, na polícia,nos barbeiros,nos cafés há bons e maus funcionários. Suponho que não é reduzindo postos de trabalho que as coisas melhoram.Preferem que haja mais gente desempregada, a pensar em como arranjar dinheiro, talvez assaltando-vos ao virar da esquina? Boa maneira de resolverem este problema!!!Suponho que não é sobrecarregando os que trabalham que as coisas melhoram.Substituíndo chefias,sem dúvida!!! Porque será que a lavagem ao cérebro que é feita em todo o lado ataca sempre a populaça e nunca as chefias?Quem não sabe dirigir, coordenar, planear...RUA!Quantas vezes eu quis produzir (sou antropólogo, publiquei vários livros de investigação sobre associativismo) e a chefia de então não me deu meios? Cheguei a deslocar-me ao Norte, à terra natal de um atleta mítico para fazer a biografia desse herói desportivo e tive de ir a minhas expensas, com uma licença do meu serviço em Lisboa, quando estava a trabalhar para o bem público.Paguei do meu bolso transporte, alimentação e estadia. E o gravador era meu, a máquina fotográfica idem. A não ser que haja por aí alguém que considere, como outro director que tive que "ler livros é perder tempo".Meus amigos, vemos de facto aberrações onde devia haver harmonia, arrogância onde era suposto existir eficiência...Mas então se lá fora os portugueses trabalham bem, porque é que isso não acontece aqui?Alguém já pensou que quem trabalha cumpre ordens? Que tem de fazer o que lhe mandam?Até agora devido a trabalhar numa autarquia sem projecto, tive 6 vereadores diferentes na mesma área em 3 anos e meio,3 directores diferentes, 2 chefes de divisão diferentes...e o mais que não digo, mas sei e vocês sabem tanto como eu sei acerca de políticos de 77ª categoria...Mas então porque razão só batem nos mais frágeis?E AS CHEFIAS?E OS RESPONSÁVEIS QUE GANHAM BALÚRDIOS E AJUDAM A APATIA E O CAOS A ENRAIZAR-SE?Porque passamos a vida a criticar na rua, nos transportes, carregando ainda mais o ar com a nossa crítica vã, em vez de actuar eficazmente,questionando quem manda pela desorganização que atinge todos os sectores?Por favor não me falem nos ignorantes que deviam cuspir palavras de fogo em livros de reclamação e não sabem que há essa bela tábua de salvação. Ignorantes somos todos os que em vez de condenar quem causa prejuízo a todos apontamos armas a alvos errados.Ou será que não tenho razão?"
Acrescento que é sempre redutor só ver maus exemplos e não contrapôr com situações positivas. Mas isso faz parte de um fado, que de Norte a Sul está no sangue dos cidadãos críticos: estigmatizar o que está por baixo. Ao grande senhor continua-se a lamber os sapatos.Porque os tem de boa marca e responde sempre, educadamente, com adoráveis sorrisos pepsodent... Posted by Hello

3 comentários:

MonteMaior disse...

Concordo. Concordo mesmo. A 1000%

Unknown disse...

Caro Luis Filipe Maçarico,

Deve ter sido o sentimento corporativo de defesa dos colegas funcionários públicos que levou a que muitos comentários positivos sobre o funcionamento de vários serviços, em diferentes partes do país, não tivessem sido lidos. Ninguém mete os bons funcionários e os maus funcionários no mesmo saco, mas infelizmente os maus exemplos continuam a ser muitos em quantidade e em grau. Daí que muitos dos visitantes do meu blog tenham dado conta das suas próprias experiências que, ao que parece, são mais negativas que positivas.
Concordo com o que foi escrito sob as chefias. É óbvio que as chefias são responsáveis pelo mau funcionamento do serviço, mas será que o espartilho em que o funcionalismo se encontra não ajuda a tornar ineficaz o comportamento dos chefes? O que se pode fazer a um funcionário inepto ou não dedicado? Despedi-lo? Avaliá-lo negativamente? E que impacto teria essa avaliação, se ocorresse?
È claro que a administração pública gasta mais recursos do que o que o país pode suportar e tem sérios problemas de eficiência. A avaliação pode ter um impacto, mas a responsabilização de todos, chefes acima de tudo também pode. Por isso as coisas podem mudar, e os cidadãos pagantes têm de ser o motor da mudança.

Há uma coisa que não ajuda a mudar: o corporativismo e o deslumbramento com o próprio umbigo. Para se melhorar é preciso reconhecer que algo não vai bem, quando isso acontece. E admitir que o mal é só na casa do vizinho é o primeiro passo para que tudo fique na mesma.

isabel mendes ferreira disse...

Querido Luis é preciso conhecer-te para se saber que tens razão.CLARO QUE TENS RAZÃOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO. bEIJO.