"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

domingo, agosto 07, 2016

Poema de Romão Moita Mariano: "A MALHAR EM FERRO QUENTE"



“A Malhar em Ferro Quente”

Meu avô era ferreiro,
O meu pai ferreiro foi,
Não há dois sem um terceiro,
Fui sem o querer e isso dói.

Na forja queimei os olhos,
Dos martelos fiquei mouco,
A vida é cheia de escolhos,
Quem pensa o contrário é louco.

Toda a vida eu lutei,
Venci dias adversos,
Milhares de ferros trabalhei
Descansei  fazendo versos.

Trabalhar honradamente
Não enriquece ninguém,
Mas dá orgulho à gente,
O que é riqueza também.

Eu não sei a sensação
Que dá uma mão sem calos,
Pois quando aperto essa mão,
Sinto os meus a superá-los.

Estou tão habituado
A vestir “fato macaco”,
Que fico um pouco acanhado
Sempre que visto outro fato.

No verão, lidar com a forja,
É muito duro,  eu sei bem.
Pior é lidar com a corja
Que esta sociedade tem.

O vulgo, o artista esquece
Nesta vida é posto à margem,
Mas quando desaparece,
Aparece a homenagem.

A malhar em ferro quente
Dezenas d’anos a fio,
Constatei que há muita gente
Que só malha em ferro frio.


Romão Moita Mariano – 1989 pág.13/14, In “A Malhar em Ferro Quente” 

Agradecimentos a Madalena Borralho.

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