"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

quinta-feira, novembro 07, 2019

Texto sobre o Circo escrito há mais de 30 anos




O CIRCO[1]



Brindado com carrocéis e pistas de carrinhos de choque, que abancavam rotativamente nuns terrenos da Câmara, com um Tejo de sonho rente à porta, todo o mundo se prostrava aos pés das vedetas mal aquela brilhante embaixada se abeirava da freguesia.

E como era lindo de se ver aquele pedaço da capital, cilindrado pelo fascínio do maior espectáculo do universo: o fabuloso Circo Torralvo!

As crianças bebiam até ao último adjectivo as palavras da simpática e espampanante apresentadora anunciando as fantásticas estrelas, espalhando a expectativa dos tambores, com a voz sincopada atordoando o público faminto de perplexidade.

Alcântara ganhava, então, outra cor com essa exibição de exotismo que os gaiatos devoravam até ao derradeiro acorde da pequena orquestra, até ao último projector iluminando o recinto onde palhaços, contorcionistas, malabaristas, equilibristas, trapezistas, ilusionistas “internacionalmente aplaudidos” se despediam com seus fatos exuberantes.

Depois, quando a companhia abandonava a avenida de Ceuta para encantar outras gentes, os putos andavam pelas ruas a dizer que iam ser artistas de circo.



[1] Maçarico, Luís Filipe. Escrito na primeira metade da década de oitenta. Menção Honrosa de Conto nos Jogos Florais 86 da Câmara Municipal da Amadora, Tema: “A Festa” e publicado nos Cadernos do Centro Cultural Roque Gameiro, 1987, pp. 28-29. 

Fotografia do autor, quando menino.

Sem comentários: