A sequência narrativa do Museu do Aljube, terá sido criada, a partir de uma Comissão Instaladora, constituída por nomes como Domingos Abrantes e Fernando Rosas, existindo um Conselho Consultivo, com vários nomes, de onde destaco António Borges Coelho, Cláudio Torres, José Manuel Tengarrinha e Ruben de Carvalho, URAP, etc.
A Fundação Mário Soares, o Museu da República e Maçonaria de Pedrógão Grande, o Centro de Documentação sobre o 25 de Abril da Universidade de Coimbra, a RTP, terão sido algumas das fontes documentais, além dos inúmeros jornais e boletins da Resistência, referidos no espaço destinado à Imprensa Clandestina.
Trata-se (a par da Exposição Permanente da Fortaleza de Peniche) de um lugar de memórias dolorosas.
Não raro, como ontem, entre os visitantes, encontramos pessoas como a Ana Lucília, que recordou que aos 12 anos ali foi visitar o pai, mineiro de Aljustrel.
Alice Guerreiro, viúva de João Honrado, contou-me que a mãe de João, com diabetes altos veio de Beja a Lisboa visitar o filho ao Aljube e que a visita foi proibida.
Domingos Abrantes, segundo a guia e responsável pelo serviço educativo, Judite Álvares, durante uma visita de crianças do 1º ciclo, foi convidado a contar o que acontecia naquela prisão. No final uma menina ficou incrédula, questionando: "Mas isso é mesmo verdade?"
A mesma Alice Guerreiro, há dias, em Beja, teve de lembrar a uns vizinhos, num café, que a vida no tempo de Salazar não era tão boa como eles a estavam pintando, pois foi trabalhar aos sete anos e aos 15 teve de emigrar para a Bélgica.
Importante no Museu a dolorosa alusão aos "Bons Costumes", evocando a morte de Militão Ribeiro, os tarrafais, a Pide, a tortura. E a sede da Pide, tornada condomínio de luxo, evaporou-se, restando imagens filmadas, fotografias, o sofrimento marcado pelos depoimentos pelos então jovens, como José Pedro Soares e Aurora Rodrigues ou Maria Custódia Chibante.
O painel com centenas senão milhares de fotos tipo passe dos prisioneiros é impressionante e um grande momento da visita, tal como a evocação dos perseguidos pelo colonialismo.
O bilinguismo, útil para visitantes estrangeiros, nem sempre está presente. E tive de me agachar para ler um documento de Maria Lamas, pois o criador insistiu em colocar informação ao nível dos joelhos do visitante e falta iluminação adequada para a cronologia, da criação à extinção da PIDE. Um banco para os mais pequenos (adultos de baixa estatura e crianças) permitiria por exemplo a visualização, através do postigo, de um dos "curros", como os fascistas chamavam às celas.
A apoteose dos cravos e da libertação está bastante bem conseguida. Respira-se finalmente alegria, após um percurso penoso, pela viagem à História recente mas também pelo calor que em dias estivais se sente.
Nota positiva aos funcionários do Museu, pelo acompanhamento profissional dos visitantes.
Referência também feliz à exposição fotográfica sobre a Resistência e a Liberdade no Porto, da autoria de Sérgio Valente ("Um Fotógrafo na Revolução), patente até meados de Outubro.
Texto e fotografias de Luís Filipe Maçarico
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