Brindado com carrocéis e pistas de
carrinhos de choque, que abancavam rotativamente nuns terrenos da Câmara, com
um Tejo de sonho rente à porta, todo o mundo se prostrava aos pés das vedetas
mal aquela brilhante embaixada se abeirava da freguesia.
E como era lindo de se ver aquele pedaço
da capital, cilindrado pelo fascínio do maior espectáculo do universo: o
fabuloso Circo Torralvo!
As crianças bebiam até ao último adjectivo
as palavras da simpática e espampanante apresentadora anunciando as fantásticas
estrelas, espalhando a expectativa dos tambores, com a voz sincopada atordoando
o público faminto de perplexidade.
Alcântara ganhava, então, outra cor com
essa exibição de exotismo que os gaiatos devoravam até ao derradeiro acorde da
pequena orquestra, até ao último projector iluminando o recinto onde palhaços,
contorcionistas, malabaristas, equilibristas, trapezistas, ilusionistas
“internacionalmente aplaudidos” se despediam com seus fatos exuberantes.
Depois, quando a companhia abandonava a
avenida de Ceuta para encantar outras gentes, os putos andavam pelas ruas a
dizer que iam ser artistas de circo.
[1] Maçarico, Luís Filipe. Escrito na
primeira metade da década de oitenta. Menção Honrosa de Conto nos Jogos Florais
86 da Câmara Municipal da Amadora, Tema: “A Festa” e publicado nos Cadernos do
Centro Cultural Roque Gameiro, 1987, pp. 28-29.
Fotografia do autor, quando menino.
Fotografia do autor, quando menino.
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