"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

terça-feira, dezembro 03, 2019

Exposição de Desenho e Pintura de Mena Brito



No próximo dia 9 de Dezembro, às 19h - e até 29 de Janeiro de 2020, (de segunda a sexta entre as 10 e as 19h, de segunda a sábado) na Biblioteca/ Espaço Cultural Cinema Europa, podem visitar a nova Exposição de desenho e pintura de Mena Brito "Traços ao Entardecer". Na sessão de inauguração será apresentado o livro de poesia de Cristina Pombinho "Intermitências".
A propósito dos trabalhos de Mena Brito, que serão expostos - e tive o gosto de conhecer antes desta mostra, - escrevi o seguinte texto, no passado mês de Agosto:



"Reflectindo acerca do Princípio do Prazer e o Princípio da Realidade Sigmund Freud assinalou que “o fantasiar”, “sob a forma de sonhar acordado”, deve-se ao facto de se desistir “de um prazer momentâneo, de resultados incertos, mas apenas para mais tarde (…) ganhar um prazer assegurado.”

Segundo o fundador da Psicanálise “A arte consegue de modo peculiar uma reconciliação entre os dois princípios.”

Os desígnios da Arte implicam “Uma forte capacidade para a sublimação pois o artista “encontra o caminho de volta à realidade.” Assim, “um verdadeiro artista (…) sabe como trabalhar os seus sonhos (…) de modo a fazê-los perder o que neles há de demasiado pessoal (…) tornando possível que outros partilhem do seu gozo neles (…) O artista ganha então a gratidão e a admiração [dos outros], conseguindo assim (…) honra, poder e admiração.” [1]



A Pintura de Mena Brito protagoniza a incessante procura de formas, onde entre cumes e declives podem resplandecer êxtases.

Quando falamos da Arte de Mena Brito, falamos da Mestria através da qual a Artista percepciona o corpo, tecendo cumplicidades sensuais…

O enlace do silêncio evidencia-se no abraço dos entes que perseguem rastilhos de luz, na sede do desejo…

A dança incessante dos torsos insinua a transcendência, onde se fundem Eros e Tanatos.



Com Mena Brito, a gramática corporal é recentrada - inserindo-se na estética da contemporaneidade, com o traço do desenho herdado dos clássicos, mas também de Mestres, como Lagoa Henriques.

Falamos também da Poesia do Movimento, quando abordamos esta Arte: Músculos, quadris, joelhos, coxas, braços e mãos participam num bailado pueril e erotizante.

As formas trespassam mistérios e claridades, com a energia acutilante da representação simbólica que a tela incarna, pois nela vibra a pele em prodigiosa alquimia.

No atelier, riscos, esboços, linhas, superam o etéreo, alcançando um limiar.

Os anjos rondam o cromatismo, prenunciando a desmaterialização do Corpo Onírico. (Quase) em levitação, atingindo a Liberdade do voo criativo, na plenitude de um renascimento elementar. (Quase) na transparência do Ser.

Em permanente luta com paleta, trinchas, pincel, a mão derrama tintas, desbravando espaços, gerando texturas, metamorfoses, imaginários que o olhar apura.

Aguadas castanhas e azuis disputam a subtileza do equilíbrio entre terra e céu. No interior de outro azul, ocre, intenso, cintila o laborioso afã de percepcionar o Futuro!



Se a Arte torna visível, citando Paul Klee[2] o que nos é dado desfrutar nos trabalhos ora expostos, é uma viagem por caminhos e afectos, sem posse nem perda.

Na travessia da Superação!



Peter Fuller[3] evoca Cézanne sobre o que a experiência da pintura proporciona: “Um abismo em que o olhar se perca, uma germinação secreta (…) Tornamo-nos pintura.”

Deixemo-nos então seduzir e envolver com a qualidade do desenho e da Pintura da talentosa Mena Brito!"


Almada, entre 17-8-2019 e 30-8-2019



Luís Filipe Maçarico


[1] FREUD, Sigmund “Textos essenciais da Psicanálise”, volume II, Publicações Europa - América, 2ª edição, 2001.
[2] PINTO, António Cerveira, “O Lugar da Arte”, Quetzal, Lisboa, 1989, p.68.
[3] FULLER, Peter “Arte e Psicanálise”, D. Quixote, Lisboa, 1983, p. 209.

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