"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, abril 22, 2006

400-Homenagem à Marcha de Alcântara





As imagens foram captadas pelo telemóvel do Francisco José Ferreira, um carola de primeira água, que há duas décadas dinamiza a marcha de Alcântara, com a esposa, Maria de Lurdes Ferreira, que é uma senhora e o irmão Mário Rui Ferreira. Deve-se a eles que uma colectividade, que festeja por estes dias o seu 156º Aniversário - a Sociedade Filarmónica Alunos Esperança - se mantenha de pé e que a marcha iniciada nos anos 30 continue a ser assegurada pela mesma instituição.
Há alguns meses fui convidado a participar numa reunião preparatória da marcha. Tarde de sábado cinzento. Luís Santos, Ruben Gomes, Susana Santos, com os já referidos Mário Rui, Francisco José, Maria de Lurdes e com a opinião avisada e actuante de João Calvário e Teresa Campos, partilhavam luz, colorido e muito entusiasmo nas suas palavras. Gente de bairro, que ama a sua marcha, que se entrega horas, dias, semanas, meses, anos, a sonhar e a concretizar o tema e toda a envolvência: pesquisa, textos, canções, arcos, figurinos, tecidos, trajes, danças, música, cenografia. Com emoção e inteligência!
É um trabalho exaustivo o destes cidadãos, que reflectem, discutem, decidem o que e como fazer. E fazem sempre com muito carinho, com muita qualidade. São magníficos, sou eu que o digo, cada vez mais parco em elogios, face a um país de comodistas e hipnotizados por futebóis e pelos sucedâneos de telenovelas e big brothers.
Conheci a maior parte deles ali, naquele momento mágico, em que de repente, de um saco saíram tecidos e pinturas espantosas. Depois de escutarmos mestre João Calvário, um homem culto e sábio, que tentava idealizar arcos vistosos, Teresa Campos dissertou acerca da textura das roupas dos marchantes, numa dinâmica feérica.
Desde há alguns anos que colaboro com eles, e agradeço-lhes por serem um dos meus motivos de satisfação enquanto morador de um bairro lisboeta repartido por duas freguesias.
No Verão espero voltar a vê-los no largo onde fui criança e por vezes ainda acredito que o mundo pode ser melhor.
(fotos de Francisco José Ferreira; texto de LFM)

1 comentário:

Manuel Silva disse...

Fico contente, feliz por encontrar nas tuas palavras, uma força de menino, deliciado com as coisas simples, que nós esquecemos, por motivos diversos, de poeira negra que trepa pela conquista do bem-estar.
Encontro e espero poder sempre encontrar, todas as características que dão raciocínio a parte do meu ser e que será sempre lembrado.