"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sexta-feira, novembro 18, 2005

"Aldraba"- Os Primeiros Seis Meses de Um Projecto Partilhado em Torno do Espaço e do Património Popular*





Tendo nascido em 25 de Abril deste ano, no Ateneu Comercial de Lisboa, com a adesão de oitenta cidadãos, a Aldraba é um espaço de convívio e reflexão que tem como objectivo maior a salvaguarda de tudo o que concerne ao espaço e ao património popular, a um artefacto ou à memória do saber fazer.

Nesse sentido, em Junho, estivemos no catálogo do stand do Instituto de Formação Profissional, na FIL Artesanato, com um belíssimo artigo sobre cataventos, da autoria do meteorologista e vice-presidente da direcção, Dr. José Manuel Prista.

No início de Julho, sob o sol tórrido do Alentejo, cinquenta associados e amigos visitaram e interagiram com a realidade sócio-territorial de duas aldeias do Alqueva: aldeia da Luz e aldeia da Estrela.
Confraternizámos com a população da Estrela, que aproveitou a nossa abordagem para apresentar algumas opiniões acerca desta realidade.

No final desse mês, o presidente da Mesa da Assembleia-Geral representou-nos no júri do concurso de pintura sobre o contrabando, em Santana de Cambas, concretizando uma parceria com a autarquia local.

No começo do Outono, apresentámos em Alvaiázere, durante o III Festival do Chícharo, a exposição “Objectos do Quotidiano que Passam Despercebidos”, na sequência de uma primeira exibição em Abril, no Museu República e Resistência - Espaço Grandella, intitulada “Do Espaço à Vivência - Olhar sobre o Património Invisível”, em que eram abordados aldrabas, batentes e cataventos, em suporte fotográfico e multimédia.

No mesmo espaço esteve ainda patente outra exposição, em Outubro, “Momentos de Rua nos Pátios de Lisboa”, através da qual se homenageou Jorge Rua de Carvalho, um lisboeta, homem do fado operário, marceneiro reformado, poeta, associativista, actor amador, fundador da Aldraba, cujos bonecos (mais de 200) expostos evocam as brincadeiras de infância dos anos 20/30 e os pregões da cidade.

A par desta actividade visível, foram já alguns passos na criação de um site na Internet e desde Fevereiro é mantido um blog, que ao longo de uma centena de artigos, obteve, 51% de opiniões de não associados.

Dois grupos de trabalho foram entretanto criados, um para produzir um documentário sobre Jorge Rua de Carvalho e a sua obra e outro, com o estímulo de uma parceria com a Junta de Freguesia de Aljustrel, para homenagear o pedagogo e poeta Adeodato Barreto, cujo centenário do nascimento ocorre no dia 3 de Dezembro.

Este símbolo e expoente da cultura indo-portuguesa, fundou jornais, difundiu o esperanto, auxiliou os desfavorecidos, alfabetizou mineiros e contestou a prepotência, defendendo a conduta ética em política e a justiça social, num tempo em que exercer cidadania tinha conotações subversivas.

Temos trabalhado em colaboração com Kalidás Barreto, filho de Adeodato, e pensamos poder realizar, na primeira metade do próximo ano, uma iniciativa de interacção com a comunidade aljustrelense.

Em seis meses de existência, desenvolvemos um trabalho de sensibilização para um leque diversificado de valores e regiões, do qual nos orgulhamos, prosseguindo agora com este colóquio, que acrescenta a reflexão de cientistas sociais com possibilidade de influenciar alguns centros decisórios, cuja presença agradeço em nome da organização.

Antes de dar a palavra ao painel de convidados, gostaria de deixar um desafio aos anfitriões que nos acolhem neste simpático e emblemático local da cidade - os banhos de São Paulo.
A elegância do design e a simbologia da mão talismânica, difundida ao longo de séculos nas práticas mágico - religiosas dos povos da bacia mediterrânica, presente numa parte substancial de batentes e aldrabas, será que não merece a protecção pelo menos nos centros históricos?
Cabe-vos passar a mensagem aos autarcas e aos estudantes de artes, para redescobrirem nas práticas quotidianas o valor patrimonial destes elementos, concedendo-lhes um novo desempenho na nossa vivência identitária.

*Palavras proferidas pelo presidente da direcção da Aldraba - Associação do Espaço e Património Popular, na abertura do IV Encontro/Colóquio da Aldraba, subordinado à temática das "Aldeias da Água do Alqueva", na Ordem dos Arquitectos, em Lisboa, pelas 18h 45m do dia 17 Novembro de 2005
(fotos de Vanda Oliveira)

3 comentários:

António Caeiro disse...

A vossa visita às chamadas aldeias do Alqueva, neste caso às aldeias da Luz e Estrela, deve ter sido concerteza muito interessante. Conheço a Estrela, uma vez que os meus pais nasceram na Póvoa de S. Miguel, bem perto.
1 abraço e por cá vou aparecer mais vezes.

Conceição Paulino disse...

pelo aqui se lê um projecto mtº interessante. Bom f.s Bjs e;)

isabel mendes ferreira disse...

...."EU É QUE TE ADORO, SEU TONTO...".ENORME AMIGO DE SEMPRE.sempre. SEMPRE. BJO.