"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, julho 03, 2007

Memória de uma Intervenção na Sociedade Filarmónica União e Capricho Olivalense Há Seis Anos


Ao completar 115 anos[1] de sonhos contra a sempre dura realidade, a Sociedade Filarmónica União e Capricho Olivalense deve orgulhar-se de um percurso que se traduz na actualidade por uma postura de grande dignidade, coerência e qualidade.
São grandes homens e mulheres, aqueles que, geralmente, ao fim do dia, asseguram que os sonhos continuem, são grandes mulheres e homens, estes que prosseguem a pegada de grandes glórias (quantas vezes anónimas) para manter vivos: a chama da Música, o ideal da solidariedade, este belíssimo espaço fraternal com mais de um século de grandes feitos.

E que grandeza é esta que, ao chegarmos aqui, faz-nos constatar funcionarem as coisas com a impecabilidade do costume?

É a do voluntariado, do sacrifício, da cordialidade, de um altruísmo, que os governantes das altas esferas não enxergam.

Ao insultuoso alheamento das doutas individualidades, com responsabilidade governativa, a SFUCO mantém-se de pé, com a vitalidade contagiante que se sobrepõe às dificuldades.

Uma casa assim constrói-se com muito suor, determinação e lágrimas.

Não são meras palavras de circunstância, estas, que em nome da Federação Portuguesa das Colectividades de Cultura e Recreio vos trago. Como vós, sou dirigente associativo, presido a um colectivo também centenário, infelizmente com o “musical” apenas no nome, e ainda há poucos meses integrei o vasto esforço organizativo, que pôs de pé o IV Congresso das Colectividades.

Ao longo dos cinco anos que tenho de dirigente da Federação, escutei com grande paciência, a mesma paciência com que vocês rumam contra a corrente, as discursatas dos que asseguram saber o que isto é, mas nada fazem, assim traindo a esperança daqueles que acreditaram que os ventos novos (…) trariam para todos pétalas de alegria.

Que nome dar à ausência de representantes do governo no IV Congresso, onde a SFUCO animou magistralmente a parte final da abertura?
Que nome dar à ausência de apoios que o Estado dito democrático mantém insistentemente? Que nome dar à escassez de colectividades com banda em Lisboa?

Aqueles que me conhecem, espantar-se-ão com a acutilância destas palavras, vindas de alguém que tendo os seus ideais, nunca deixou de estabelecer pontes entre as diferenças, na tolerância, na sensibilidade, no humanismo.
Contudo, cansa verificar que velhas aspirações e apreensões, que em diálogo com os saudosos amigos Jaime e Hélder, tantas vezes constatei, não sofreram até hoje a mudança desejada.

Uma certeza porém, todos sabemos. É que as colectividades continuarão a reinvindicar, entre outros, conforme consta na proclamação aprovada em Loures (…): o Estatuto do Dirigente Associativo Voluntário, uma lei que isente as colectividades do IVA na compra de equipamentos para a sua actividade e a alteração de um quadro legal que não serve os seus interesses, mas pelo contrário, agrava e dificulta a sua acção.

Enquanto houver gente que insiste em abrir as portas ao sonho, contra todas as adversidades, como é o vosso caso, sei que podemos vislumbrar uma cidade mais humanizada e saborear algum aroma dessas prometidas pétalas de alegria.

Enquanto houver pessoas com vontade de honrar quem deu a vida por uma causa tão nobre como a Música, o Teatro, o Desporto, o Convívio, a Paz, sei que a Razão triunfará.

Viva o Associativismo!
Viva a SFUCO!

[1] Esta intervenção, foi proferida por mim, enquanto primeiro secretário da direcção da antecessora da actual Confederação Portuguesa das Colectividades de Cultura, Recreio e Desporto, e decorreu em 24 de Junho de 2001, em Lisboa.

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