Completam-se
agora dois anos sobre a minha primeira participação nas Jornadas de Cultura
Popular, graças à Professora Laurinda Figueiras e ao senhor Nicolau Veríssimo,
amigos dilectos a quem agradeço a excelência dos momentos que tenho vivido no
Minho desde então.
O
facto de ser, como eles, Associativista, ter formação em Antropologia e ser
Poeta, proporcionou o encontro com a obra de José Figueiras e o seu percurso de
homem empenhado na preservação da Tradição, dos costumes, práticas e rituais,
como na salvaguarda da memória, da oralidade, do património e da identidade. O
fascínio que sentimos, pela grandeza do seu testemunho, está patente naquilo
que escrevemos neste livro tão desejado. Hoje, José Figueiras renasce, para
celebrarmos o merecido destaque do Poeta da Alma de Viana.
Inicialmente,
o projecto revisitava o Cidadão, o Etnógrafo, o Associativista, o Poeta, o seu
Legado, as Evocações e as Omissões. Todavia, a revelação de uma substancial
produção poética fez-nos optar por este primeiro volume, em que damos a
conhecer o Lírico. O retrato completo, esperemos que assim possa acontecer, sem
impasses nem contratempos, concretizar-se-á no próximo ano, havendo ainda muito
trabalho pela frente. A pesquisa, contudo, vai avançada…
Realizámos
entrevistas a familiares, vizinhos, amigos, admiradores. Recolhemos inúmeros
artigos, em diversos periódicos locais. Da Biblioteca Municipal à redacção do “Notícias
de Viana”, o espólio inventariado, à espera de análise é riquíssimo. Com a
preciosa colaboração das netas Carolina e Sofia, o magnífico entusiasmo de
Nicolau Veríssimo, a lembrança luminosa do filho Henrique, cuja concertina nos
transporta até à raiz do ser, com o sangue dos Figueiras no ADN e a espantosa
energia e tranquila sabedoria de Laurinda, a quem todos devemos esta
maravilhosa prenda para a cultura minhota, no centenário do nascimento de um
excepcional José, de coração grande e sonhos intemporais.
Entre
Lisboa e algumas férias em Viana, por email e telefone, corrigiram-se imprecisões,
superaram-se lacunas, acrescentaram-se dados e o livro foi ganhando corpo.
No meu
olhar sobre os versos do Fundador da Ronda Típica da Meadela, além do som das sílabas,
na excelente declamação de Júlio Couto e dos ecos do mágico espectáculo dos 50
Anos do Grupo no Teatro Sá de Miranda, está subjacente a observação - participante,
fruindo a mística e inspiradora Serra de Arga, o São Silvestre de Cardielos, o
mar visto do Carreço, ao crepúsculo, Santa Luzia, o Solar das Werneck, os
objectos, o espaço sagrado da casa e o jardinzinho onde pairam recordações do
notável vianense, que eu gostava de ter conhecido.
Assisti
a ensaios da Ronda, acompanhei-os no Natal, de rua em rua e na Basílica da
estrela, vi o túmulo do nosso homenageado, com emoção, por saber que o seu
fôlego levou bem longe o nome de Viana, ajudando a formar cidadãos, no amor
pelas origens.
A
essência de Figueiras, a cintilação do seu estro, cativou-me, para ser veículo
do fecundo desidério de Laurinda, que pegou com sensibilidade e inteligência -
e perdoem-me a indiscrição - no texto, efectivamente escrito a duas mãos, onde
abordamos a biografia do Mestre, sendo a arte final uma terna aproximação à vida
do Homem e à viagem do Artista.
Em vão
procurei, nesta mesma Biblioteca, onde avultam os nomes de Pedro Homem de Melo
e António Couto Viana, a cintilação do talento de Figueiras, os quais, apesar
de conhecedores do prodigioso semeador, porventura o desconheciam, naquilo em
que ele mais se irmanava a estes autores.
Chegou
a hora de fazer justiça e retirar do esquecimento, esta faceta brilhante desse
sublime Romeiro do Cosmos, do cidadão marcante, habitado pelo espírito crítico,
dramaturgo, etnógrafo, vate, homem livre, co-organizador da mais bela
imaterialidade, que são as romarias desta região, que os contextos poético -
sócio - culturais e a própria discrição pessoal não permitiram evidenciar.
Honremo-lo,
para lá do nome de rua e da digna condecoração, naquilo que mais nobre tem a
memória - através das páginas de um livro, onde a vida respira, onde eterno
revive o Herói, na voz da terra que é a música dos corpos em festa.
E que
assim seja, “Por Feitiço, Por Magia!”
Viana
do Castelo, 19-5-2012
Luís
Filipe Maçarico
2 comentários:
Assim seja
Abraço amigo
Brigada Luis por esta viagem deliciosa. Beijo
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