“A Malhar em Ferro Quente”
Meu avô era ferreiro,
O meu pai ferreiro foi,
Não há dois sem um terceiro,
Fui sem o querer e isso dói.
Na forja queimei os olhos,
Dos martelos fiquei mouco,
A vida é cheia de escolhos,
Quem pensa o contrário é louco.
Toda a vida eu lutei,
Venci dias adversos,
Milhares de ferros trabalhei
Descansei
fazendo versos.
Trabalhar honradamente
Não enriquece ninguém,
Mas dá orgulho à gente,
O que é riqueza também.
Eu não sei a sensação
Que dá uma mão sem calos,
Pois quando aperto essa mão,
Sinto os meus a superá-los.
Estou tão habituado
A vestir “fato macaco”,
Que fico um pouco acanhado
Sempre que visto outro fato.
No verão, lidar com a forja,
É muito duro, eu sei bem.
Pior é lidar com a corja
Que esta sociedade tem.
O vulgo, o artista esquece
Nesta vida é posto à margem,
Mas quando desaparece,
Aparece a homenagem.
A malhar em ferro quente
Dezenas d’anos a fio,
Constatei que há muita gente
Que só malha em ferro frio.
Romão Moita Mariano – 1989 pág.13/14, In “A Malhar em Ferro Quente”
Agradecimentos a Madalena Borralho.
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