Não consigo entender por que razão lojas históricas, palácios e espaços verdes têm sido ceifados pela desenfreada gula da especulação, alienados ou concessionados a privados.
Os cabeçalhos gritam: Tapada das Necessidades privatizada! O Palácio dos Machadinhos foi vendido a franceses e o facto passou despercebido.
Um fundo imobiliário americano compra um quarteirão (mais um!) na Baixa de Lisboa e ameaça de despejo inquilinos, repetindo-se o vampirismo que já contaminou vários bairros históricos.
Brasileiros ricaços ( que vieram "investir"?) expulsaram a "Guilhas" do prédio da Avenida D. Carlos onde a popularidade do "Conservatório da Esperança" se consolidou, através do afã de actores inesquecíveis como Raúl Solnado, José Viana, Jacinto Ramos, Glicínia Quartin, Henrique Viana, Luís Castanheira, Luísa Ortigoso e tantos outros.
Rafael Nadal descartou o quarteirão da pastelaria "Suíça" dos seus desidérios empresariais.
É o desrespeito dos negociantes - porque valore$ mais altos se levantam - espezinhando a História dos bairros e das cidades do País.
Capitalismo desenfreado este, com várias origens e o mesmo desígnio: Formatar a velha capital europeia com a febre consumista, tornando-se irmã gémea do vazio e da falta de identidade que grassa pelo mundo.
Pergunto: As autoridades não podem travar esta destruição?
Os lugares da memória que estão a morrer não têm retorno, após a sua extinção.
Ainda bem que sou mortal.
Não suportaria assistir muito mais tempo à violência desta monstruosa agressão ao património identitário.
A massiva estupidificação (à escala global) televisiva não substitui a consciência dos que não se deixam adormecer.
Não é por acaso que constatamos em todo o mundo revoltas (em várias latitudes, do Líbano ao Chile, da Argélia ao Irão, do Iraque à Bolívia, da França ao Egipto) que contudo não são revoluções.
"Conhecer é ficar magoado" escrevi nos anos oitenta do século passado.
Gostava de estar errado.
Luís Filipe Maçarico (texto)
Fotografias: Tapada das Necessidades (Rosário Fernandes) "Histórias para serem contadas" representada na Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul, no final dos anos 70 (autoria desconhecida) Últimas lojas do Rossio (LFM)
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