"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, abril 04, 2006

A Ilha de Lótus e Calipso










Cheguei ao fim da tarde de ontem, com algum cansaço, mas com a cabeça melhor.
Como Ulisses também me senti preso ao esplendor que Jerba guarda. Tem 29 por 28 km a ilha mágica. Diz-se que as sereias apareceram por aqui no tempo mítico. Supõe-se que os antepassados dos actuais habitantes viviam do lótus.
Penso que estas primeiras imagens partilham a beleza que diariamente bebi.
Na primeira, depois da faina, os barcos "descansam", atracados no cais.
Na segunda e sétima fotografias registei dois momentos do souk libia, um mercado tipo feira de Carcavelos e do Relógio, onde se vende de tudo, das cenouras e nabos à cuequinha ninja, passando pelas especiarias...
Segue-se um vendedor de peixe no mercado de peixe, legumes, chá de menta e harissa, um tempero picante de pimentos vermelhos secos e amassados, misturados com sal e azeite.
Na quarta, quinta e oitava imagens a praça com esplanadas de Houmt-Souk, a capital da ilha, onde em Junho de há dois anos, durante o Euro 2004, os tunisinos torciam pela equipa portuguesa, vendo os jogos numa tela gigante. Esta praça fotografada de noite e de dia, lembra-me sempre Capri e já foi mais bela quando uma buganvília majestosa a coroava. Mas ainda tem uma intensidade humana que merece paragem e olhar atento, sem pressa.
A sexta foto é do "meu" hotel, à noite. A nona é do mesmo edifício de dia. Este espaço terá sido um caravansail, onde segundo reza a lenda as caravanas do deserto paravam, para repousar, ficando cavalos e condutores no rés-do-chão e cavaleiros no primeiro andar.

No entanto, muita coisa tem acontecido, e nem sempre de bom. Os últimos paraísos estão condenados a um progresso estúpido que rebenta com tudo. Como as dunas por exemplo. Está na moda as motas de 4 rodas andarem por todo o lado e devassarem a harmonia, passando quase por cima dos pés de quem está à beira-mar fora das coutadas turísticas. Além de amassarem e transformarem a orla marítima para pior.
Não me parece que gente farta de stress queira ir para um sítio onde o silêncio pode ser quebrado de repente pelas máquinas ameaçadoras que como um bando de abutres se impõem.
No lugar da vegetação selvagem e de praias quase secretas nasceram cerca de 20 km de hotéis uns em cima dos outros, o excesso. Há 16 anos quando ali estive pela primeira vez Jerba era ainda um reduto da vida campesina. Agora as terras vão sendo abandonadas. Em vez dos menzel-habitações tradicionais- assistimos à proliferação das casas tipo maison, dos emigrantes, que também têm azulejos de casa de banho, como em certos sítios da ocidental praia lusitana.
Uma via rápida surgiu onde os rebanhos de cabras pastavam e só os que gostam de ver o pôr do sol entre palmeiras se aventuravam a andar por aquelas veredas.
Há ainda os amigos, o colorido, a algazarra dos dias de mercado, bairros adormecidos, coisas ainda imperturbáveis e incontáveis, que só quem lá for disposto a conhecer poderá perceber.
A minha Jerba é outra, que já existiu. Talvez eu persiga aquele que fui nessa Jerba. Ou Calipso. Ou Ulisses. Ou as sereias. Ou...
(fotos e texto de LFM)

7 comentários:

marialascas disse...

Obrigada pelas fotos que partilhas connosco.
Consigo cheirá-las, sentir a brisa de Djerba, afagar os velhos camelos na hora do descanso...
Mas ainda bem que estás de volta, com a força de Ulisses!... até à hora de nova partida

lost disse...

Que bom ter-te de volta!!!!

As foto estão muito fixinhas! Espero que venhas 'arejado' de espirito...e que partilhes e dividas o teu bem estar connosco!!

jinhos e cinhos.
sempre.

j.c.pereira disse...

...lá como cá.
O que eles não conseguirão nunca é perturbar o nosso desejo de sonhar.De descobrir coisas belas num qualquer recanto deste nossos mundo elouquecido.
Enquanto o sonho comandar a vida, nada nos deterá Amigo.
um abraço
João

Pete disse...

Luís obrigado pela visita.
A questão do progresso é mesmo assim infelizmente, atrpelam a natureza e tudo que se intreponha com o objectivo de evoluir, só que pelo caminho fica tudo quanto era bonito e aprazível.

Um Abraço,

Pedro Gonçalves.

Sonia F. disse...

Regressei apenas há uns dias, e já sinto umas enormes saudades da magia de jerba. Especialmente porque conheci na companhia de um amigo quase tunisino. Bem-vindo!

isabel mendes ferreira disse...

vieste de um "lugar/país" que conheço e gosto mt....e agora sou eu que parto.... e é bom ter-te. sempre!


até logo meu Doce.


muitos beijos.

Margarida Bonvalot disse...

Que bom estares de volta! Apesar de ser um regressos a alguns "infernos"... Mas Jerba não pode durar sempre, até porque, como tu dizes, já não é o que era. E Aljustrel está à tua espera. Até ao fim dos confins do Alentejo.
Beijo.