No próximo dia 9 de Dezembro, às 19h - e até 29 de Janeiro de 2020, (de segunda a sexta entre as 10 e as 19h, de segunda a sábado) na Biblioteca/ Espaço Cultural Cinema Europa, podem visitar a nova Exposição de desenho e pintura de Mena Brito "Traços ao Entardecer". Na sessão de inauguração será apresentado o livro de poesia de Cristina Pombinho "Intermitências".
A propósito dos trabalhos de Mena Brito, que serão expostos - e tive o gosto de conhecer antes desta mostra, - escrevi o seguinte texto, no passado mês de Agosto:
"Reflectindo acerca do Princípio do Prazer
e o Princípio da Realidade Sigmund Freud assinalou que “o fantasiar”, “sob a
forma de sonhar acordado”, deve-se ao facto de se desistir “de um prazer
momentâneo, de resultados incertos, mas apenas para mais tarde (…) ganhar um
prazer assegurado.”
Segundo o fundador da Psicanálise “A arte
consegue de modo peculiar uma reconciliação entre os dois princípios.”
Os desígnios da Arte implicam “Uma forte
capacidade para a sublimação pois o artista “encontra o caminho de volta à
realidade.” Assim, “um verdadeiro artista (…) sabe como trabalhar os seus
sonhos (…) de modo a fazê-los perder o que neles há de demasiado pessoal (…)
tornando possível que outros partilhem do seu gozo neles (…) O artista ganha
então a gratidão e a admiração [dos outros], conseguindo assim (…) honra, poder
e admiração.” [1]
A Pintura de Mena Brito protagoniza a
incessante procura de formas, onde entre cumes e declives podem resplandecer
êxtases.
Quando falamos da Arte de Mena Brito, falamos
da Mestria através da qual a Artista percepciona o corpo, tecendo cumplicidades
sensuais…
O enlace do silêncio evidencia-se no
abraço dos entes que perseguem rastilhos de luz, na sede do desejo…
A dança incessante dos torsos insinua a
transcendência, onde se fundem Eros e Tanatos.
Com Mena Brito, a gramática corporal é
recentrada - inserindo-se na estética da contemporaneidade, com o traço do
desenho herdado dos clássicos, mas também de Mestres, como Lagoa Henriques.
Falamos também da Poesia do Movimento,
quando abordamos esta Arte: Músculos, quadris, joelhos, coxas, braços e mãos
participam num bailado pueril e erotizante.
As formas trespassam mistérios e
claridades, com a energia acutilante da representação simbólica que a tela
incarna, pois nela vibra a pele em prodigiosa alquimia.
No atelier, riscos, esboços, linhas,
superam o etéreo, alcançando um limiar.
Os anjos rondam o cromatismo, prenunciando
a desmaterialização do Corpo Onírico. (Quase) em levitação, atingindo a
Liberdade do voo criativo, na plenitude de um renascimento elementar. (Quase)
na transparência do Ser.
Em permanente luta com paleta, trinchas,
pincel, a mão derrama tintas, desbravando espaços, gerando texturas,
metamorfoses, imaginários que o olhar apura.
Aguadas castanhas e azuis disputam a
subtileza do equilíbrio entre terra e céu. No interior de outro azul, ocre,
intenso, cintila o laborioso afã de percepcionar o Futuro!
Se a Arte torna visível, citando Paul Klee[2]
o que nos é dado desfrutar nos trabalhos ora expostos, é uma viagem por
caminhos e afectos, sem posse nem perda.
Na travessia da Superação!
Peter Fuller[3]
evoca Cézanne sobre o que a experiência da pintura proporciona: “Um abismo em
que o olhar se perca, uma germinação secreta (…) Tornamo-nos pintura.”
Deixemo-nos então seduzir e envolver com a
qualidade do desenho e da Pintura da talentosa Mena Brito!"
Almada, entre 17-8-2019 e 30-8-2019
Luís Filipe Maçarico
[1] FREUD, Sigmund “Textos essenciais
da Psicanálise”, volume II, Publicações Europa - América, 2ª edição, 2001.
[2] PINTO, António Cerveira, “O Lugar
da Arte”, Quetzal, Lisboa, 1989, p.68.
[3] FULLER, Peter “Arte e
Psicanálise”, D. Quixote, Lisboa, 1983, p. 209.
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