"Um Barco atracado ao cais é sempre um sonho preso"

sábado, dezembro 06, 2014

POBREZA MENTAL



 

Sintoma de um Portugal rançoso, em que a estupidez se insinua, no contacto e nos gestos, a todo o momento, somos interpelados, na Rua das Portas de Santo Antão, entre a Casa do Alentejo e o Palácio da Independência.
Indivíduos, por vezes boçais e de aspecto chungoso, tentam aliciar quem passa, para almoçar, neste ou naquele tascório.
Lembram os seus pares, bem menos agressivos e com melhor farpela, no Cais de Cacilhas, recomendando caldeiradas e petiscos imperdíveis.
Fantasmáticos, parecem saídos da defunta Feira Popular, onde também havia gente assim, pegajosa.
Dir-me-ão: É uma forma de terem um emprego…
Calar-me-ia, se estes angariadores de clientela entre os passantes, não efectuassem uma abordagem despropositada, excessiva, inconveniente e até insultuosa, caso a pessoa se recuse a seguir o conselho. E aqui é que “a porca torce o rabo”…
Apetece dizer a esses promotores falhados: Eu tenho olhos, sei que o seu restaurante tem menú à porta e também sei ler. Só que não tenho vontade de comer, e muito menos vou ter, com a sua voz a incomodar-me os tímpanos…
Porque se insiste neste postal horrível, do tempo da ciganita Dora que lia a sina e do comboio do terror, no Luna - Parque, de Entrecampos?
Há lembranças do passado que me causam náusea. Esta é uma delas, pela subserviência dos pregoeiros de um tascório e pelo desespero de varejeira que extravasam. É sinal de uma pobreza mental de onde afinal, não obstante todas as modernidades e evoluções propaladas, nunca saímos…

Luís Filipe Maçarico (texto e fotografia)


1 comentário:

Elvira Carvalho disse...

Tem razão, Luis. Graças por que não vou para esses lados e que eu saiba a moda ainda não chegou ao Barreiro.
Um abraço e uma boa semana